Espetáculo Fuxico abordará vida das mulheres no campo

A peça tem como mote principal a cultura de confecção de fuxicos

Da Redação

Neta de lavradores de café do interior de São Paulo, Vanessa Petroncari resgata memórias ancestrais e narrativas de mulheres que trabalhavam nas lavouras de café no solo “Fuxicos”, com direção de Alejandra Sampaio (Velha Cia. de São Paulo). O espetáculo compõe a programação do Festival de Inverno de Botucatu no dia 13 de julho às 20 horas no Teatro Municipal, com entrada gratuita. 

Escrito em 2020 pela própria Vanessa, o texto contou com assessoria dramatúrgica de Kiko Marques e nasceu de uma pesquisa da artista sobre narrativas femininas, o contexto da vida no campo e possibilidades de escolhas para mulheres. Entre 2018 e 2020, ela coletou histórias da própria família e de outras mulheres que passaram por contextos de transformações, adoecimentos e resistência, além de peças artesanais feitas manualmente por sua mãe, avós, bisavós, tias etc.

A peça tem como mote principal a cultura de confecção de fuxicos, um artesanato feito por mulheres da roça com sobras de tecidos em ocasiões em que se reuniam para costurar e “fuxicar” sobre a vida. Em reuniões notadamente femininas, havia a confecção de produtos artesanais, troca de saberes e manutenção de memórias através da oralidade.

“A vida caipira, no interior do estado de São Paulo no século XX, reservou papel nitidamente doméstico às mulheres, delegando-lhes os cuidados do lar, da criação dos filhos e manufaturas necessárias. Isso contribuiu para que a nossa sociedade ainda esbarre na romantização da figura da “super mulher”, que dá conta de tudo, sem se perguntar o quão dolorido e adoecedor isso pode ser.  Meu desejo é falar sobre essas dores mas também sobre nossas estratégias de resistência e sobrevivência. Essa peça fala, sobretudo, de cura. Uma cura que é encontrada nos encontros e nas histórias que são transmitidas sabiamente de geração a geração”, comenta Vanessa Petroncari.

Fuxicos é uma espécie de “mandala teatral”, na qual mãos ancestrais femininas trabalham sobre o tempo e nos contam histórias. “Como neta de lavradores de café, passei a maior parte da infância na roça em São Manuel. Eu faço fuxicos desde a adolescência; o crochê aprendi na infância, tudo com as minhas avós. Acho que, conforme vamos tecendo essas pequenas peças de artesanato, vamos tecendo, em alguma medida, os fios das nossas vidas – esse rio que ninguém sabe ao certo onde vai desaguar. Eu gosto de pensar que em cada fuxiquinho tem uma história costurada. Quantas histórias cabem em uma vida?”, filosofa.

A ideia do espetáculo é criar uma reflexão sobre as heranças femininas e suas expectativas familiares e sociais, assim como as possibilidades de quebra e negação a um modelo apresentado. 

Em cena, são discutidas questões como: “Em que medida nós, mulheres, vivemos a vida que escolhemos viver ou vivemos uma vida que nos foi destinada pela família e sociedade? Quem são as mulheres de nossa família? Essas mulheres tiveram a possibilidade de escolha de um modelo de vida? Ou ainda, puderam recusar tal modelo? Como costuramos e descosturamos as memórias e tradições em um tecido próprio?”.

O espetáculo está em cartaz em São Paulo de 1º a 30 de julho na Associação Zona Franca (rua Almirante Marques Leão, 378 – Bela Vista) aos sábados e domingos com entrada franca.

Sinopse

Avó e neta costuram histórias à margem de um rio. Por entre lembranças e atritos, os trabalhos manuais ancestrais dão passagem a antigas mulheres trazidas pelo rio.

Serviço- Fuxicos, de Vanessa Petroncari

Dia 13 de julho às 20h

Teatro Municipal de Botucatu

Praça Coronel Rafael de Moura Campos, 27 – Centro

Ingressos: grátis

Classificação: 10 anos

Duração: 60 minutos 

error: Este conteúdo é protegido contra cópia!