Fábio Kerche lança, em Botucatu, livro sobre o 3º governo Lula

Obra traz reflexões sobre os desafios enfrentados pela democracia brasileira 

Da Redação

O cientista político botucatuense Fábio Kerche, em parceria com Marjorie Marona, lança nesta quinta-feira (7) o livro Governo Lula 3: reconstrução democrática e impasses políticos (Autêntica Editora, 576 páginas). Sessão de autógrafos e bate-papo com os autores ocorre a partir das 19 horas na Avenida Vital Brasil, 314.

A obra, à venda desde maio, traz reflexões sobre os desafios enfrentados pela democracia brasileira na fase pós-Bolsonaro. O livro dá continuidade ao projeto iniciado em Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política (2021) e reúne mais de 50 pesquisadores de renomadas universidades, como UFMG, UnB, FGV-SP, UNICAMP, USP e IESP-UERJ.

O volume analisa os dois primeiros anos do terceiro mandato de Lula e parte de um diagnóstico contundente: reconstruir é preciso, mas não é simples. Após o desmonte institucional e o enfraquecimento das estruturas democráticas, Lula retorna à Presidência com a missão de reequilibrar a ordem constitucional, retomar a formulação e implementação de políticas públicas, reaproximar o Estado da sociedade civil e reconstruir a relação com o Congresso, STF, Ministério Público e Polícia Federal.

O livro também mostra que a lógica do presidencialismo de coalizão foi deformada e o governo Lula opera em um ambiente de barganha constante com um Congresso fortalecido e mais conservador. A “governabilidade sob chantagem” é uma expressão que capta esse novo momento, em que as vitórias do governo exigem concessões pesadas e as alianças são instáveis.

Paralelamente, a extrema-direita brasileira também se adapta. Herdeiros de um bolsonarismo reconfigurado, ainda mais integrado ao ecossistema digital fazem frente ao governo que, apesar dos avanços, ainda não encontrou uma estratégia eficiente para disputar a narrativa nas redes sociais.

Nas políticas públicas, a análise é de progressos contidos. A recriação do Bolsa Família e o reajuste do salário-mínimo são vistos como passos importantes, mas o quadro é de resistência conjuntural, vinda do Congresso, e estrutural, pois as amarras fiscais herdadas do período anterior limitam a capacidade de expansão de direitos em áreas como saúde, educação, igualdade racial e de gênero.

Outro destaque é o papel equívoco dos movimentos sociais, que, embora tenham sido decisivos na eleição de Lula, mantêm desconfiança em relação à capacidade do governo de avançar de modo sustentável. A crescente influência do conservadorismo religioso também impõe desafios às tentativas de avanço em agendas sociais progressistas.

Em meio a esse cenário, a comunicação política se apresenta como um dos principais gargalos. A queda de popularidade de Lula é interpretada como parte de um fenômeno estrutural que atinge líderes em todo o mundo, e não apenas como reflexo da administração atual. A fragmentação informacional, a radicalização digital e a tensão constante com a imprensa tradicional tornam a disputa pela narrativa ainda mais complexa.

Também está em pauta o esforço de reconstrução da rede de accountability. Se avanços importantes foram obtidos, como o fortalecimento de instituições de controle e a reversão de medidas abusivas, a obra mostra que a resistência política à transparência e à fiscalização ainda é forte.

Governo Lula 3 se apresenta como um retrato crítico da democracia brasileira em processo de reconstrução. Uma leitura fundamental para quem busca entender não apenas os desafios de um governo, mas as transformações profundas pelas quais passa o sistema político do país.

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