Obesidade piora prognóstico no tratamento do câncer infantil
Obesidade pode gerar condições clínicas mais desfavoráveis para enfrentar o tratamento
Da Agência Einsten
Crianças com obesidade no momento do diagnóstico de câncer parecem ter menor sobrevida após o tratamento, sugere um estudo publicado no periódico Cancer. A obesidade é fator de risco para diversas doenças, inclusive alguns tipos de câncer, como os de mama, colorretal, uterino e pâncreas. Mas o impacto dessa condição no tratamento ainda é incerto.
Para avaliar essa associação, cientistas de diferentes centros de pesquisa no Canadá fizeram um estudo retrospectivo analisando dados de quase 12 mil pacientes com idades entre 2 e 18 anos sobre sobrevida sem recidiva e sobrevida total num período de cinco anos após o diagnóstico de câncer. Os registros foram obtidos do programa Cancer in Young People entre os anos de 2001 e 2020.
A análise revelou que a obesidade foi associada a um risco 55% maior de o paciente apresentar recidiva e 75% mais risco de morte. Essa relação foi observada especialmente nos tumores do sistema nervoso central e leucemia linfoblástica aguda, que são os principais tipos de câncer infantil.
Uma hipótese é que o quadro de obesidade pode gerar condições clínicas mais desfavoráveis para enfrentar o tratamento. “Pode ter prejudicado a possibilidade de oferecer o tratamento mais adequado, com toxicidade suportável”, comenta o oncopediatra Vicente Odone, do Hospital Israelita Albert Einstein, sobre os achados da pesquisa.
No entanto, mais análises seriam necessárias para entender essa interferência no resultado terapêutico. “É um aspecto a ser considerado, mas precisamos de mais estudos, de maneira mais aprofundada, para avaliar outros fatores que possam estar associados, como os genéticos, e entendermos como isso pode interferir no processo”, observa Odone.
Além disso, o especialista ressalta a importância de cuidar para que o paciente não fique obeso após tratar o câncer. “Além de alterações metabólicas induzidas cronicamente pelo tratamento, a doença pode levar a mudanças nos hábitos alimentares difíceis de serem revertidas”, diz o médico. “Muitas vezes, com a preocupação de que o paciente fique fraco, os pais acabam mudando hábitos adequados.”
Obesidade como fator de risco
Diversos estudos sugerem que o peso interfere no risco de desenvolver câncer infantil. Crianças com baixo peso ao nascer, por exemplo, têm maior probabilidade de apresentar tumores no fígado. “Sabe-se que há uma interferência do peso no surgimento de câncer pediátrico e até na sua evolução, mas ainda é difícil estabelecer qual o valor dessa associação”, pontua Vicente Odone.
Atualmente, a maioria dos casos de câncer infantil tem altas chances de cura. O oncopediatra explica que faz parte da abordagem terapêutica manter a rotina e os hábitos dessas crianças o mais próximo das condições de normalidade. “[Isso significa] Tirá-las o menos possível do seu dia a dia, incluindo seus hábitos alimentares, para que depois possam se inserir plenamente na sociedade de maneira mais tranquila”, orienta.
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