Caldas é professor aposentado do Departamento de Saúde Pública
Da Redação
A Congregação da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/UNESP), em sua 638ª reunião ordinária realizada na manhã de sexta-feira, 20 de setembro, promoveu a entrega de uma moção de congratulação e agradecimento ao professor Antonio Luiz Caldas Júnior, docente aposentado do Departamento de Saúde Pública.
Ao abrir a sessão, o professor titular Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, diretor da FMB, teceu elogios a Caldas como um agente de promoção de saúde que dedicou a vida a contribuir efetivamente com a sociedade. “Convivo com o professor Caldas desde que cheguei aqui como aluno de pós-graduação para fazer o mestrado. Esse seu espírito comunista, no sentido etimológico da palavra, não no sentido marxista e ideológico, de alguém que se preocupa com tudo que é comum ao coletivo, que se preocupa com a saúde de todos, é algo que permeia a história de vida do professor Caldas”.
E, segundo ele, isso evidenciou-se ainda mais durante a pandemia. “O Caldas conseguia de maneira muito efetiva e leve passar dados importantes com suas publicações diárias. Ele não estava preocupado em publicar na revista de mais alto impacto, e sim, demonstrar à população quais eram os caminhos para se proteger e reduzir o impacto daquele período terrível que foi a pandemia. Mais de uma vez eu disse que o professor Caldas e a professora Rejane Grotto mereciam estátuas na entrada da cidade por tudo que fizeram. Pessoalmente quero demonstrar minha maior admiração ao professor Caldas e em nome da comunidade da FMB agradecer pelo seu trabalho de divulgação de cuidado com a população de Botucatu e de todos nós”.
O diretor da FMB fez questão de relembrar a figura do professor Marcone, que propôs a homenagem. “É um médico preocupado com a saúde da população e que sabe enxergar a que essa faculdade se presta, que é formar bons profissionais e ao mesmo tempo dar uma resposta efetiva, guiando os caminhos da saúde na sociedade que nos cerca. Isso é querer o bem comum no sentido real da palavra”.
Coube ao professor associado Pedro Luiz Toledo de Arruda Lourenção, vice-diretor da FMB, apresentar as credenciais que levaram a congregação a aprovar a concessão da moção. “Por tudo que realizou, está mais do que claro que o professor Caldas é um médico de destaque, professor de destaque, pesquisador de destaque, político de destaque. E mais do que qualquer outra coisa, é um grande cidadão. Fico muito feliz em participar dessa cerimônia”, declarou.
Após receber a moção das mãos do professor titular Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, diretor da FMB, Caldas expressou sua alegria e gratidão pela homenagem. “Confesso a vocês que talvez esse seja o momento mais especial em minha vida profissional, pois se trata do reconhecimento desse importante órgão colegiado, do qual tive o privilégio de participar por cerca de dez anos, primeiro como chefe de departamento e depois como representante da Faculdade de Medicina de Botucatu no Conselho Universitário da Unesp. Estou muito feliz”.
A propositura foi sugerida pelo professor Marcone Lima Sobreira, docente da disciplina de Cirurgia Vascular e Endovascular, em reconhecimento a atuação do homenageado como médico, professor, pesquisador, gestor e agente político e pelo trabalho que realizou durante a pandemia de COVID-19, divulgando diariamente por três anos, junto com o economista João Carlos Vieira, informações relevantes para orientação à população, que posteriormente foram transformadas no livro “Memórias da Pandemia”.
Em seu discurso, disse que sua vida se sustenta em quatro grandes pilares: a FMB, onde forjou sua carreira acadêmica; o SUS, onde teve a chance de ocupar cargos relevantes lhe permitindo colaborar com a reforma sanitária ocorrida no Brasil e promover saúde pública; a participação política como filiado histórico do PC do B e a família.
Ao falar sobre a homenagem, disse que ela lhe deu a oportunidade de fazer uma viagem no tempo. “Sou de Santos, estudei em São Paulo e nem sabia onde ficava Botucatu. Um colega meu que queria fazer psiquiatria foi dar um plantão em um hospital na Grande São Paulo e lá estava uma aluna, que fazia residência aqui e era muito bom. Ela passou, através desse colega, o nome de telefone de uma moça que fazia residência aqui e estava estagiando em São Paulo. Era a Floriscena. Conversei com ela, vim, gostei e apesar de ter passado em outras duas residências (USP e Escola Paulista), decidi que era para cá que eu deveria vir. Não conhecia ninguém na faculdade, mas senti que aqui estava o meu destino. Cheguei aqui no começo de 1978 e confirmei toda expectativa que eu tinha”, relembrou.
Segundo Caldas, esse ano foi muito especial em sua vida e deu início a uma relação de mais de 40 anos com a FMB. “Entrei aqui na faculdade como auxiliar de ensino, fiz minha carreira, fui professor. A coisa que mais destaco, e que mais me honra, foi ter sido professor. Não sou nenhum grande pesquisador, mas orientei muitas teses, aprendia com meus orientandos e me dediquei bastante às questões político-administrativas. Fui por vários anos da congregação, do CO, sempre a serviço da Faculdade de Medicina. Participei de muitos órgãos, colegiados, da Famesp. E em minhas atividades como vereador, secretário de saúde e vice-prefeito sempre procurei fazer um vínculo com nossa faculdade”.
Também em 1978, junto com o professor Luiz Roberto de Oliveira e Rubens Maria Lopes, trabalhou pela reorganização de uma célula do Partido Comunista do Brasil em Botucatu, ainda no período em que a sigla atuava na clandestinidade. “O partido sempre nos estimulou a participar da vida viva, concreta da sociedade onde estávamos. Minha missão de vida expressei no PC do B. Minha condição de comunista não impediu que eu convivesse harmonicamente com qualquer tipo de pessoa”.
A inquietação permanente e o desejo de conectar-se com a população para contribuir para melhoria da condição de vida das pessoas tornaram-se marcas registradas de sua atuação nas mais diferentes áreas. Caldas revelou que costumava carregar em sua carteira um papel onde estava escrita uma frase que influenciaria para sempre sua vida: “Nossa formação universitária deve ser motivada pelo povo, para que a nossa profissão que foi obtida às suas custas seja exercida em seu proveito”.
Segundo ele, esse foi seu lema ao se envolver na militância estudantil no início dos anos 1970. “Sempre fui mais atirado a sair um pouco da minha área estrita de trabalho e me envolver em coisas mais gerais, mais políticas. Assim foi minha vida. Eu sou sanitarista. Minha área é epidemiologia, sobretudo administração e planejamento. Eu não podia ficar só aqui na faculdade. Fui ser diretor regional de saúde, sempre continuei minha carreira docente, dando aula, orientando, pesquisando, publicando. Se nós queremos mudar alguma coisa não adianta ficar aqui só publicando trabalho e dando palpite no trabalho dos outros. Vamos lá meter a mão na massa. Por isso que ocupei diversas funções ao longo de minha vida”.
Emocionado, fez questão de ressaltar o amor que sente por Botucatu. “Após meio século, me considero um cidadão botucatuense. Tenho um caso de amor com Botucatu. Gostaria de externar meu agradecimento a todos vocês, a cidade de Botucatu, a Faculdade de Medicina, à Unesp, ao meu partido o PC do B, ao SUS, que fazem parte profundamente de minha vida”.
Ao encerrar seu discurso, Caldas recorreu a uma frase cunhada pelo líder comunista Vladimir Lenin. “É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles”.