Falta de proteína na gestação e lactação compromete saúde reprodutiva dos filhos

Restrição proteica materna gera alterações permanentes no epidídimo dos filhotes

Da Redação

A falta de proteína na dieta materna, durante a gestação e a lactação, pode comprometer a saúde reprodutiva da prole masculina. Esta foi a conclusão de estudo conduzido no Instituto de Biociências de Botucatu, vinculado à Unesp, revelando ainda que a restrição proteica materna gera alterações permanentes no epidídimo dos filhotes, órgão fundamental para a maturação dos espermatozoides.

Raquel Fantin Domeniconi conduziu o estudo financiado pela Fapesp

No experimento, conduzido pela professora Raquel Fantin Domeniconi, do Departamento de Biologia estrutural e Funcional – Setor de Anatomia, ratas prenhes foram divididas em dois grupos: um recebeu dieta padrão, com 17% de proteína, e o outro, dieta hipoproteica, com apenas 6% de proteína, durante toda a gestação e lactação. Nos descendentes do grupo hipoproteico, foram observadas alterações significativas no tamanho e na estrutura do epidídimo, acompanhadas de mudanças na dinâmica dos fluidos luminais e na vascularização. Além disso, aos 44 dias de vida, idade em que se espera que o epitélio epididimário esteja completamente diferenciado, foi identificado atraso no processo de diferenciação celular.

Segundo Domeniconi, os resultados reforçam a importância da nutrição materna para o desenvolvimento saudável das próximas gerações. “Cada vez mais estudos têm demonstrado que combater a fome e a insegurança alimentar hoje é também uma forma de prevenir doenças e promover o bem‑estar das futuras gerações”afirma a pesquisadora.

O estudo se insere no campo das origens desenvolvimentistas da saúde e da doença, que relaciona o ambiente gestacional e os primeiros anos de vida com predisposições a doenças crônicas, como diabetes, câncer e enfermidades cardiovasculares. “É como se faltassem ‘tijolos’ na construção desses órgãos. Isso pode reduzir néfrons nos rins, células no coração e também afetar o epidídimo”, explica a docente, destacando o potencial impacto transgeracional da desnutrição materna.

Os trabalhos do grupo de pesquisa são os primeiros a demonstrar como a falta de proteína durante a gestação e a lactação pode alterar a estrutura e a função do epidídimo, reforçando a importância de políticas públicas que garantam nutrição adequada para gestantes e lactantes. O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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