Por que é feriado? Conheça a "Revolução Constitucionalista de 1932"

Data marca a revolta do Estado de São Paulo contra o Governo de Vargas, evento que incrementou a identidade paulista

por Sérgio Viana com colaboração de Diane Dierckx

movimento paulistaDia 9 de julho é um dia peculiar no calendário brasileiro, especialmente para os paulistas. Afinal, somente no estado de São Paulo é que se comemora ou tira-se folga por ser feriado. A data, oficialmente, serve para que os cidadãos paulistas relembrem de 1932, quando começou a luta contra as tropas do primeiro governo de Getúlio Vargas, a chamada “Revolução Constitucionalista”. Mas ao certo, quem sabe por que São Paulo teria se revoltado e a quais interesses culminaram em 87 dias de combate e cerca de 2 mil mortos nas trincheiras?

O próprio nome – “Revolução Constitucionalista” – revela o mote principal do movimento: conseguir com que Getúlio instituísse uma assembleia que formatasse uma nova Carta Magna para a nação brasileira, visto que ele havia anulado o documento redigido em 1891, ainda pelos generais que instituíram a República após derrubar Dom Pedro II. No entanto, é de se estranhar que apenas São Paulo, e mais tarde o Mato Grosso do Sul, apoiasse tal ideia contra o restante das unidades federativas. Até Minas Gerais, que compunha a chamada ‘política do café com leite’, onde se alternavam na presidência fazendeiros paulistas e mineiros, ficou ao lado de Getúlio para conter o povo de Piratininga.

Para esclarecer como se formou o movimento Constitucionalista de 1932 e sanar algumas dúvidas, o Notícias.Botucatu conversou com a professora de História, Diane Dierckx, que leciona em diversas escolas do ensino médio de Botucatu e em cursinhos pré-vestibulares. Confira as informações sobre diversos aspectos desta data tão importante para os paulistas.

Antes de 1932: Getúlio chega ao Poder

getulio vargas 1930Os paulistas estiveram no poder durante o início da república brasileira (1889-1930). Naquele momento, alternavam-se no poder presidentes mineiros e paulistas em um jogo político chamado de “política do café com leite”. Em 1930, no entanto, o presidente paulista, Washington Luís, rompe a aliança com Minas e indica Júlio Prestes – também do estado de São Paulo – para a eleição que acaba vencendo. Minas Gerais alia-se aos estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba que unidos, por meio de um golpe ou revolução, colocam o gaúcho Getúlio Vargas no poder. Vargas governa de maneira autoritária: fecha o Congresso Nacional, anula a Constituição de 1891 e nomeia interventores – substituindo os governadores depostos. São Paulo, além de uma nova Constituição, queria também a saída do interventor pernambucano em troca de um paulista.

Estopim: Em 1932, São Paulo declara guerra

MMDCHavia um movimento, iniciado na década de 1920, entre os oficiais de média e baixa patente do Exército brasileiro, chamado de tenentismo. Boa parte destes eram favoráveis à Getúlio Vargas e eram recorrentes as brigas entre os “tenentes” e os alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em sua maioria filhos da elite paulista, que faziam oposição ao governo federal. No dia 23 de maio de 1932, cinco estudantes morrem em decorrência dos conflitos – as iniciais de seus nomes deram origem a sigla MMDC (Martins, Miragaia, Draúsio e Camargo. Acrescentou-se o A, de Alvarenga, posteriormente). Em 9 de julho do mesmo ano, com a ajuda dos meios de comunicação, o movimento ganha apoio popular. A imprensa teve papel de destaque. Especialmente a Rádio Record e o jornal ‘O Estado de São Paulo’, que utilizavam discursos e imagens de alto teor apelativo, conclamando o cidadão a lutar contra as tropas de Getúlio. revolucao constit jornal

Quem conclamou a ‘Revolução’?

Basicamente, os conflitos de 1932 se caracterizaram por uma disputa pelo poder federal, em que se opunham os cafeicultores paulistas e as oligarquias agrárias do restante do país. Internamente, os fazendeiros, estudantes universitários e profissionais liberais, representados pelo PRP (Partido Republicano Paulista) e pelo PD (Partido Democrático de São Paulo) – que no início apoiava Getúlio.partido republicano paulista

O termo “Revolução Constitucionalista” é hoje questionado, assim como o fato tem sido muito debatido, gerando diversas controvérsias. Não havia o intuito de alterar as relações de poder ou do sistema. O que se desejava era a normatização do processo eleitoral e da legislação, portanto, neste caso, seria mais coerente se falar em uma guerra civil ou uma revolta. Se lembrarmos de que São Paulo tinha interesse em resgatar o poder que detinha antes de 1930, podemos pensar também que houve um contragolpe ou, ainda, uma contrarrevolução. Contudo, é importante pensar o uso ideológico do movimento de 1932 na construção da identidade paulista e o uso simbólico feito pelos separatistas do Estado de São Paulo. Estes últimos, inclusive, presentes entre as lideranças do movimento armado paulista.

Luta de um Estado só?

A região que é hoje chamada de Mato Grosso do Sul apoiou o estado de São Paulo. No entanto, a região norte do estado do Mato Grosso apoiava o governo de Getúlio Vargas. As tropas sul-matogrossenses nunca conseguiram chegar ao estado de SP, sendo combatidas pelos seus vizinhos nortistas. Então, embora houvesse possibilidade de outros governos virem em auxílio aos paulistas, o estado de São Paulo ficou isolado, possibilitando uma série de conflitos armados que ficaram conhecidos na história oficial como “Revolução Constitucionalista de 1932”.

paulistas revolucao trincheira

Após quase três meses de batalhas, chega ao fim o conflito com a derrota dos constitucionalistas. Ao todo, foram 35 mil paulistas contra 100 mil soldados do governo Vargas. Com o término, o governo federal convocou eleições para uma Assembleia Constituinte, que promulgou a Constituição de 1934 – os cafeicultores paulistas continuaram afastados do poder e foi a primeira vez que as mulheres puderam votar no Brasil.

Identidade Paulista

Para os paulistas, o ano de 1930 afasta do poder federal os interesses de sua elite, estimulando os fatos que culminaram em 1932. O movimento armado paulista pregou a falsa ideia do estado de São Paulo como ‘locomotiva do país’, com um discurso “branco” e conservador que perdura até os dias de hoje. Todavia, o movimento estimulou a busca por uma identidade paulista – ainda por ser definida, mas sempre associada à imagem do bandeirante como desbravador e responsável pela grandeza do país.

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