Existem outras explicações não relacionadas diretamente com a infecção do vírus
Da Agência USP
Durante a primeira onda da pandemia de covid-19, uma pesquisa norte-americana apontou que houve um aumento nos casos de diabete tipo 1 em crianças. O estudo foi publicado pela revista Jama Network Open e mostra que, em 2020, os casos de incidência da doença eram 1,14 maior do que os casos registrados em 2019. O estudo analisou mais de 37 mil crianças, entre zero e 18 anos e reuniu dados de 17 pesquisas diferentes que atestaram esse aumento.
Por ser uma pesquisa muito recente, com dados diversos, ainda não há consenso na comunidade científica sobre a discussão, mas existem algumas evidências que podem explicar essa relação. Caroline Passone, endocrinologista pediatra do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica algumas possíveis causas para o aumento dos casos.
Segundo Caroline, existe a suspeita de que os aumentos possam ter relação direta com a contração de coronavírus. “Há a possibilidade que o vírus da covid-19 possa agir dentro da célula pancreática, chamada de célula Beta, ou se, por ser uma doença que provoca mais sintomas nos infectados, pode causar complicações nas células” aponta a médica. Entretanto, existem pacientes assintomáticos, e não se sabe se eles também desenvolveram diabete, então não é possível afirmar se há diferença entre os sintomáticos e os indivíduos sem sintoma.
Entretanto, existem outras explicações não relacionadas diretamente com a infecção do vírus. Como discorre Caroline, a diabete tipo 1, como outras condições autoimunes, é uma doença que tem causas associadas ao estresse, que foi elevado durante os períodos de isolamento social. “Os afetados pela doença podem ser pacientes que tenham tendências a desenvolverem doenças autoimunes e que passaram por momentos difíceis.” Além disso, por conta do isolamento social, Caroline pontua que, provavelmente, seria esperado que os casos de diabete tipo 1 diminuíssem, já que a doença é desencadeada depois de quadros virais.
A doença
A diabete tipo 1 é uma doença em que o sistema imunológico ataca as células produtoras de insulina, que são responsáveis por controlar os níveis de açúcar no sangue. Por isso, o indivíduo acometido pela condição precisa tomar alguns cuidados no dia a dia, já que a doença tem inúmeras consequências negativas a longo prazo, se não for tratada corretamente.
A primeira consequência nesses pacientes – em especial, crianças pequenas, como aponta o estudo – é o estresse associado à doença. Nesse caso, os responsáveis por elas terão que pensar, todos os dias, nas aplicações de insulina, em uma dieta adequada, e até no encaixe de exercícios na rotina. Hoje em dia, com a melhora nos tratamentos, os pacientes ficam bem.
Entretanto, se não houver um bom controle metabólico da doença, os pacientes podem enfrentar problemas renais, infarto precoce, acidente vascular cerebral (AVC) e até impotência no caso dos homens. “Não estamos falando de problemas tardios. Estamos falando de cegueira, por exemplo, em pacientes de 30, 35 anos” pontua a médica.
Pilares de tratamento
Ainda que essa seja uma doença que exige cuidados trabalhosos e a longo prazo, é possível controlá-la e ter uma vida quase normal. Como explica Caroline, o tratamento da diabete tipo 1 se faz com alguns pilares.
O primeiro pilar – e o principal – é a aplicação de insulina. Existem alguns tipos, como as insulinas basais, em PH e regular. Alguns desses hormônios podem ser adquiridos através do SUS, ou podem ser comprados em farmácias. O tratamento também pode ser feito através de um sistema de infusão contínuo de insulina, que não é tão acessível, como aponta a médica.
Além desse pilar, os pacientes também precisam encontrar uma dieta balanceada e saudável, com legumes, verduras e frutas. Atualmente, por conta do avanço dos tratamentos, não é mais necessário cortar totalmente os doces. Entretanto, Caroline ressalta que eles devem ser consumidos em baixa quantidade.
Juntamente com essas etapas de tratamento é importante sempre monitorar os índices glicêmicos, que pode ser feito através de um furo na ponta do dedo – e medição em um aparelho especializado –, do sistema de monitoramento contínuo, medido por um aparelho de pulso, e outros sensores disponíveis no mercado.