Leite materno e vacinação protegem cérebro e aumentam imunidade em bebês prematuros

Causas do parto prematuro vão desde infecções a cuidados durante a gravidez

Da Agência USP

O parto prematuro é a principal causa global da mortalidade infantil antes dos 5 anos de idade. Segundo o Ministério da Saúde, a cada dez minutos, seis bebês nascem prematuramente no Brasil, que ocupa a 10ª posição do ranking mundial dos países com mais nascimentos prematuros. Um parto é considerado prematuro quando o nascimento ocorre antes da 37ª semana de gravidez.

As causas do parto prematuro podem ser várias e vão desde infecções a cuidados durante a gravidez. Existe, também, uma condição que vai da própria educação, tanto em termos globais da população quanto na educação médica e obstetrícia. “Essa condição está relacionada também à formação das pessoas e também dos médicos”, diz Werther Brunow de Carvalho, coordenador das UTIs pediátricas e neonatais do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Carvalho salienta que programas baseados na comunidade têm sido utilizados com sucesso para prevenir e alertar sobre o parto prematuro, além de acompanhar e cuidar após o nascimento. “Nós precisamos implementar mais esses programas, porque eles têm impacto principalmente nas populações que não têm muito acesso a informações”, complementa o coordenador.

Infecções

“A infecção tem uma implicação muito grande em relação à lesão da substância branca do recém-nascido, que é onde nós temos mais lesões que acometem neurologicamente essa criança”, explica o médico. O obstetra tem, então, um papel fundamental nesse processo: é papel do profissional monitorar essas implicações e dar atenção individualizada para essas crianças. O acompanhamento gestacional é importante para evitar o parto. “Um obstetra pode detectar [os riscos] nas consultas obstétricas”, diz.

O retardo do crescimento intrauterino, que pode ser monitorado por um obstetra e leva ao nascimento prematuro, também é associado a um risco muito grande de óbito, paralisia cerebral e atraso do neurodesenvolvimento dessas crianças.  Esse retardo é devido à falta de oxigênio crônico antes e durante o parto. “O obstetra tem um papel fundamental para o diagnóstico precoce de várias causas do parto prematuro”, diz Carvalho. Uma das maiores preocupações são os pré-termos abaixo de 1 kg e, hoje, até mesmo 500 g. Além disso, nascimentos com 24 e 25 semanas são um alerta por conta da proteção cerebral. “Não é só proteção cerebral, é a otimização orgânica, cerebral e pulmonar, para que essa criança possa sobreviver”, ele explica.

Acompanhamento

Passando essa fase pós-natal da alta, tem-se consequências a longo prazo. É preciso ter um acompanhamento de uma equipe multiprofissional – como terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e fonoaudiólogo – para essas crianças. Carvalho lembra que nem sempre essas crianças recebem o acompanhamento necessário e que isso “depende, também, da faixa de idade da criança”.

“No início, ele (bebê) vai ser acompanhado por um neonatologista ou pediatra, que tem um entendimento sobre cuidado neonatal e desenvolvimento da criança, e uma enfermeira com [experiência] no desenvolvimento da criança”. Essa equipe é necessária para a evolução do tempo da criança, junto a psicologistas clínico e educacional e neuropediatras. “O mais importante são os pais. Eu acho que nós não temos uma união dos pais, e [é importante] que eles entendam a necessidade do acompanhamento dessa evolução. Eles também vão precisar de muita orientação para essa rotina”, complementa.

Outro ponto ressaltado pelo médico é a importância da amamentação, já que o leite materno protege os prematuros da substância branca cerebral.  “O leite materno tem componentes que protegem e tem um potencial de restauração cerebral”, explica o médico. “É uma campanha contínua do nosso pediatra, em relação não só ao prematuro, mas também a todas as crianças”, diz Carvalho. Esses bebês têm também um problema muito grande de imunidade e um risco particularmente aumentado de doenças infecciosas. Os calendários de vacinação ajudam nisso: 70% dos casos de rotavírus relacionados à hospitalização dessas crianças são evitados com a vacinação. “A vacina sempre é um contínuo em termos de acompanhamento médico dessas crianças”, diz o médico.

Além do rotavírus, as infecções por hepatite e por BCG também podem ser evitadas. “Temos que fazer o BCG. Ela reduz o risco de tuberculose, chegando a uma redução de 80%. Quando se faz o BCG nessas crianças, então a proteção é longa”, complementa. “O nosso recém-nascido prematuro merece toda essa atenção e todo esse acompanhamento, para ter o melhor desenvolvimento e uma participação na nossa sociedade no futuro”, finaliza Carvalho.

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