Policial que matou irmã com tiro acidental pode ser exonerado
Procedimento é protocolar, principalmente em casos de agentes em estágio probatório
Do G1
A Polícia Civil do Estado de São Paulo instaurou um processo administrativo para avaliar a possível exoneração de cargo do policial civil que matou a irmã, Maria Vitória Carmello, de 18 anos, com um tiro acidental, no último dia 16, em Botucatu (SP).
Segundo o delegado responsável pelo caso, Loureço Talamonte, esse procedimento é protocolo da corporação, principalmente em casos de agentes em estágio probatório, como o de Leonardo Matheus Carmello, de 28 anos.
Conforme explicou o delegado, Leonardo começou o estágio em janeiro deste ano e deveria concluí-lo em três anos. Para isso, não poderia cometer infrações graves, tanto no âmbito profissional quanto no âmbito pessoal.
Ao contrário do que se esperava, o policial civil limpou, junto com parentes da vítima, o sangue que atingiu uma das paredes da cozinha onde ocorreu o disparo acidental. Este fato deve ser incluído, segundo o delegado, na investigação para conclusão do processo administrativo.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou, em nota enviada na quinta-feira (23), que instaurou o procedimento e que vai apurar a conduta do policial. O processo será concluído paralelamente ao inquérito policial.
Procurada na quinta-feira, a defesa do policial civil informou que não soube da instauração do procedimento disciplinar até o momento.
Maria Vitória morreu depois de ser atingida no pescoço pelo tiro da arma de fogo, disparado pelo irmão. Segundo o boletim de ocorrência, o disparo ocorreu enquanto Leonardo manuseava a pistola perto da irmã (relembre o caso abaixo).
Porte de arma
Leonardo afirmou em interrogatório à Polícia Civil que nunca havia manuseado a arma envolvida no acidente.
O policial civil, que teve o porte de arma suspenso após o ocorrido, contou à polícia que havia comprado a pistola Glock 9 mm apenas duas semanas antes e decidiu manuseá-la durante um churrasco em família, no dia 16 de junho.
Segundo ele disse à polícia, como era a primeira vez que manuseava a arma, a ideia era enviar o vídeo ao seu professor de armamento e tiro da Academia de Polícia Civil.
Leonardo contou que retirou o carregador, mas afirmou “não se lembrar” se verificou a existência de uma bala na câmara. Como esse tipo de pistola exige o acionamento do primeiro estágio do gatilho para desmonte da arma, ele acredita que nesse momento houve o disparo que atingiu a irmã.
Segundo o delegado Lourenço Talamonte, esse tipo de pistola possui o “cão” (peça que faz o disparo) embutido e, por isso, exige muita experiência para seu manuseio.
“Por ser uma Glock, com o cão embutido, é [uma arma] mais perigosa ainda, é preciso ter experiência para manusear esse tipo de arma, jamais na frente de uma pessoa. Há regras específicas de segurança, e ele [Leonardo] não observou”, disse Talamonte.
Sob efeito de álcool
No interrogatório, o policial civil ainda admitiu que estava sob efeito de bebida alcoólica no momento do disparo. Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) também já havia indicado a ingestão de álcool.
Por causa disso, o delegado afirmou que Leonardo está sendo investigado por homicídio doloso (dolo eventual), mesmo que o disparo tenha sido acidental, já que ele assumiu o risco de mexer em uma arma perto da irmã.
O autor do disparo foi preso em flagrante, mas solto no dia 17, após passar por audiência de custódia para responder em liberdade. Na sentença, a Justiça determinou a suspensão do porte de arma e a comunicação do fato à Corregedoria de Polícia Civil.
Ao g1, a defesa de Leonardo afirmou que a concessão da liberdade provisória ao jovem indica que não houve “intenção nenhuma de criar essa fatalidade, inclusive com a irmã, que era muito querida por ele”.