Conhecendo o País Vermelho- Longe de Casa a mais de uma semana…

por Ronaldo Fogueral* 

Talvez sempre pense nas coisas que deixei e que como um imã, através da grande atração de pensamento me retorna.

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O garoto de três anos ficou surpreso ao ver um estrangeiro pela primeira vez

Quando estive no início da preparação das coisas para a viagem não conseguia pensar na saudade que teria das coisas que deixaria para trás, ao decorrer do tempo, fui, por várias pessoas, alertado como seria ruim sentir saudade das pessoas que deixaria. Minhas respostas eram sempre as mesmas, que era questão de costume, ao qual estaria muito ocupado e por conseqüência, cansado para pensar em ter saudades. Foi onde me peguei desprevenido,  o tempo passou, os dias chegaram e a cada momento penso em todos que estão do outro lado do mar. Penso nas situações em que estaria lá com eles, mas também tento encaixar cada um que me importo nos momentos e situações que passo por aqui, sim, já desejei que algumas pessoas passassem frio comigo.

Porém, por outro lado, fiz algumas amizades aqui. Sei que são temporárias, umas tão rápidas quanto se pisca os olhos. Em certo momento nessas minhas idas e vindas pelo metrô de Pequim (Beijing) um garoto de mais ou menos 3 anos de idade ficou surpreso ao ver um estrangeiro-talvez fosse o primeiro contato.Pela sua cara de curiosidade percebia que ele se referia a mim para sua mãe, sentou ao meu lado e logo tentei puxa papo: Ni Hao (o nosso famoso ‘olá’).

O garoto ficou ainda mais surpreso de como cara alto e loiro, “alemãozão” falava chinês, mas cedeu, após eu ter gasto todo meu mandarim no nosso dialogo de cinco palavras peguei uma folha da minha caderneta de anotações (onde sempre carrego, preciso anotar imediatamente alguns acontecimentos), desenhei-lhe um “pica-pau”, a única coisa que aprendi a fazer nas aulas de Artes, o garoto ficou maravilhado com o rabisco, que não deixou sua mãe guardar o papel, esse foi meu “My Little Friend”

Em outro lado, conhecemos um rapaz, Gu Jie de 23 anos estudante de Sanda (boxe chinês) aqui da universidade. Um rapaz tímido e bem humilde, vindo de família pobre sem muita perspectiva de grande sucessos dentro do esporte. Talvez como treinador ou algo do tipo, difícil entender seu objetivo assim como seu inglês e um mandarim arrastado (típico dos pequineses).

Um garoto que me chamou atenção pelo fato de estar disposto a nos ajudar, mesmo que no inicio tenha sido a pedido de seu chefe, e nosso professor de Xing Yi, Gu tornou um amigo aqui na China, onde presentei-lhe com uma camiseta de treino de nossa academia, em um jantar simples porém proveitoso. Já havíamos nos encontrado antes sempre com alguma missão: nos ajudar, porem nesse jantar foi algo sem o compromisso diário e o seu dever era ficar tranqüilo, por essa razão tenha sido memorável para ele.

Ainda tenho o professor Zhang, um grandalhão, três vezes Campeão Mundial de Sanda e uma pessoal totalmente desprovida de qualquer maldade, trata-se de um pai de família, professor muito respeitado pelo seu histórico e agora classificado por mim como meu primeiro amigo grande amigo na China. Dias atrás machuquei meu pé numa torção boba onde teve inchaço e chateação por talvez não conseguir fazer as aulas direito, em um jantar marcado com Zhang Laoshi, foi um dia que deu quase tudo errado, o metrô lotado, o frio trincava nosso rosto e o pé doendo por ter que andar muito, resolvi não ir ao encontro e ficar com o pé pra cima, mas sua persistência na minha presença foi grande que estacionou o carro na porta do hotel, mandou buscar-me no quarto e de sobre nos presenteou com uma caixa de morangos e maçãs. Não pude recusar os inúmeros brindes que fizemos pela nossa amizade.

Tanto o garoto sem nome do metrô, quanto Gu e Zhang serão pessoas que o destino jogou-as na minha vida por algum propósito e sem questioná-lo tentei aproveitar da melhor maneira, com a idéia de que pode ser que um dia jamais os veja novamente, porém há a satisfação de saber que um dia passei por suas vidas e que eles fizeram a diferença nessa minha importante viagem.

Há mais de uma semana foi um texto onde expressei os pensamentos que acabaram aflorando em mim durante esse um mês fora de casa e sendo assim posso afirmar com isso que é onde você  volta a acreditar na linguagem do amor e em suas infinitas possibilidades.

*Ronaldo Fogueral é professor da Academia Shaolin de Kung Fu e vai passar dois meses na China.Para saber mais sobre a sua jornada, acesse a matéria publicada pelo Notícias.Botucatu aqui.

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