Raquel de Souza Pinto obtém colocação no lançamento de dardo
Por Vinícius Nunes Alves*
“Somos escultores desta matéria complexa, delicada e sublime que é a nossa própria vida.” Mas, nesse sentido tão amplo, o que caracteriza um bom escultor ou uma boa escultora? Um entendimento que muitos leitores hão de concordar é que esculpi bem toda pessoa que aproveita o poder e a beleza da juventude antes que se apaguem. Ter projetos de vida e praticar esportes são algumas das formas de ser um jovem ativo, desfrutando bem do corpo e da mente, justamente quando esses incríveis instrumentos estão com seu mais alto potencial e funcionamento.
Um exemplo de jovem assim é a adolescente Raquel de Souza Pinto – aluna do 9º ano A da EEI Dom Lúcio – que é atleta em modalidades como Lançamento de Dardo e Arremesso de Peso. Considerando apenas este semestre, Raquel coleciona seis medalhas de ouro ou prata dentro dessas modalidades em competições estaduais. A última e recente conquista da atleta botucatuense foi o 2º lugar na prova de Lançamento de Dardo nos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) de 2021, que foi realizado no Parque Olímpico da capital Rio de Janeiro.
Não restam dúvidas de que o crescimento da Raquel no Esporte representa um protagonismo juvenil, o que é uma das premissas do Programa de Ensino Integral (PEI). Mas vale lembrar que em sociedade o sucesso não depende apenas de nós, mas também da oportunidade e do apoio que recebemos de outras pessoas. No caso do sucesso da Raquel, uma dessas pessoas é o professor Mário Augusto Vasques – dedicado e articulado professor de Educação Física da Escola Dom Lúcio – que é treinador de atletismo da aluna.
A aluna Raquel e o professor Mário trouxeram uma pitada sobre a preparação e a conquista dessas medalhas, sobretudo a do JEB’s, além das perspectivas deles sobre o Esporte para a vida. Tudo isso em entrevista exclusiva para o Notícias Botucatu.
No mundo tão diversificado do Esporte, as modalidades do Atletismo são os esportes que vocês têm maior interesse? São também os que vocês mais participam de competições, seja como atleta ou treinador?
Raquel: Sim, é uma das áreas que mais gosto, mas também treino uma arte marcial muito conhecida que é o karatê. É no atletismo que eu participei de várias competições, mesmo com pouco tempo de prática.
Mário: O Atletismo abriu a porta para minha graduação e tem muita influência no profissional que me tornei. Agora procuro dar oportunidades para jovens através do esporte e, aos poucos, fui conhecendo o caminho para ajudar os jovens a trilhar um caminho de sucesso. Com isso, se não chegarem a ser atletas, provavelmente serão bons cidadãos aproveitando oportunidades, como faculdades, e conhecendo estados e países pelo esporte.
Embora seja um esporte popular, a prática do atletismo aparentemente é pouco difundida nas aulas de Educação Física escolar. “O Atletismo é considerado um conteúdo clássico da Educação Física, mas é pouco difundido nas escolas”. Independente disso, vale considerar que é o esporte base em que crianças e jovens têm os primeiros movimentos de correr, saltar e lançar. No ano de 2021, participamos de muitas competições, pois o atletismo abriu parceria com a Secretaria de Esporte de Botucatu que tem vínculo com o Instituto Cultural Atílio Suman, responsável pela modalidade. Isso vem ampliando as oportunidades para crianças com a educação olímpica, o que também trabalha valores olímpicos, como amizade, respeito e excelência. Também neste ano, o coordenador da modalidade, Marcelo Diarcadia, conseguiu uma aprovação junto ao sistema nacional de treinamento da Confederação de Atletismo, e que ainda tem parceria com as loterias da Caixa para melhorar as condições das competições de nível nacional com os alunos do projeto.
O Lançamento de Dardo é a modalidade do atletismo na qual, basicamente, o atleta lança um dardo tentando alcançar a maior distância possível. O que é mais desafiador para progredir nessa modalidade e ser um atleta competitivo?
Raquel: O mais desafiador é adquirir a técnica perfeita e, para isso, é necessário tempo e muito treino. Eu estou me esforçando ao máximo para alcançar isso. Bem antes de praticarmos o dardo, fazemos um aquecimento completo e o aquecimento é a base de tudo, tanto para não sentirmos muita dor, quanto para fazermos um melhor lançamento. Nós aquecemos bastante na região dos braços. Nos treinos, utilizamos bastante a região do quadril, treinando passadas, lançamentos parados, entre outros movimentos.
Mário: Raquel é uma adolescente de apenas 14 anos, mas tem um nível de força diferenciado que já notamos desde os primeiros dias dela no projeto. A prova lançamento de dardo é uma prova muito técnica em que detalhes mudam completamente o desempenho. Como em outros esportes, aos poucos vamos mudando a periodização do treino dela com as competições. Ainda não é o momento de cobrança de resultados, e o treinamento a longo prazo vai lapidando o diamante.
Já dizia Winston Churchill, político e jornalista inglês, que “ninguém pode alcançar uma grande meta sem suor”. Podem comentar um pouco sobre a disciplina que vocês prezam, como atleta e treinador, com alimentação, sono e treinos para ter um bom crescimento e desempenho no Esporte?
Raquel: Como esse autor diz, não alcançamos nenhuma meta sem suor, temos treinos quase todos os dias, sendo os domingos para descanso. Tentamos sempre ter um sono regulado e uma alimentação saudável, temos também um ótimo fisioterapeuta e quiropraxista à disposição do nosso projeto.
Mário: Agora que a rotina está voltando ao normal. Para os treinos específicos da prova, ela precisa ter alimentação balanceada e a escola PEI Dom Lúcio ajuda nisso por ter vários horários de alimentação. A mãe da Raquel também ajuda muito nessa parte, mas o ideal é ter a nutricionista para auxiliar a atleta. Assim, deixo aqui o convite para o apoio de um(a) nutricionista da cidade que possa adequar melhor a alimentação da atleta.
Além da Escola Dom Lúcio, Raquel e Mário são, respectivamente, aluna e professor do Projeto Futuro da Cuesta do Instituto Suman, instituição conveniada da Prefeitura de Botucatu. Como conciliam uma escola de período integral e esse projeto de atletismo?
Raquel: É meio difícil, mas damos um jeitinho para tudo se encaixar, nossos treinos conciliam com horários que temos disponíveis. Os esportes, principalmente a modalidade do atletismo, vêm ganhando bastante visibilidade na vida dos jovens. Assim, os dois ambientes se encaixam perfeitamente, só depende de nós fazermos nossa escolha de como aproveitá-los. A minha escolha foi mudar de vida e o esporte proporcionou isso para mim, pois os treinos fizeram meu corpo todo trabalhar e agora tenho uma ótima disposição. Treinar ajuda também na parte emocional, realmente o esporte transforma vidas.
Mário: Eu utilizo a escola para incentivar os jovens para prática de atividade física e esportiva nas aulas de Educação Física. Após 17h30, no contraturno escolar, os alunos vão se adaptando gradualmente a participar, unindo a escola e os treinos como a Raquel. A educação integral é uma forma eficiente de desenvolver globalmente crianças e adolescentes. Nesse modelo que a escola estadual Dom Lúcio faz parte, o aprendizado não se limita apenas à matriz curricular e ao ambiente de sala de aula. Em outras palavras, inclui também outras experiências ou projetos que contribuem para que a formação pessoal e acadêmica seja mais abrangente para os alunos.
Segundo Leopoldo Hirama – professor pesquisador formado em Educação Física, hoje docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e atuante na temática da Pedagogia do Esporte – a prática esportiva tem um grande potencial de desenvolver valores para a formação da personalidade, tais como engajamento, superação, cooperação e solidariedade. Podem comentar um pouco sobre a relação entre esporte e personalidade na vida pessoal e social de vocês?
Raquel: O esporte realmente muda as pessoas, pois faz nós desejarmos sempre superar nossas metas, tais como obstáculos que aparecem em nossas vidas. O esporte vem mudando a minha forma de viver e me tornando uma pessoa cada vez melhor. Por exemplo, aprendi a ser mais disposta, paciente e dedicada. Depois que me tornei atleta, estou aprendendo a dar o meu máximo em outras coisas que faço na minha vida em geral.
Mário: O esporte é um meio importante de socialização por trabalhar valores como coletivismo, amizade e solidariedade que são relevantes para vencer. Mas sozinho fica tudo muito mais difícil, por isso temos que ter parceria diária com as escolas e outros profissionais, além do apoio da família dos alunos e da nossa própria família. Normalmente, as competições são nos finais de semana e temos que querer isso para a nossa vida.
“A decisão e o trabalho duro baseados em uma paixão duradoura nunca vão decepcionar você”, diz o famoso biólogo e cientista norte-americano Edward O. Wilson. As medalhas que você, Raquel, tem conquistado são a prova disso. Após muitos dias de luta, chegam alguns dias de glória que são importantes de serem celebrados. Como você comemorou a sua última vitória que foi nada mais nada menos que prata no Lançamento de Dardo nos Jogos Escolares Brasileiros? Você pretende fazer carreira profissional no atletismo?
Raquel: A conquista veio com o tempo. Eu comemorei com todos que eu amo, desfrutei essa vitória com meus colegas de treino e familiares. Sim, eu pretendo seguir uma carreira profissional, pois amo fazer o que faço e gostaria de compartilhar isso com muito mais pessoas. Eu posso afirmar que o esporte faz diferença na vida das pessoas!
Resultados como os da aluna Raquel já estão rendendo boas perspectivas para o atletismo na educação básica de Botucatu?
Mário: O esporte como atletismo dentro da Educação Física está intimamente ligado. A escola, muitas vezes, é o local onde a criança tem o primeiro contato com o esporte. Por isso, devemos atentar para que as aulas de Educação Física tenham o maior proveito possível, de modo que o esporte traga todos os benefícios para a formação física, mental e de caráter dos jovens. Os Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) que a Raquel participou integram atletas escolares da rede pública e privada do país. Ao todo, esse evento envolve aproximadamente seis mil jovens em duas edições anuais – uma para 12 a 14 anos e, outra, para 15 a 17 anos. Para participar, é necessário passar por seletivas municipais e estaduais até chegar à etapa nacional, em que os atletas escolares representam a sua escola. Com certeza, resultados como o da Raquel já estão incentivando o atletismo em Botucatu. Mais do que isso, incentivando muitos jovens a trilhar esse caminho que une educação e esporte. Como diz Derli Neuenfeldt – estudioso da Educação Física – o esporte cativa, envolve e aproxima as pessoas, pois possui uma “magia” que gira em torno de si.
*Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – IBB/UNESP. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – Inbio/UFU. Especialista em Jornalismo Científico – Labjor/UNICAMP. É membro colaborador do Blog Natureza Crítica – divulgação científica em meio ambiente. Professor Escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.