Brasil possui, se comparado a todos os outros países, o maior número de pessoas ansiosas
Da Redação
Você se assusta ao ver uma barata ou cobra, sente frio na barriga ao estar em ambientes com altura elevada, fica desconfortável ao falar em público? Seria fobia ou medo? Qual é a causa? Tem tratamento? Será que é consequência da ansiedade?
A psicóloga Sueli Cominetti Corrêa explica que primeiramente é importante entender que todas as pessoas vivenciam ansiedades e medos, e que toda situação nova provoca reações em nós. Ter noção do que estas reações são é importante para buscar ajuda quando necessário.
ANSIEDADE
A especialista afirma que continuamente vivemos em nossa sociedade situações diferentes, novas e até desafiadoras, que não sabemos que forma terão. Nossa rotina é recheada de novidades, notícias e mudanças – tudo pode acontecer, então, é natural que sintamos mais ansiedade.
“A ansiedade é uma reação psicofisiológica, ou seja, uma reação física e emocional. A sensação da pessoa é de apreensão e inquietação. Pode ser despertada por inúmeros motivos que são interpretados por nós como preocupação, angústia, sensação de alerta, mas não é gerada por um perigo concreto e evidente que se apresenta para a pessoa — não tem algo presente naquele momento que a pessoa consiga dizer que foi o disparador daquelas sensações”.
Compreendidas e vivenciadas as mudanças, a ansiedade despertada diminui e ficamos bem, tendo momentos de tranquilidade e bem-estar. O nível de autoestima e de confiança em nós mesmos, o nível de autocrítica que desenvolvemos, interferem na forma como entendemos as situações e fatos.
A psicóloga também explica que algumas ocorrências rotineiras podem ser vistas como mais ameaçadoras do que de fato são, e a pessoa não sai do quadro de ansiedade. Quando a ansiedade não passa e/ou é excessiva, podemos pensar num quadro de transtorno de ansiedade. São os quadros patológicos.
“Quadros de ansiedade generalizada, por exemplo, são aqueles que persistem por seis meses ou mais e têm como sintomas insônia, dificuldades em relaxar, angústia constante, irritabilidade, dificuldade em concentrar-se… O diagnóstico deve ser feito por profissional da área que vai analisar os sintomas, a intensidade e persistência do quadro”.
Segundo a psicóloga, autoconhecimento e fortalecimento da autoestima, frutos de psicoterapia, ajudam no enfrentamento e superação destes quadros. Em determinadas situações, o psiquiatra poderá atuar de forma medicamentosa. Muitos dos transtornos de ansiedade se desenvolvem na infância e tendem a persistir quando não tratados.
Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que o Brasil possui, se comparado a todos os outros países do mundo, o maior número de pessoas ansiosas. São 18,6 milhões de brasileiros que sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade.
MEDO
Sueli explica que o medo é uma resposta emocional localizada, ou seja, despertada por uma ameaça percebida como iminente e real. Numa situação de incêndio, por exemplo, a reação natural é de medo de se queimar — há perigo real na situação.
“Em muitas situações a ansiedade e o medo se sobrepõem, mas o medo é mais facilmente identificado: a pessoa tem clareza de qual é a situação geradora e as reações e mobilizações corporais, como aumento da tensão muscular e batimentos cardíacos; concentração de força e vigilância ocorrem na direção de preparo para possível luta ou fuga”, esclarece.
FOBIA
Já a fobia é um medo desproporcional frente a algo ou situação — é um medo fora da proporção real de risco. Um temor canalizado, excessivo e não-transitório. É chamado popularmente de medo irracional pois o especificador (aquilo do qual a pessoa tem fobia) não traz, necessariamente, nenhum perigo iminente para a pessoa.
O medo de barata é um exemplo de uma fobia específica. As pessoas fóbicas evitam ao máximo o contato com o objeto de seu temor, se esquivam ao máximo, mas quando não conseguem, sentem medo e ansiedade extremos.
“Por exemplo, hoje em dia se fala muito da fobia social, que é o temor em relação a interações e situações sociais nas quais a pessoa sente que poderia ser ‘avaliada’ – e em sua concepção, negativamente”.
Outro exemplo é a agorafobia, que é aquela na qual a pessoa sente-se apreensiva e ansiosa acerca de duas ou mais das seguintes situações: usar transporte público; estar em espaços abertos; estar em lugares fechados; ficar em uma fila ou estar no meio de uma multidão; ou estar fora de casa sozinho em outras situações. O indivíduo teme essas situações devido aos pensamentos de que pode ser difícil escapar ou de que pode não haver auxílio disponível caso desenvolva sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores, conforme descreve o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, na sua 5ª versão (DSM — V).
Sueli destaca que, quando não tratada, a fobia afeta diretamente a rotina e as relações do paciente, gerando sofrimento e/ou limitações em várias formas de convivência.
“Muitas fobias estão associadas a eventos traumáticos vivenciados pela pessoa, ou por ter observado alguém viver situação traumática. Também podem se desenvolver pela pessoa ter tido uma crise de ansiedade ou pânico num determinado contexto ou próximo a um objeto e nele, canalizar seus temores e ansiedades”, acrescenta.
Coberturas excessivas da mídia sobre situações catastróficas também podem servir como disparadoras, mas o fato é que as pessoas que têm fobia muitas vezes não sabem explicar a origem de seus temores.
O medo ou ansiedade expressos variam muito dependendo da ocasião ou contexto, por exemplo, a presença de uma pessoa de confiança no enfrentamento, o tempo de exposição ao elemento ameaçador podem atenuar ou agravar os quadros experimentados.
Além disso, as questões sociais e culturais também interferem no desenvolvimento destas canalizações. Uma sociedade violenta favorece o aparecimento de medos específicos, como o medo do escuro, por exemplo. É importante lembrar que as pessoas sentem sofrimento legítimo e merecem respeito, apoio e os devidos encaminhamentos.
“Os medos e fobias devem ser diagnosticados por profissionais experientes e é importante apoio para que a causa correta de tais reações seja identificada. O tratamento pode envolver terapia, ou terapia com uso combinado a medicamentos, em determinados casos. O importante é que o paciente entenda seus limites, buscando ajuda quando isso começa a atrapalhar sua vida no aspecto emocional, social e/ou profissional”, finaliza Sueli.