Exercício físico pode fortalecer ação de células contra o câncer
Corpo humano é um sistema integrado, onde intestino, imunidade e atividade física se comunicam
Da Agência USP
Uma nova frente de combate ao câncer pode estar mais próxima da esteira da academia do que dos laboratórios farmacêuticos. Pesquisas recentes revelam que a prática regular de exercícios físicos provoca mudanças benéficas na microbiota intestinal — o conjunto de microrganismos que habitam o intestino — e essas alterações parecem impulsionar a ação das células T, fundamentais na luta contra tumores.
O médico fisiatra Rodrigo Guimarães de Andrade, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) diz que os benefícios são muitos, havendo evidências de que a atividade física ajuda antes mesmo do diagnóstico de alguns cânceres como o de mama, por exemplo.
Os cientistas já sabiam que o exercício é um aliado importante na prevenção de doenças crônicas, incluindo o câncer. No entanto, estudos mais recentes aprofundaram esse entendimento ao identificar como a atividade física modifica o metabolismo das bactérias intestinais, gerando compostos que fortalecem o sistema imunológico, especialmente no combate a células tumorais.
Ação da microbiota
Durante o exercício, o organismo libera substâncias que influenciam diretamente a composição da microbiota intestinal. Algumas espécies bacterianas passam a produzir mais ácidos graxos de cadeia curta — como o butirato —, que têm propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras. Essas moléculas atuam como sinalizadores químicos que ajudam a “treinar” as células T para reconhecer e atacar células cancerígenas com mais eficiência., avalia o especialista sobre o resultado da recente pesquisa.
Resultados promissores
Esses achados abrem caminho para possíveis terapias complementares ao tratamento convencional do câncer, associando planos de exercícios personalizados e intervenções na microbiota, como dietas específicas ou probióticos. O estudo é positivo e cria uma esperança, além de remédios e pesquisas em laboratórios com novas perspectivas para a imunoterapia. Esse modelo de tratamento já ocorre no Brasil e agora é preciso expandi-lo para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar dos resultados promissores, os cientistas alertam que ainda são necessários estudos clínicos em humanos para confirmar os efeitos observados em laboratório. No entanto, a evidência acumulada reforça a importância do estilo de vida saudável não apenas como prevenção, mas também como potencial aliado no tratamento do câncer.
O corpo humano é um sistema integrado, onde intestino, imunidade e atividade física se comunicam de maneira surpreendente. Os novos estudos sobre a microbiota intestinal e a imunoterapia contra o câncer mostram que cuidar da saúde pode ir muito além da balança ou do espelho — pode ser uma escolha que fortalece a capacidade natural do organismo de se defender contra uma das doenças mais temidas da atualidade.