OPINIÃO | A Lógica política que não cabe no Brasil

Os 263 votos que enterraram essa denúncia foram mais uma gota no copo da polarização hipócrita que reina no Brasil

por Giovanni Mockus* 

Muito revoltou a população brasileira as notícias de que o Presidente Michel Temer teria gasto R$ 4.1 bilhões, em dinheiro público, para comprar o apoio de deputados federais e, dessa forma, se livrar de sua denúncia por corrupção passiva. Essa grana foi liberada na forma de emendas parlamentares entre junho e julho deste ano e, ao que tudo indica, rendeu até mesmo o célebre viaduto – quase uma lenda urbana – para Botucatu.

Os 263 votos que enterraram essa denúncia foram mais uma gota no copo da polarização hipócrita que reina no Brasil. Esse guerra de 5ª série – com todo respeito às turmas de 5ª série – extrapolou as redes sociais e tomou o Plenário da Câmara dos Deputados. Deputados da base e da oposição iniciaram, literalmente, uma guerra de pixulecos (bonecos infláveis do Lula Presidiário) que rendeu até uma bronca constrangedora do Presidente da Câmara, Deputado Rodrigo Maia.  

Giovanni Mockus é graduando em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de Brasília, dirigente nacional da REDE, Líder RAPS e um entusiasta por uma nova forma de se fazer política. Atualmente, Assessor Legislativo na Câmara dos Deputados.

Qual é o ponto aqui: a palhaçada não é da direita ou da esquerda, é das duas linhas de pensamento político (se é que ainda existem tão bem delineadas). Partidos “de direita” apoiaram fortemente Temer sob um discurso de estabilidade nacional; e partidos “de esquerda”, embora com falas fortes contra o governo, exoneraram secretários estaduais e trabalharam nos bastidores pela manutenção de Temer na Presidência.

Mais do que isso, a grande prova de que as críticas dos partidos de esquerda se resumem em grande hipocrisia política é que, assim como Temer e os seus R$ 4.1 bilhões em emendas, a ex-presidente Dilma Rousseff também liberou emendas parlamentares na época do impeachment na tentativa de salvar sua presidência. Em maio de 2016 foram cerca de R$ 3.6 bilhões. Dinheiro público!

Nos discursos durante a votação a esquerda acusava a direita de tentar blindar o Temer e a direita acusava a esquerda de ter quebrado o Brasil nos últimos 14 anos. O pior de tudo é que ambos os lados estão certos! E o problema é que ao invés de assumirem a besteira que foi/está sendo feita e abrir espaço para pessoas honestas que querem debater a reconstrução do Brasil, ficam brigando com pixulecos, acusando uns aos outros e fazendo discursos populistas.

Enfim, a questão não é mais direita vs. esquerda (não a é desde a Constituinte de 88). O Brasil está cansado dessa lógica-ilógica. Essa lógica de compra de deputados por emendas, praticada tanto por Temer (R$ 4.1 bi), quanto por Dilma (R$3.6 bi). E essa ilógica de que no final ambos os lados dividem a televisão do cafezinho do plenário para acompanhar a novela das 21h.

Precisamos de pessoas propositivas, debates construtivos e visão de Estado para o nosso Brasil. E antes que alguém venha clamar por Jair Bolsonaro 2018, saiba que ele recebeu pouco mais que R$ 2.6 milhões, daqueles bilhões de Temer.

* Giovanni Mockus é graduando em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de Brasília, dirigente nacional da REDE, Líder RAPS e um entusiasta por uma nova forma de se fazer política. Atualmente, Assessor Legislativo na Câmara dos Deputados. facebook.com/giovannimockus

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