Cancelamento das exposições com temática contra a homofobia causou críticas por parte do Conselho Municipal de Cultura
por Flávio Fogueral
Duas exposições contra a homofobia programadas para janeiro em Botucatu foram canceladas. “Todos podem ser Frida” e “Homofobia fora de moda” estavam previstas para o Museu Histórico e Pedagógico “Francisco Blasi” (MuHP), no Espaço Cultural, e teriam início na próxima quarta-feira, dia 17. Ambas as exposições eram uma parceria com o Museu da Diversidade Sexual e APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte, que cederam mais de 40 peças gratuitamente dos acervos.
Uma das exposições canceladas, “Todos podem ser Frida” seria, inclusive, realizada pela segunda vez em Botucatu. Aberta ao público em maio de 2017, atraiu mais de 2 mil visitantes em 15 dias. De autoria da fotógrafa e artista plástica Camila Fontenele, a mostra trazia fotografias com pessoas caracterizadas como a pintora mexicana Frida Kalo; tendo por objetivo ser uma reflexão contra a sociedade patriarcal e machista.
Já a exposição “Homofobia fora de moda” é resultante de um concurso promovido pela Casa de Criadores e o acervo fixo é de propriedade do Museu da Diversidade Sexual. Em Botucatu seriam expostas mais de 20 ilustrações que visam promover a cidadania da população LGBT e enfrentar a discriminação sofrida por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Em sua página oficial no Facebook, o Museu Histórico e Pedagógico “Francisco Blasi”, confirma o cancelamento das exposições que salienta que não há justificativa oficial até o momento para o cancelamento. A administração do espaço afirma que todas as peças do acervo ainda estão embaladas e que a intenção inicial será devolver ao Museu da Diversidade Sexual.
Leandro Dal Farra Topal, administrador do Museu Histórico ressalta que as exposições serão realizadas em Botucatu. “Uma coisa é certa. Botucatu não ficará sem essas duas exposições”, salienta. Ele afirma que no caso de impossibilidade do MuHP receber as peças, outras entidades da sociedade civil já se dispuseram a receber o acervo.
Conselho de Cultura fala em “censura” e Prefeitura questiona local adequado
O cancelamento das exposições com temática contra a homofobia causou críticas por parte do Conselho Municipal de Cultura, órgão consultivo formado por integrantes da sociedade civil e do Pode Público. Em carta pública assinada por seu presidente, Fernando Vasques, atribui a decisão como “censura” e repudia a situação.
“A Secretaria Municipal de Cultura atua na oferta de reflexão, afeto, acolhimento das diversas visões de mundo, dentre outras funções, acolhendo todas as formas de expressões culturais, com liberdade e respeito. Não acreditamos que exista justificativa legítima para esta censura e nem para o cerceamento da liberdade de expressão cultural garantido pela constituição federal brasileira”, critica o Conselho em carta.
A Secretaria Municipal de Cultura, no entanto, nega qualquer tipo de censura. Em nota oficial, esclarece que o “adiamento das exposições citadas foi apenas um trâmite administrativo, já que houve um questionamento se o Museu Histórico e Pedagógico seria o local ideal para esses trabalhos”, ressalta.
O posicionamento é que as exposições não foram canceladas, mas sim tiveram seus inícios adiados. “Como a pasta da Cultura encontra-se sem secretário, em fase de transição de comando, foi solicitado o adiamento de tais exposições. Ressaltamos que não há nenhum tipo de censura, até mesmo porque, uma dessas exposições já foi realizada em nossa cidade”, finaliza a nota emitida pela Secretaria.