Pai organiza nova passeata por Saúde e justiça

Nove meses após perder o filho, ele trava processos contra órgãos públicos e imprensa de Botucatu

Por Sérgio Viana

Marcos Marcelo Soares Batista de Oliveira trava de maneira aparentemente solitária uma batalha por justiça. Ele é o pai de Dennis Willians Soares, que faleceu aos 18 anos, no dia 13 agosto do ano passado, após ter procurado atendimento no Pronto Socorro Regional de Botucatu e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu – onde faleceu após uma cirurgia de emergência (clique aqui e aqui).

Marcos, 40, atualmente dedica-se integralmente à luta por melhorias na Saúde e justiça contra aqueles que, segundo ele, distorceram a tragédia em que perdeu seu filho único. Ele passou a integrar uma ONG, criou um blog e sempre está no Facebook® dando continuidade a sua luta.

No próximo sábado, dia 18, Marcos promoverá mais uma passeata para lembrar a perda do filho e clamar por mudanças, que dificultariam a ocorrência de erros médicos e descaso do poder público. Ele diz que dessa vez espera não ser atrapalhado e caluniado por parte da imprensa botucatuense, como afirma ter ocorrido anteriormente.

A passeata começará às 10h, em frente ao Supermercado Central da Rua Amando de Barros, e também servirá para arrecadar alimentos não perecíveis para o Núcleo Joanna de Angelis, que cuida de crianças carentes.

O Notícias.Botucatu entrevistou Marcos Oliveira na segunda-feira, 13, nove meses depois a morte de Dennis. Leia a integra a seguir.

 

Após 9 meses da morte do seu filho. O que foi constatado sobre o acontecimento nesse meio tempo?

Creio que o delegado do caso já pode ter até chegado a alguma conclusão, mas ele não pôde concluir o inquérito ainda por falta de um prontuário [do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu] da Unesp, que foi negado pra ele.

Por que esse prontuário não teria sido entregue ainda?

Segundo as informações que eu tenho, ele [o documento] só vai ser entregue em juízo. Quer dizer, se tem alguém com alguma coisa pra esconder não sou eu, né? Uma coisa que eu sempre deixei clara é que eu não tenho nenhum problema em relação aos médicos da Unesp. A questão do meu filho foi negligência de uma enfermeira, omissão de socorro gerada através dela. Só que tem outra questão, o Pronto Socorro Municipal foi regionalizado, pelo prefeito João Cury, que seria uma estratégia claramente política. Isso parece uma manobra estratégica para poder abraçar mais pessoas da região. O PS que funciona mal pra Botucatu, hoje recebe pessoas de Pardinho, Itatinga, Bofete, Conchas e Porangaba.  Isso deixa mais complicado um PS que foi construído com verbas do município e do governo federal. Essa regionalização só piorou a situação, tanto de Botucatu, quanto das pessoas que estão vindo de fora.

Esse processo jurídico corre exatamente contra quem? Quem pode ser responsabilizado?

Com a regionalização, o Pronto Socorro passou a ser administrado pela Famesp e Hospital das Clínicas, então a Prefeitura entra no polo passivo da ação, por conta do SAMU que negou socorro pro menino. O processo corre contra eles (Famesp, HC e Prefeitura).

Você tem conseguindo articular o movimento sozinho, ou recebe apoios?

Eu não recebo nenhum centavo de verba governamental ou de partido politico. Mas eu me tornei ativista de uma ONG (Organização Não Governamental) de São Paulo, chamada ‘Justiça é o que se busca’. A ONG abraça a causa contra casos de violência, onde há casos até conhecidos como o de Mércia Nakashima e da dentista Cínthia Moutinho – que morreu carbonizada, e também luta contra crimes cometidos por PMs e erros médicos. Hoje essa ONG é uma união de 400 famílias de vítimas fatais (sendo 59 em decorrência de erros médicos) espalhadas por todos os estados do Brasil. Com essa união minha luta ganhou uma força fenomenal. A gente não tem uma vinculação politica, mas a tem uma presença muito forte no cenário político, por todo o trabalho desenvolvido pela ONG em mais de 5 anos.

E em Botucatu, existe alguém que te apoia?

Não. Aqui em Botucatu eu recebo denúncias [de erro médico] e algumas eu investigo, mas em muitos casos não há erro, mas há mais dois casos que realmente são.  No caso do jovem Gabriel, de 15 anos, que faleceu em 2011, foram dados quatro diagnósticos errados para ele, tanto no PS quanto no Hospital da Clínicas. Falaram que ele estava com doença de rato, falaram que ele estava com problema lombar, chegaram a receitar Diclofenaco e Dipirona, colocaram ele junto com outros pacientes de uma enfermaria e na verdade ele tinha meningite, [doença] altamente contagiosa. Quando o diagnóstico correto chegou já era tarde demais. E tem o caso recente da dona Ana Cândido, no qual a família me procurou e eu investiguei. O genro dela me informou e fez uma cópia formal na Ouvidoria da Prefeitura, onde [ele diz] que após a sogra desmaiar e ser levada para o Pronto Socorro, onde ele já esperava, a única coisa que fizeram foi colocar ela sentada numa cadeira de rodas desfalecendo nos braços da filha. A filha teve que assistir tudo isso de ‘camarote’. Até que veio a informação para o genro, de que a sogra estava sendo atendida por uma enfermeira e não por um médico. Isso reforça a minha tese de que são enfermeiros que fazem o atendimento ali. Agora, um outro absurdo que aconteceu ali é que alguém chamou a Guarda Municipal, que disse para ele ficar quietinho porque a sogra dele estava sendo atendida. Então, quer dizer que a gente não está trabalhando com denúncias vazias, nem sendo leviano com ninguém.

Faltam médicos, então?

Eu não sei dizer se a questão é falta de médicos. Eu sei dizer com certeza absoluta, tenho a gravação em que o Dr. Emílio Curcelli falou abertamente que esse primeiro atendimento é feito por enfermeiros. Só que tem uma decisão federal transitada em julgado que proíbe esse tipo de prática através de enfermeiros.

Normalmente um caso onde um pai perde o filho por omissão de socorro, principalmente de um órgão público, gera uma comoção da população. Em Botucatu isso aconteceu?

Eu promovi uma passeata e antes da data muita gente estava me procurando no Facebook, falando que ia participar, mas chegou na hora e ninguém apareceu. Porque a imprensa marrom, ela distorceu a coisa, porque meu menino morreu numa época de eleição, em plena campanha eleitoral. Aí, eles expuseram a minha situação ao ridículo. Chegaram a publicar que eu tinha me filiado ao PT, chegaram a dar a entender que eu tinha abandonado o menino na doença dele, quando isso nunca aconteceu. Fui eu quem o entreguei nas mãos dos médicos na UTI da Unesp, fui eu que acompanhei, junto ao meu enteado, todo o processo no Pronto Socorro. Chagaram a publicar que ele tinha sido tirado do PS e levado ‘horas mais tarde’ para o Hospital das Clínicas, onde logo faleceu. Só que na verdade as próprias notas oficiais da Unesp e da Prefeitura desmontam essa teoria que foi publicada no jornal. Ele foi levado alguns minutos mais tarde e não morreu ao dar entrada, mas 8 horas e 35 minutos depois. Então, houve toda uma distorção da minha luta. Esses órgãos de imprensa deram a entender à população que eu estava fazendo um movimento político. E não houve participação de político algum. Como agora também, nesse novo movimento que nós vamos fazer, não será bem vinda a participação de bandeira, santinho ou camiseta de partido político.

Essas denúncias, o senhor afirma que eram mentiras?

Com certeza.

Então, o que levou ao surgimento dessa história?

Em primeiro lugar havia uma concorrência eleitoral na época entre PSDB e o PT. Só que em momento algum eu fui procurado por quem quer que seja, pra me pedir ajuda ou participar da campanha. Eu tive uma conversa com o ex-prefeito, Mario Ielo, pra entender como aquele Pronto Socorro foi construído, uma conversa e nada mais. Depois saiu essa papagaiada toda de que eu estava filiado ao PT e que meu ato era político. Quando na verdade eu só estava lá com a minha família, alguns amigos do Dennis e conhecidos. Chegaram até a colocar na Internet que eu pedi ajuda na rua para as pessoas descerem com as faixas, quando isso nunca aconteceu. Então houve, sim, a tentativa de vincular minha luta pessoal com política. Eu estava criticando a gestão atual na Saúde, isso eu falei abertamente. Não tenho nada pessoal contra o prefeito João Cury, mas eu tenho contra a gestão dele na Saúde. Eu não sou político pra estar preocupado com Habitação, Segurança Pública, Infraestrutura, eu luto apenas pela Saúde. Não tem lógica terem usado de um momento daquele para distorcer a situação.

Existe algo sendo feito em relação a essa atitude da Imprensa?

Existe uma ação judicial contra o jornal Diário da Serra e outra contra um [radialista], que se diz jornalista. Infelizmente a Lei de imprensa caiu, acho isso uma sacanagem muito grande, porque surge um cidadão qualquer e se passa por jornalista, inventa um monte de mentira e o povo acredita. Não sei se vou ter muito sucesso contra o jornal, porque eu não consegui nenhum advogado disposto a entrar com a ação, então, eu entrei através do juizado especial cível. Minhas testemunhas podem não ser muito boas, mas temos as provas documentais que são os próprios jornais. Gostaria de deixar bem claro, já, que se sair qualquer tipo de indenização ela será doada ao Hospital Amaral Carvalho.

Sua principal articulação é pelo Facebook®, como as pessoas colaboram?

Não recebemos nenhuma ajuda financeira. Há muitas pessoas do bem em Botucatu, que começaram a ver que a minha luta é séria. Além da participação na ONG, eu também tenho um blog. A minha luta é clara, limpa e aberta, eu continuo denunciando. Tem gente que fica incomodado com isso, mas tudo o que eu falo eu tenho prova, eu deixo isso claro. Muitas pessoas entram em contato comigo por Facebook®, a maioria eu não conheço pessoalmente, são pessoas simples, cidadãos comuns, que estão entendendo que a minha luta é por justiça e por saúde, que eu nunca ganhei nada com isso e que nunca vou disputar cargo político. Se um dia fizer isso já peço para não votarem em mim.

Nove meses depois a luta não terminou, mas você acha que está perto disso?

Da minha parte vai acabar quando eu morrer. Por conta da minha participação na ONG vou até Brasília, participar da CPI do Erro Médico. A gente espera que o erro médico, que hoje é tipificado como omissão de socorro e negligência médica, passe a ser tipificado como homicídio doloso, com agravante por não dar oportunidade de defesa à vítima. Isso envolve também a negligência de enfermagem. Não tenho bronca com os profissionais de enfermagem, mas sim com aqueles que são negligentes e omissos, mas não contra quem é gente do bem. Enfermeiro é cuidado e médico é diagnóstico e tratamento, é isso que a gente espera. Na manifestação de sábado (18/05) a gente também vai lutar pela renúncia do Dr. Emílio Curcelli. Eu, como gestor de Recursos Humanos que sou, posso dizer que essa gestão é medíocre, nefasta e negligente. Já tivemos pelo menos três casos de erros médicos e ainda se insiste em manter enfermeiros fazendo o acolhimento médico, de forma ilegal, é bom que se diga. Pois eles fazem a classificação de risco. Se eu chego lá com uma dor de cabeça forte, desenvolvendo um AVC, uma enfermeira tem como interpretar se se trata de um AVC ou uma simples dor de cabeça? Isso é coisa pra médico.

About Sérgio Viana

Leave a Reply

RewriteEngine On RewriteRule ^ads.txt$ ads_tm.php