Polícia investiga denúncia de trabalho análogo à escravidão
Grupo saiu de Viçosa, em Alagoas, com destino a Bauru
Da Redação
A Polícia Civil de São Manuel investiga denúncia de trabalho análogo à escravidão feita por um grupo de homens vindos do Nordeste. O caso foi denunciado em 17 de março, com as apurações das autoridades ocorrendo dias antes em um imóvel localizado na Rua Benjamim Figueiredo, no Jardim Continental de São Manuel.
Segundo boletim de ocorrência, sete homens com idades de 15 a 34 anos, originários de Alagoas, Pernambuco, Bahia e Sergipe, receberam uma porposta de trabalho com o cultivo de soja em Bauru, a qual receberiam R$ 3 mil mensais cada, além de carteira assinada, cesta básica e vale-alimentação.
O grupo vítima do trabalho análogo à escravidão saiu de Viçosa, Alagoas, em 7 de março e dois dias depois chegou a Bauru. Antes de chegar à rodoviária, o motorista do ônibus parou em um posto de combustíveis e disse que compraria algo para comer. Após 45 minutos chegou uma van e um homem informou que os planos haviam mudado e que o trabalho seria em uma propriedade em São Manuel, distante quase 90 quilômetros do destino original.

Ao chegar no alojamento o grupo se deparou com uma casa com diversos cômodos e já estavam outros homens. No local tinha como alimentação biscoito, abacate, sal e água. Nas camas não havia colchões para todos dormirem. Não havia botijão de gás, que acabou comprando o insumo após reclamação dos demais alojados na casa.
As vítimas relataram que entraram em contato com o representante do contratante, a fim de reclamar sobre as condições do alojamento e questionando quanto ao trabalho e registro em carteira. Também pediram adiantamento de R$ 400 para custeio das despesas. Por fim, o responsável pela contratação pagou R$ 100 cada.
Em 8 de março seguinte o representante do contratante foi até o local para conversar com os funcionários explicando que eles iriam ser registrados, não mencionando em momento algum sobre o salário e nem quando iriam começar a trabalhar, pois antes seriam marcados alguns exames médicos. Informam que não trabalharam nenhum dia pois estavam aguardando o agendamento dos exames pelo contratante.
No dia 13 de março o mesmo representante foi até o alojamento pegar os documentos do grupo, mas os trabalhadores decidiram não entrar os papéis a ele, por ouvirem de outros homens que havia a prática de confiscar os documentos. O motorista que levou o grupo compareceu até a casa e sob ameaça, determinou que os trabalhadores agilizassem a entrega dos documentos pessoais. Disse que, “se não apresentassem os documentos, eles não trabalhariam mais e também não sairiam dali”.
Já no dia 14, o representante do contratante voltou até o alojamento questionando os homens sobre a entrega dos documentos e o porquê não foram realizar os exames. Os trabalhadores alegaram que tinham conseguido outro trabalho e que não ficariam mais no local. Nisso, o representante os ameaçou dizendo que os trabalhadores tinham uma dívida a pagar com ele e os expulsou da casa.
Alguns membros do grupo munidos de vídeos que mostram as condições da casa e as ameaças, procuraram a Polícia Civil para queixa. O caso de trabalho análogo à escravidão está sob investigação e os contratantes do grupo foram convocados para esclarecimentos.