Floresta Estadual de Botucatu (FEB): conheça características, projetos, problemas e perspectivas

FEB é uma área protegida de Cerrado e está sendo discutida em audiências públicas 

Por Vinícius Nunes Alves* e Silvia Mitiko Nishida**

Botucatu é privilegiado por características naturais que vão além dos bons ares, como estar em área de Cuesta, de Aquífero Guarani e de encontro de dois biomas – Cerrado e Mata Atlântica – ambos considerados hotspots da biodiversidade.

Um fragmento de Cerrado em Botucatu e que merece atenção especial é a Floresta Estadual de Botucatu (FEB). Além do bioma, a FEB abriga nascentes e o córrego Pinheirinho que contribui com a água do Rio Pardo que abastece toda a cidade, e faz divisa com a Escola Municipal de Ensino Integral (Emefi) Hernâni Donato de Ensino Fundamental I, localizada no bairro Cedro.

Para a escola, a FEB funciona como um enorme quintal didático a céu aberto, especialmente com a fundamental parceria do projeto de extensão universitária Passarinhando: educação ambiental e conservação da Unesp de Botucatu, o qual realiza atividades com os alunos desde 2019. Outra característica que torna a FEB especial é ser uma área protegida do município totalmente sob poder público. No caso, o Governo do Estado de São Paulo concedeu por duas décadas a administração da FEB para o Governo do Município de Botucatu, em 2018. Por isso, a FEB deve merecer a mesma atenção dada ao Parque Natural Municipal Cachoeira da Marta, Unidade de Conservação que já tem seu Plano de Manejo e é muito conhecida, usufruída e respeitada pela população.

A FEB possui aproximadamente 38,8 hectares e abriga diversas fisionomias de Cerrado, como campo limpo úmido, campo sujo e cerrado típico, além de brejal e mata de galeria. A sua fauna é composta por mais de 200 espécies de aves, sendo 14 delas em algum nível de ameaça de extinção. Dezenas de mamíferos também utilizam a área, inclusive espécies ameaçadas como lobo-guará e tamanduá-bandeira.

Toda essa riqueza de fauna e flora, bem como suas interações ecológicas, são potenciais objetos de estudo para pesquisadores da Unesp de Botucatu. Por meio do projeto Passarinhando, com recursos do programa “SBPC Vai à Escola” e da Pró-reitoria de extensão universitária, a FEB está atingindo um novo patamar. No ano passado, a FEB ganhou Trilha Ecológica, restauração natural, comedouro de aves, deck para Nascente Ibiaçá, ponte para o Córrego Pinheirinho, roda de conversa na Mata de Galeria e placa sinalizadora para cada um dos ambientes e suas espécies características, além de outras intervenções em andamento como o Mirante do Cerrado.

Esses ambientes já foram palcos interdisciplinares a céu aberto com ações pedagógicas de Educação Ambiental, Ciências, Língua Portuguesa, Arte e outros campos do conhecimento para as crianças da Emefi Hernâni Donato. Produções como cordéis, teatros, charadas, contações de histórias, cartazes e pinturas em telas, observação e guia de aves, identificação de pegadas de mamíferos, painéis e apresentações para eventos já foram e continuam a ser executadas mediante a parceria entre Passarinhando e Emefi Hernâni Donato. Outra parceria importante é a do Passarinhando com o Colégio Embraer, cujos estudantes do Ensino Médio confeccionaram uma maquete sobre a FEB e seu entorno com materiais recicláveis. 

O conjunto de fotos a seguir mostra as etapas da construção da maquete do Cerrado tendo como exemplo a FEB. As ilustrações abaixo mostram diferentes momentos que incluem o planejamento, a construção dos elementos da flora e fauna até tornar-se completa.

Apesar do cercamento da FEB realizado pela Secretaria do Verde da Prefeitura, a área ainda está sofrendo o impacto de algumas ações humanas desprovidas de conscientização socioambiental, como deposição de lixo através da Estrada Municipal Represa do Rio Pardo, incêndios criminosos, furto de placas e cordas de segurança da Trilha Ecológica. As imagens a seguir registraram estas ocorrências que não são raras, mas se repetem: o incêndio criminoso, depósito de lixo tanto na estrada quanto em seu interior, além da recente atitude de vandalismo com o furto do portão principal da FEB, instalado no ano passado.

Diante desse cenário, são necessárias ações concretas do poder público, como instalação de placas informativas em seu perímetro, reforço na fiscalização e manutenção da área contra incêndios criminosos e deposição de lixo. A fim de apresentar e discutir a importância da FEB, bem como as medidas e as perspectivas para mesma, está sendo providenciada uma audiência pública na Câmara dos Vereadores.

A tratativa está ocorrendo por intermédio do vereador Lelo Pagani (PSDB), que será considerado o padrinho da FEB. Assim, foi realizada uma reunião no gabinete do vereador Lelo com representantes do Projeto Passarinhando e da Emefi Hernâni Donato, para discutir a audiência e a formação da comunidade “Amigos da FEB” que inclui comunidade escolar, bairros adjacentes, órgãos públicos e parceiros privados.   

A FEB possui enorme potencial para atividades de educação ambiental, observação de aves e ecoturismo para a cidade. Mas para potencializar tudo isso, é preciso ir além da proteção e manutenção da área, e investir em trilhas ecológicas autoguiadas com acessibilidade e um centro receptivo. Além do requerimento da audiência pública, recentemente o vereador formalizou outro requerimento na Câmara que solicita melhorias na FEB e o acompanhamento dessas pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMDEMA) e pelo Conselho Municipal de Turismo (COMUTUR) de Botucatu.

Documentário “Passarinhando e Conservando o Cerrado” sobre a Floresta Estadual de Botucatu 

*Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – UNESP/IBB. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – UFU/Inbio. Especialista em Jornalismo Científico – UNICAMP/Labjor. É membro colaborador do Blog Natureza Crítica – divulgação científica em meio ambiente. Foi Professor Substituto no Departamento de Ciências Humanas da UNESP/IBB, atua como Professor de Ciências na Prefeitura de Botucatu e como jornalista. @viniciusnunesalves | Linktree

**Silvia Mitiko Nishida é Biomédica, doutora em Ciências pela USP e coordenadora do projeto de extensão universitária Passarinhando: educação ambiental e conservação. Atua como Docente e Pesquisadora do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do IBB-UNESP e faz parte do programa de pós-graduação em Animais Selvagens da Faculdade de Medicina e Zootecnia-UNESP. Tem interesse nas técnicas de enriquecimento ambiental e reabilitação de papagaios-verdadeiros visando soltura. Pesquisa sobre a comunidade de aves de Botucatu e região investigando o comportamento alimentar das aves no habitat natural.

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