Após vários anos de trabalho e ciclos de seleção, o programa selecionou três genótipos
Da Redação
Em cerimônia realizada no dia 08 de maio, na Fazenda Experimental Lageado, com a presença do professor Pasqual Barretti, reitor da Unesp, o Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat) promoveu o lançamento oficial de três cultivares de batata-doce, que são as primeiras cultivares desenvolvidas totalmente com tecnologia da Unesp, com apoio da Fapesp e da Agência Unesp de Inovação (AUIN).
Denominados “Unesp Maria Eduarda”, “Unesp Maria Isabel” e “Unesp Maria Rita”, as três cultivares são resultantes de um programa de melhoramento genético realizado com o objetivo de obter cultivares de batata-doce com seus valores nutricionais aumentados (biofortificados) com betacaroteno. Considerado um precursor da vitamina A, o betacaroteno quando ingerido tem a capacidade de ser transformado nessa vitamina na mucosa intestinal, para depois desempenhar suas funções no organismo.
Em apresentação feita durante a cerimônia, o professor Pablo Forlan Vargas, da Faculdade de Ciências Agrárias da Unesp, câmpus de Registro, e integrante da equipe de desenvolvedores das cultivares, explicou que a motivação da pesquisa foi a significativa ocorrência no Vale do Ribeira de hipovitaminose A, uma condição relacionada a baixos níveis ou falta total de vitamina A no organismo. Esse problema de saúde pública que pode levar a uma série de doenças e afeta negativamente o sistema imunológico das crianças e pode provocar déficit de crescimento e baixo desempenho cognitivo.
Após vários anos de trabalho e ciclos de seleção, o programa selecionou três genótipos com boas características agronômicas aliadas aos desejados altos teores de betacaroteno, o que lhes confere polpas de coloração alaranjada. Batizadas com os nomes de três pesquisadoras que colaboraram no processo de seu desenvolvimento, as cultivares são: Unesp Maria Eduarda, cultivar de pele amarela e formato de raiz oval, com capacidade produtiva estimada de até 45 toneladas por hectare, produzida em ciclo de 110 dias no verão e capacidade de atender o mercado industrial; Unesp Maria Isabel é uma cultivar de pele roxa clara e formato de raiz oboval (ápice mais largo que a base) e capacidade produtiva estimada em 39 toneladas por hectare e Unesp Maria Rita, cultivar de pele amarela e formato de raiz oval e capacidade produtiva de até 40 toneladas por hectare. As duas últimas cultivares têm ciclos de 120 dias quando produzidas no verão.
Em sua apresentação, o professor Vargas contou que os materiais genéticos já foram apresentados a moradores do Quilombo Peropava, no município de Registro, e a produtores rurais do município de Tapiraí, que já estão produzindo e comercializando as novas cultivares. O docente também citou novos projetos de pesquisa envolvendo as cultivares. “Temos uma série de aspectos para estudar. E o Cerat está aberto para receber essas demandas para avançarmos na área do conhecimento. Que venham outros projetos no sentido de alavancar o nome da universidade, coloca-lo como referência em tecnologia social”.
O professor Pasqual Barretti, reitor da Unesp, saudou o trabalho do Cerat e dos pesquisadores envolvidos na iniciativa. “As unidades complementares da Unesp realizam essa grande fusão do conhecimento que é tão necessária, com inovação, visão social e empreendedora. A Unesp será cada vez mais visível se ela tiver suas cultivares e suas patentes transformadas em produtos. Quero cumprimentar o professor Furlan e sua equipe, vocês fazem parte de um grande grupo de pessoas na Unesp que pensam avante. A Unesp tem que preservar o seu passado e olhar o seu futuro. Quero deixar o meu mais irrestrito apoio a todas as iniciativas como essa, que projetem a Unesp e coloquem a ciência a serviço da sociedade”.
Ao final do evento, o professor Saulo Philipe Sebastião Guerra, diretor da AUIN, entregou em mãos ao reitor da Unesp, os documentos do Ministério da Agricultura e Pecuária e do Abastecimento, do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares. Antes, porém, em seu pronunciamento, o professor Saulo comentou vários aspectos da colaboração da AUIN na proteção das cultivares desenvolvidas.
“Em nossa gestão na AUIN, encontramos na Reitoria apoio integral e confiança ímpar para que pudéssemos tomar decisões. O professor Barretti apoia e confia nos gestores. Dessa forma nos sentimos confiantes para superar um gargalo na Unesp. Eram mais de 40 anos de história e conquistas que não foram protegidos em termos de cultivares. Como esperado, identificamos um potencial absurdo na Unesp. Somos a maior universidade em termos de agronegócio da América Latina. É importante destacar que a proteção de cultivares é um direito de propriedade intelectual que versa sobre as variedades vegetais e ela deve ser tramitada num rito muito rigoroso. Há uma série de exigências que conseguimos superar. Agora vamos para uma nova etapa, que é a transferência de tecnologia, para fazer essa batata-doce chegar onde ela precisa chegar, fazendo inovação social e fazendo a diferença na vida das pessoas que realmente precisam”.
Anfitrião do evento, o professor Rogério Peres Soratto, coordenador executivo do Cerat, fez uma apresentação sobre o Centro, relatando sua história e desenvolvimento, seus objetivos, linhas de pesquisa, intercâmbios e parcerias. Ele também cumprimentou a equipe de desenvolvedores das cultivares. “Esse é um trabalho que vem de longo tempo, apoiado por várias unidades da Unesp e centralizado aqui no Cerat. Parabenizo a equipe do professor Pablo e agradeço em nome do Cerat a possibilidade de contribuir com esse trabalho”.
O professor Caio Antonio Carbonari, vice- diretor da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, câmpus de Botucatu, também comentou o lançamento das cultivares. “Essa é uma das conquistas do Cerat e da Unesp que nos enchem de orgulho e certamente trará grandes benefícios para a sociedade brasileira. Estamos aqui ajudando a construir uma agricultura cada vez mais produtiva e sustentável para a construção da segurança alimentar do país. Em geral, enquanto país, temos sido muito efetivos em gerar conhecimentos científicos e pouco efetivos em traduzir esse conhecimento em tecnologias que realmente melhorem a vida das pessoas. Esse evento no dia de hoje, mostra claramente que essa é uma barreira transponível e que a Unesp tem todos os requisitos para estar nessa vanguarda”.
Ao final do evento todos os presentes participaram de uma degustação de sucos, salgados e doces feitos com as três novas cultivares de batata-doce. Além do professor Vargas, a equipe de desenvolvedores é formada pelos pesquisadores: Darllan de Oliveira, Maria Eduarda Facioli Otoboni, Bruno Ettore Pavan, Adalton Mazetti Fernandes, Maria Isabel Vaz de Andrade e Elder Cândido Mattos.