Greve dos Professores: "há casos de chuva dentro de salas de aula"

Professor Rafael dá aula em 5 lugares diferentes para garantir sua renda

por Sérgio Viana

Dia 55.

Rafael Henrique Antunes, 29 anos, é botucatuense e formado em História pela Unesp de Assis. Ele dá aulas há 8 anos e desde 2013 é professor efetivo na Escola Estadual Américo Virgínio dos Santos, mas para complementar sua renda ainda trabalha em outros 4 lugares como professor. “Infelizmente, é uma necessidade minha e de muitos docentes, dada a desvalorização crescente dos profissionais da Educação no Estado de São Paulo. Por isso, não tenho certeza do número de alunos anuais”, explica Rafael.

O professor de História acredita que somando todos os seus trabalhos como docente, na rede pública e privada, cerca de 400 alunos frequentam anualmente suas aulas, do ensino fundamental ao superior.

Logo abaixo, você pode conferir o relato do professor Rafael – sem perguntas. Ele é o terceiro e último personagem da série que entrevistou também a professora Helô e a professora Gislene.

Rafael Henrique Antunes, professor de História, em greve: “Os motivos para se estar em greve são vários. A principal reivindicação do sindicato – do qual não faço parte por não concordar com o modelo de participação – é o salário. A questão salarial é importantíssima. Mas há coisas que prejudicam muito mais a Educação em nosso Estado do que o salário. Dando aula em vários locais (dou umas sessenta aulas por semana) consigo ter um padrão de vida bom. Penso que a superlotação das salas de aula é um problema grave.

A falta de estrutura também é grave. A Escola Américo tem biblioteca, mas não tem bibliotecária. Não tem uma sala de informática funcionando. Tem um grande espaço, mas só uma quadra extremamente degradada. Passou por uma reforma bancada pelo governo municipal, que compartilha o prédio conosco, mas ainda há casos de chuva dentro de salas de aula, de salas caindo aos pedaços, de portas que não fecham, etc.

Além disto, há a questão da divisão dos professores em categorias e da desestruturação da carreira dos que não são efetivos, com a famosa duzentena. Impedir um profissional de trabalhar por 200 dias é desumano. Ainda mais quando sabemos que há a necessidade destes profissionais.

Para além disso, estou e continuo na greve até o fim pelas mentiras veiculadas pelo nosso governador. Se fosse verdade que o Estado de São Paulo acresceu nossos salários em 46% nos últimos quatro anos, é preciso pensar que, quatro anos atrás, quando o PSDB já governava o Estado há muitos anos, o salário era ainda mais ridículo. Além disso, fala-se muito em bonificação por resultado. Mas por qual motivo o salário do governador, secretários, deputados e lideranças como um todo não passam pela mesma política? Por que seus salários sobem e não precisam comprovar nada? Meritocracia para quem?

Por fim, creio que a adesão (que é de aproximadamente 56% no Estado), é ainda baixa, sobretudo em Botucatu. Acredito que não é maior porque o governo do Estado amarra professores que não são efetivos, fazendo com que estes não possam se ausentar de salas. Ademais, funcionários públicos como um todo não tem seu ponto cortado se fazem greve. Já os professores, ficam sem qualquer salário. E isto impede a maioria de participar do movimento”.