A força da cultura no processo de desenvolvimento econômico e de revitalização urbanística de uma cidade
por João Cury*
No início do nosso primeiro mandato tive a oportunidade de viajar à Europa com alguns secretários para conhecer experiências exitosas de Parques Tecnológicos, pois estávamos gestando em nossa cidade o sonho de ingressarmos no seletíssimo rol de municípios credenciados ao Sistema Paulista de Parques Tecnológicos –SPTec.
Naquela ocasião, buscávamos o conhecimento adquirido por países que já vivenciavam transformações sociais e econômicas, a partir de políticas de apoio às iniciativas inovadoras.
Em Bilbao, cidade do norte da Espanha com cerca de 360 mil habitantes, pertencente à Comunidade Autônoma do País Basco, presenciei uma verdadeira revolução social, econômica e cultural, provocada por uma série de investimentos em porto, aeroporto, metrô, parque tecnológico, etc.
Chamou-me a atenção, porém, que para algumas autoridades locais, nenhum destes investimentos tinha uma importância tão decisiva na transformação da cidade como a construção do Museu Guggenheim de Bilbao, um ícone da cultura mundial.
Embora reconheça o poder transformador da cultura na vida das pessoas, confesso que não entendia muito bem como um grande equipamento cultural poderia mudar definitivamente a história e a vida de uma cidade.
A região de Bilbao passara nos anos 70 e 80 por uma gravíssima crise econômica, com altos índices de desemprego. Inacreditáveis 25%!Milhares de empresas fecharam suas portas encerrando suas atividades, dando ensejo a um processo de desertificação industrial, que provocou uma degradação urbana significativa. Somou-se a isso, um enorme êxodo de jovens a outros centros urbanos, que se viram obrigados a deixar a cidade em busca de oportunidades.
Contavam-nos, enfim, que, em decadência, Bilbao era a imagem da cidade desordenada, com problemas e deficiências de todas as espécies,com a autoestima do seu povo visivelmente abalada.
Segundo eles, o futuro do povo Bilbaíno começou a mudar no começo dos anos 90. Em maio de 1991, a cidade assinou em Nova Iorque um Memorando de Entendimento com a Fundação Guggenheim, mantenedora do reconhecido e famoso museu nova iorquino, que objetivava construir, sob medida, um edifício icônico para abrigar uma franquia do Guggenheim de NY. Acredito que poucos poderiam imaginar que tal iniciativa mudaria, definitivamente, o futuro e a sorte do povo basco. Pelo menos, até aquele momento. Pelas informações, essa era a crença de alguns, provavelmente, mais otimistas. Dito e feito!
Segundo dados da Fundação Guggenheim, o museu recebeu mais de 15 milhões de visitantes e gerou mais de 4 mil empregos na sua primeira década de existência. O efeito Guggenheim é reconhecido por toda a população de Bilbao, contribuindo decisivamente para a economia da cidade, colocando-a, como dizem orgulhosamente os seus, no mapa do mundo. A presença do museu além de oferecer à sociedade basca uma referência cultural de primeira grandeza, demonstrou a força da cultura no processo de desenvolvimento econômico e de revitalização urbanística de uma cidade. Surpreendentemente, a cultura mostrava a sua face, muitas vezes oculta, de um vetor de influência na localização de projetos empresariais e de estímulo a atividades relacionadas ao turismo cultural ou de negócios, contribuindo para o desenvolvimento do setor terciário em geral.
Guardadas as proporções, não é nenhum absurdo pensarmos que a “franquia” da Pinacoteca de São Paulo, um dos maiores e mais importantes museus da América do Sul, em construção em Botucatu, poderáprojetar na nossa cidade (se trabalharmos para isso) os mesmos ganhos e benefícios que o Guggenheim de Nova Iorque proporcionou à espanhola Bilbao. Insisto: nas suas devidas proporções…
A Pinacoteca tem força, caráter e personalidade suficientes para participar decisivamente na transformação de Botucatu como uma cidade símbolo de serviços, do saber e fazer locais; de vanguarda em atrações e equipamentos de promoção e gestão cultural, atraindo fluxos externos de capital intelectual, voltados à formação de profissionais para a comunidade educacional e cultural, atraindo investimentos e empresas, fazendo com que Botucatu seja um foco de prestígio, atenção e projeção para o Brasil inteiro.
Nada disso, porém, será possível sem uma boa dose de união de esforços das forças vivas da nossa sociedade e de outros atores capazes de identificar, neste ícone da cultura brasileira, a sua importânciaestratégica para o desenvolvimento da nossa região, proporcionando a ela competitividade econômica, posicionamento político e a melhoria da qualidade de vida dos nossos cidadãos.
Nesse sentido, muito recomendável é a criação de uma instância de discussão e formulação de um Plano Estratégico que considere a relevante presença do museu no município e as oportunidades que dele surgirão, relacionando-o com as aspirações do nosso povo e, num processo de reconhecimento das nossas vulnerabilidades e desafios, consiga criar, nos prazos estabelecidos, as condições necessárias para o cumprimento de algumas missões estabelecidas por esse plano.
Importante salientar que não se pode atribuir ao Guggenheim responsabilidade total pela nova Bilbao. Tampouco é o que se imagina para a nossa Pinacoteca. No entanto, se o nosso ícone cultural, prestes a ser inaugurado, servir para alavancar outras políticas que integrem urbanismo, mobilidade e meio ambiente, a cultura terá realizado em Botucatu, o mesmo que realizou em Bilbao. Ou seja, não só o feito de libertar a alma de quem com ela se relaciona, mas também, de converter a nossa cidade em uma metrópole regional de tamanho médio, cuja métrica do desenvolvimento esteja voltada, não para o número de bens que construímos, mas para a qualidade de vida que deles usufruímos.
*João Cury Neto (PSDB) é prefeito de Botucatu e presidente do PSDB local.
**Os artigos assinados por colunistas não traduzem necessariamente a opinião do Notícias.Botucatu.