OPINIÃO | Dia 22 de março: temos o que comemorar?

A supressão das matas ciliares, faz secar nossas nascentes, propicia erosão hídrica e assoreamento dos rios

por Patrícia Shimabuku

Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante a Conferência Rio-92 (Eco 92), no Rio de Janeiro, em 1992, o dia 22 de março é a data anual destinada à comemoração e profunda reflexão sobre a relação homem – água através de diálogos/encontros/conferências sobre sua conservação, proteção, desenvolvimento sustentável, uso responsável e medidas para resolver problemas relacionados à sua poluição. Porém, infelizmente, temos muito pouco, ou quase nada a comemorar.

Como é sabido, água limpa, segura, adequada é vital para a existência de todos os organismos vivos; para o funcionamento dos ecossistemas, comunidades e economias. Sua distribuição geográfica de maneira homogênea (quali e quantitativamente) contribui para convivência pacífica entre os povos. Porém, sua qualidade e disponibilidade global é cada vez mais ameaçada à medida que as populações humanas crescem, atividades agrícolas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o seu ciclo.

A distribuição hídrica em território nacional (como na mundial) é heterogênea. Os Estados brasileiros que compõem a região nordeste, a questão hídrica é considerada um problema público de diversas ordens (saúde e econômico) há muito tempo. Logo nas demais regiões, o índice pluviométrico, a quantidade de bacias/rede hidrográficas e o Sistema Aquífero Guarani produzem a ilusão de que teremos água por longos anos, sem a necessidade de preocupação. Entretanto, está mais do que provado que não é bem assim; é só relembrarmos a “Crise Hídrica” vivenciada em 2014.

A supressão das matas ciliares (causada pelo agronegócio, pela expansão urbana não planejada), faz secar nossas nascentes, propicia erosão hídrica e assoreamento dos rios. A baixa utilização de água de reuso e o baixo aproveitamento das águas das chuvas agravam um fato preocupante: nossa cultura de desperdício e a comum despreocupação com esse recurso natural. Já em nossas casas, o uso descomedido e o descarte inapropriado de óleos contribuem para degradação ambiental. E, como tudo isso já não o bastasse, a inexistência ou o ineficaz sistema de saneamento básico contaminam as bacias hidrográficas.

Quem sabe, quando a situação estiver definitivamente dificílima, tenhamos ações inteligentes de políticas públicas voltadas à segurança hídrica, uma educação socioambiental obrigatória/assertiva em todos níveis educacionais e desenho urbano sustentável (uma ocupação/expansão que considere as áreas de mananciais e que suas drenagens pluviais não sejam canalizadas somente e diretamente para os córregos).

Enfim, após essas reflexões, notamos que há motivos de sobra para se preocupar com a disponibilidade e qualidade hídrica!

Se você ainda duvida, reflita sobre o custo de uma simples garrafinha de água mineral. Será que no momento de escassez, todos terão acesso?

*Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental.

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