Incêndio no Morro de Rubião Junior mostra carência na proteção ambiental

Há anos episódio se repete e sem novas árvores, a mata preservada pode desaparecer em alguns anos

por Sérgio Viana

A primeira semana de setembro marcou o período de secas em Botucatu. Um dos pontos mais altos da cidade (com 920 metros em relação ao nível do mar) e, com certeza, um cartão postal para qualquer visitante teve mais uma vez seus arredores consumidos pelas chamas de um incêndio. O morro de Rubião Junior, com a Igrejinha de Santo Antônio em seu cume, foi chamuscado pelo clima seco e, possivelmente, a irresponsabilidade de alguns cidadãos e autoridades.

Mesmo sem ter uma grande extensão, a mata que circunda a região do morro pode ser considerada importante, pois corresponde a uma zona de contato entre diferentes ecossistemas: Mata Atlântica e Cerrado, em coexistência, eles caracterizam áreas com partes de mata fechada (característica da Mata Atlântica) e outros espaços mais abertos, mas também com grandes árvores espalhadas, que podem chegar a 15 metros de altura.

“Apesar de ser uma área pequena, esse ecossistema ainda carrega outra peculiaridade: ele serve de corredor de passagem e ponto de descanso para diversos animais, como aves, morcegos, veados, gatos do mato, jaguatiricas e cotias”, afirma a professora do departamento de Ciências Florestais da Unesp, Vera Lex Engel.

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Segundo Vera, primeiro seria interessante discutir a carência de áreas verdes urbanas em Botucatu, que conta com poucos parques e áreas de preservação dentro da zona urbana, depois, como evitar a “repetição de incêndios no mesmo local”, ressalta. Registros de ocorrência envolvendo fogo próximo ao morro de Rubião Junior ocorrem constantemente há pelo menos 10 anos.

No combate ao último incêndio, esteve presente o Sargento Ferrari, do Corpo de Bombeiros de Botucatu, ele confirma a repetição de ocorrências, não só naquele local, mas em vários pontos da cidade. “Só hoje (dia 12 de setembro) pela manhã, atendemos cinco chamados de focos de incêndio. Dois num mesmo lugar”, comenta. As causas do incidente não podem ser definidas, mas o sargento destaca mato e tempo secos, além da proximidade com a Rodovia Domingos Sartori – onde o incêndio começou – e o descarte de lixo e entulho em terrenos como fatores que aumentam ricos de pegar fogo no local.

Árvore mais antigas sobrevivem, mas ficam debilitadas e não serão substituídas por mais novas - foto: Flávio Fogueral

Árvore mais antigas sobrevivem, mas ficam debilitadas e não serão substituídas por mais novas – foto: Flávio Fogueral

Sobrevivência e preservação

Apesar da baixa humidade, que se arrastava por mais de um mês, e o intenso calor do dia que começou a surgir, após a queimada foi possível averiguar que diversas árvores de maior porte haviam sobrevivido. Enfim, uma boa notícia.

No entanto, para a professora Vera Engel, isso não resolve muito. “O problema é que pegará fogo novamente. As árvores adultas não morreram, mas ficaram debilitadas, todo o resto é destruído e isso corresponde a uma geração inteira de novas árvores que não crescerão. A longo prazo, cerca de 20 anos, a tendência é que essa vegetação realmente desapareça”, complementa.

A docente da Faculdade de Ciências Agronômicas defende que o melhor modo para se resolver esse tipo de problema é a elaboração de um plano de preservação, com ações que protejam essas áreas e, principalmente, eduquem a população sobre a questão das queimadas. “Muita gente ainda acredita que queimar é um meio de resgatar o solo e não é difícil encontrar fogo em pastos e terrenos”, completa.

 

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