Apesar da candidata estar gozando de relativa vantagem nas pesquisas, estas eleições se tratam de eleger o “candidato menos pior”
por Alfredo Juan Guevara Martinez*
Com o fim dos debates presidenciais, a candidata democrata Hillary Clinton vem se consolidando como favorita para as eleições do dia 8 de novembro, visto a perda de apoio gradual que Donald Trump vem sofrendo (inclusive do próprio partido republicano). Não houve muita diferença entre os três debates nos quais os candidatos à presidência participaram, nos quais ficaram evidentes o preparo de Clinton, e o temperamento forte de Trump.
O candidato republicano, de certa forma, repetiu sua estratégia dos debates do partido durantes as prévias, mas calculou mal a experiência de Hillary Clinton e a serenidade exigida para os debates presidências entre os partidos. Vale lembrar, que antes dos três debates vazaram notícias prejudiciais a ambos candidatos. Para a campanha democrata o vazamento de e-mails seguiu a ser seu ponto fraco, já para a campanha republicana escândalos de mal comportamento e caráter atrelados a Donald Trump variaram desde comportamento misógino e xenofóbico, até assédio sexual.
A maior perda que os debates podem ter causado para Trump se encontra nos eleitores indecisos. A performance do candidato republicano é indiferente para o eleitor mais fiel que já se decidiu por votar nele, ou para o eleitor anti-Trump que votaria em qualquer que fosse seu oponente, porém é o eleitor indeciso que realmente pode significar seu trunfo ou derrota.
O ponto central no resultado dos debates parece orbitar os escândalos de ambos lados e como eles foram instrumentalizados. Nem Trump nem Clinton são candidatos populares, na verdade Hillary Clinton vem sofrendo uma perda imensa de popularidade desde que se candidatou nas prévias. A impopularidade dos dois está muito atrelada a midiatização das notícias negativas para eles. Acontece que a imagem negativa de Clinton começou a ser construída a partir do escândalo dos e-mails confidenciais em servidor privado na época em que ela foi Secretária de Estados. Do fim das prévias para cá, os escândalos da candidata são centrados no vazamento de e-mails que relatam estratégias ocultas de sua campanha.
Já os escândalos relacionados a Trump são derivados de diversas fontes: o comportamento errático do candidato; sua falta de compostura padrão para um candidato presidencial; comentários atuais e passados sobre temas polêmicos (sobre mulheres, Cuba, Guerra do Iraque, imigrantes muçulmanos e latinos, entre muitos outros); a não liberação de sua declaração de imposto de renda; e mais recentemente sua recusa em afirmar que irá aceitar o resultado das eleições caso perda.
O resultado disso é que Clinton é impopular principalmente por ser considerada uma “pessoa não confiável”, enquanto a impopularidade de Trump é atrelada ao seu caráter errático, imprevisível e inapropriado para o cargo presidencial. Contudo, é necessário reconhecer que a última rodada de escândalos pesou muito mais para Trump do que para Clinton, já que se tratou de um vídeo de 2005 onde o próprio candidato se gabava de assediar mulheres. Essa notícia viralizou muito mais do que o vazamento de mais e-mails da campanha Clinton. Considerando que o eleitor chave para Trump é o indeciso, é preciso entender que esse eleitor é influenciável por notícias muito midiáticas acerca dos candidatos, o que colocou Trump em desvantagem após o terceiro debate. A vantagem atual de Clinton repousa no fato de que os fatores que aumentam sua impopularidade costumam ser “mais do mesmo”, e para entender a profundidade do que cada um de seus escândalos significa, o eleitor deve se dar o trabalho de pesquisar e ler o teor dos e-mails vazados. Comparando com o vídeo de Trump sobre assédio sexual, fica fácil entender qual notícia é mais negativa.
Apesar da candidata estar gozando de relativa vantagem nas pesquisas, estas eleições se tratam de eleger o “candidato menos pior”, visto que os eleitores decididos não vão mudar de opinião, e os indecisos estão suscetíveis a viralização de mais notícias negativas sobre Trump e Clinton. Assim, as eleições do dia 8 de novembro ainda podem ser decididas pela campanha que conseguir maior mídia negativa contra seu rival.
*Alfredo Juan Guevara Martinez é mestre em Relações Internacionais pela PUC-MG, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, UNICAMP e PUC-SP) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU) e do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da UNESP (IEEI – Unesp).