A luta contra o moinho de vento.

Vivemos um mundo de realidade fantástica. São os golpes do poder, as tramas do dinheiro, toda organizada

por Daniel de Carvalho*

Foi divulgada ilegalmente uma gravação do senador Romero Jucá – PMDB, então Ministro do Planejamento do governo provisório, em conversa com ex-presidente da Transpetro admitindo tudo, ação de interferência no governo federal através de vários tentáculos com ‘acerto’ com juízes do Supremo Tribunal Federal, monitoramento de movimentos contrários ao impeachment por ‘Militares’ e pacto com a grande mídia para derrubar o governo eleito e mudar a gestão Federal para salvar a todos da Lava Jato – e neste TODOS estão os investigados PSDB, PMDB, PT e PP – travar o processo e salvarem-se das garras da operação da Polícia Federal.

Daniel de Carvalho é publicitário
Daniel de Carvalho é publicitário

Agora que o governo não é do Partido dos Trabalhadores, os ‘Braços de Jucá’ – políticos e mídia – se atentam em destacar que o governo não é centralizado em um partido e que cada político é autônomo e responsável sobre seus atos – posicionamento oposto ao divulgado pela oposição enquanto estes estavam fora do governo nos últimos 13 anos – tentando centralizar toda corrupção em desvio de caráter do ex-Ministro Jucá e assim ignorar a sinistra trama construída para salvar os que agora tem em seu projeto neoliberal cortes aos direitos do trabalhador e todo cidadão como argumentos justificados e únicas alternativas, ‘medidas necessárias’, com previsão de dívida nacional para este ano R$ 20 trilhões maior do que a previsão anterior, do governo eleito. Resumo da ópera: pagaremos trilhões a mais para tirar o PT do poder, o que foi vendido com obrigação moral do ‘cidadão de bem’.

Vivemos um mundo de realidade fantástica. São os golpes do poder, as tramas do dinheiro, toda organizada e planejada no galope salvador do cavaleiro herói da pátria que tenta convencer a todos que devemos ignorar a realidade e abrir mão da democracia, do justo, de nossos direitos e de nossa liberdade em nome do sonho por eles proposto.

‘O engenhoso nobre Dom Quixote de La Mancha’ – título original, em castelhano -, escrito por Miguel de Cervantes em 1605 conta as aventuras do cavaleiro e seu escudeiro, Sancho Pança. Dom Quixote, após ler várias histórias fabulosas de coragem e destreza dos cavaleiros da época, se nomeia cavaleiro também e sai corajoso atrás de aventura. Enfrenta na história 40 batalhas, 20 vitórias e 20 derrotas onde toda luta, aos olhos do escritor, tem sua riqueza. A mais difundida é a batalha contra moinhos de ventos, sua mais ridícula derrota pois confunde os objetos com gigantes cruéis e, mesmo assim, acaba derrotado por uma das pás de um moinho. Porém, para Miguel, esta é a maior das batalhas! Já no título original do capítulo descreve o episódio como “Da sorte que o valoroso D. Quixote teve na aventura terrível e inimaginável dos moinhos de vento, com outros acontecimentos dignos de grata memória”. Era rica a luta inútil contra a fantasia que criara baseado na leitura míope dos heróis que tinha para si, o contraste entre ficção e realidade que o confundiam, e assim o cavaleiro enfrentava cada obstáculo, enchiam-lhe o peito de coragem e seus relatos, a seu ver, seria de grande dignidade.

Temos hoje no Brasil um conto quixotesco. Somos resultado de anos de críticas ferrenhas ao moinho de vento anticorrupção, fomos encorajados por nobre alcunha na luta contra o símbolo construído em nosso imaginário como responsável por todo mal nacional, o Partido dos Trabalhadores, e seguimos caindo do cavalo atingidos por pás de realidade que revelam ruina política e total falência do modelo de eleição atual. Há muita dignidade em cavalgarmos juntos contra os gigantes cruéis, mas não há honra alguma em sermos governados por moinhos de vento, termos em nosso dia a dia falsos heróis que abusam de nossa habilidade de interpretação da realidade e agora, sabido e reconhecido que o gigante cruel na verdade é um moinho de vento, tentam convencer que este é na verdade o maior inimigo da história da humanidade, o temível Moinho de Vento. ‘Parem de reclamar e vão trabalhar’.

Esta história deixou de ser um julgamento de determinado partido ou de determinados políticos, este julgamento é nosso, da democracia e de nossa auto-valorização. Os atores principais do golpe agora manobram ou se escondem atrás da retórica ‘pelo bem do Brasil’, os atores secundários ou se envergonham e somem deste debate ou adequam seu discurso conforme os atores principais orquestram, e assim se segue uma tragédia realista com máscaras e farsas executadas ao toque de trombetas do apocalipse na mídia que pressiona para que se ignore os fatos pelo sonho do país unido, igual e justo que vendem. Todos ignoram o golpe e sua função na construção desta história absurda.

A culpa é nossa, sátiros e irresponsáveis de nosso destino, abrimos mão de nosso direito de interferência direta em nossa vida política e damos o livro em branco para que comediantes e oportunistas escrevam nossa história conforme seu interesse e sua própria luta, que em nada se aproximam à luta por justiça e democracia a todos, sem corrupção, e precisamos resistir contra mais este golpe lutando por esclarecimentos de quem humilha e ignora a dignidade e toda liberdade que há no brasileiro camuflando a realidade em um novo conto cada vez mais falso e fantástico. Jucá deve ser preso por obstrução, o Governo Provisório eleito ilegitimamente por esta farsa do ‘impeachment’ deve renunciar e todos golpistas devem ser julgados por seus crimes contra a democracia! Temos que recuperar o poder de escrever nossa história agindo com cidadania e democracia além do poder do voto, todo dia, denunciando e resistindo a todo tipo de ameaça e opressão que aparecem como golpe ou como contos que lemos nas histórias que buscam nos convencer. Fora Temer! Fora golpistas! Não passarão. Seguiremos juntos, todos.

*Daniel de Carvalho é Publicitário e Secretário de Comunicação do PSOL 50 Botucatu.

Os artigos assinados por colunistas não traduzem necessariamente a opinião do Notícias.Botucatu

Deixe um comentário