Falta de insulina leva a um excesso de açúcar no sangue que causa alterações metabólicas
Da Agência Einten
Pessoas com diabetes têm de 2,5 a 3 vezes mais risco de desenvolver distúrbios alimentares comparado às que não têm a doença na mesma faixa etária. E o problema pode facilmente passar despercebido por médicos e familiares. O cenário é mais preocupante nos jovens portadores de diabetes tipo 1, que podem apresentar um quadro chamado de diabulimia – quando deixam de tomar insulina com o objetivo de perder peso.
Neste dia 2 de junho, Dia Mundial de Alerta para os Transtornos Alimentares, a Sociedade Brasileira de Diabetes reforça uma campanha lançada especialmente para chamar a atenção para esses casos, chamada #DiabulimiaNao.
Embora ainda bastante desconhecida, a diabulimia costuma surgir na pré-adolescência e adolescência e pode atingir até um terço das meninas diabéticas entre 16 e 22 anos. Além de deixar de tomar ou pular doses de insulina, esses pacientes também podem apresentar os chamados comportamentos compensatórios, como vômitos, uso de laxantes e diuréticos ou praticar atividade física em excesso.
“Nessa idade, costuma haver uma insatisfação com corpo e a própria natureza do diabetes, com mais atenção à alimentação, à contagem de carboidratos, ao planejamento da dieta, acaba deixando mais vulneráveis aqueles que têm predisposição”, explica a endocrinologista Claudia Pieper, coordenadora do Departamento de Psiquiatria, Psicologia e Transtornos Alimentares da Sociedade Brasileira de Diabetes e Membro da Academy for Eating Disorders. Ainda é mais grave nos casos em que há outros transtornos de saúde mental envolvidos, como ansiedade ou depressão.
Diabetes descompensado
A falta de insulina leva a um excesso de açúcar no sangue que causa alterações metabólicas e faz o organismo usar as reservas de gordura, promovendo uma perda de peso. A pessoa acaba eliminando glicose e calorias em excesso pela urina também. Mas o diabetes descompensado traz sérios riscos, potencialmente fatais, como desnutrição, comprometimento do crescimento, maior chance de complicações crônicas precoces (com apenas 4 ou 5 anos de doença) como retinopatia (complicação que ocorre quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da retina), danos aos rins, neuropatia diabética, entre outras.
O diagnóstico da diabulimia nem sempre é fácil. Deve-se prestar atenção aos sinais de alerta do paciente, como esquecer com frequência o glicosímetro (aparelho que mede a glicemia), não anotar corretamente os resultados das dosagens, não querer se pesar, pedir dietas com mais restrições, apresentar níveis altos de glicemia nos exames que mostram a média dos últimos meses, fazer atividade física em excesso, ter internações por cetoacidose diabética (glicemia alta), canetas ou frascos de insulina que demoram a terminar.
O tratamento deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, psicólogos e psiquiatras. “São duas doenças muito estigmatizadas, mas elas têm tratamento e é possível se recuperar de um transtorno alimentar”, diz a especialista.
Embora o transtorno alimentar mais conhecido seja a anorexia – quando a pessoa tem pavor de engordar e passa a restringir cada vez mais alimentos – o mais prevalente no mundo é a compulsão alimentar, em que o indivíduo come descontroladamente, mas não apresenta comportamentos compensatórios. Isso favorece o ganho de peso e obesidade, com maior risco de desenvolver diabetes tipo 2. Já a anorexia é rara em diabéticos.