Dependência de Zolpidem: retirada abrupta pode trazer risco à vida
Ocorre ainda ansiedade, grande desconforto e o efeito rebote, neste caso causando insônia por vários dias. A literatura científica, ainda que pouco numerosa, também traz relatos de problemas cardíacos. “Precisamos prestar atenção principalmente nesses riscos clínicos: uma pessoa com convulsão, taquicardia e alterações de pressão precisa ir para um pronto-socorro”, adverte a psiquiatra.
Os efeitos adversos também podem virar um problema sério, com a pessoa submetendo a si mesma e outros a situações de risco. “Há pessoas com dependência que tomam dezenas de comprimidos e vão dirigir ou trabalhar em funções em que podem colocar vidas em risco”, pondera Pedro Bacchi.
Talita di Santi lembra que existem outras opções para a insônia. Uma delas é a terapia cognitiva comportamental focada no sono. “É principalmente o que a gente faz, orientando sobre as medidas de higiene do sono. E se ainda precisarmos, há outros medicamentos que não causam dependência. São medicações mais seguras, mas tudo isso é individualizado, pois cada pessoa reage de uma forma diferente.”
A terapia em grupo se mostra fundamental no tratamento da dependência. No Hospital das Clínicas, percebeu-se algo que já era mais ou menos conhecido para outras condições: as mulheres evoluíam melhor se elas estivessem em um ambiente só delas para tratar a dependência de álcool e drogas.
“As mulheres precisam ser cuidadas em centros de tratamento específicos para elas, principalmente em álcool e drogas, em que o estigma é levado ao limite. Pense em uma mãe, uma avó, uma filha usando drogas, o que aquela mulher já sofre de estigma na sociedade triplica. E se no ambulatório de homens sempre tem uma mulher acompanhando, no de mulheres, quase nunca vemos homens ao lado delas”, diz Pedro Bacchi. “Até por isso, lá no HC temos tentado dar visibilidade ao serviço que prestamos, por meio de um esforço de pesquisa no Promud.”
O tratamento da dependência passa, além da terapia de grupo, por uma abordagem multidisciplinar. Os medicamentos não são a principal ferramenta no tratamento da dependência, “embora medicações para tratar comorbidades, como antidepressivos, ajudem no quadro como um todo”, pondera o pesquisador.
Os autores do artigo veem de forma positiva a determinação da Anvisa de que a comercialização do Zolpidem tenha um maior controle. “Inclusive, nos meus atendimentos, eu já vejo que as coisas começaram a mudar. Antes, o Zolpidem poderia ser prescrito por qualquer médico, sem o cadastro governamental para uso da receita azul, que não pode ser emitida em consultas on-line. Então, muitos médicos de outras áreas, que não têm esse registro, e antes prescreviam o medicamento, optam por encaminhar o paciente para o psiquiatra ou escolher outra medicação.” Para ela, além da limitação prática, há também uma questão simbólica, na imagem que os pacientes têm daquela droga, agora que ela tem maior controle pela legislação.