Os botucatuenses que viveram o ‘Mineirazzo’

A maior derrota sofrida pelo Brasil na história das Copas teve um botucatuense nas arquibancadas do Mineirão

por Flávio Fogueral. Fotos: José Eduardo Moressi

Todo o enredo prometida uma tarde inesquecível para o torcedor brasileiro. O estádio Magalhães Pinto (o Mineirão) lotado. O verde e amarelo coloriam as arquibancadas na Copa das Copas. O hino à capela empurrava, até então, uma seleção que sofreu para se classificar nas oitavas de final e nas quartas da Copa do Mundo.

Milhares de pessoas acompanharam, incrédulas, à goleada alemã

Milhares de pessoas acompanharam, incrédulas, à goleada alemã

O drama que a seleção brasileira viveu nos dias anteriores com Neymar, seu principal jogador, sendo cortado da equipe devido a uma fratura na vértebra. Thiago Silva, capitão e principal zagueiro, suspenso e a tensão criada por enfrentar a Alemanha em uma semifinal. Os europeus faziam até então uma campanha regular e na primeira partida do torneio, venceram Portugal de Cristiano Ronaldo por 4 a 0, mas tiveram dificuldades com seleções africanas, teoricamente mais frágeis: Empate com Gana e vitória na prorrogação com Argélia.

Até então Brasil e Alemanha se enfrentaram apenas uma única vez em Copas do Mundo. Na final da Copa do Japão e da Coreia do Sul, em 2002, quando a seleção canarinho levou a melhor diante dos europeus e conquistou o pentacampeonato.

Caras fechadas e determinadas. A câmera flagrava os jogadores da seleção que sentiam o peso da ocasião. Com o apito inicial, a pressão brasileira funcionou nos minutos iniciais. Mas sem resultado. Até que Miroslav Klose, sem marcação e sozinho, abre o placar para os alemães. O atacante se tornou, ali, no gramado mineiro, o maior artilheiro da história do torneio mundial. Superou Ronaldo, o fenômeno, que assistia e cornetava o baile alemão das cabines de imprensa.

No decorrer da partida, falhas individuais e coletivas. O que o técnico Luiz Felipe Scolari chamou de ‘apagão’ se transformou no pior pesadelo de uma nação: 7 a 1 para a Alemanha. A desclassificação da Copa das Copas e uma ‘honrosa’ disputa pelo terceiro lugar diante da Holanda (que eliminou o Brasil na Copa de 2010).

A goleada foi a pior derrota da seleção na história das Copas, sendo chamada por muitos de ‘Mineirazzo’, em alusão ao Maracanazzo da Copa de 1950, quando a seleção perdeu o título para o Uruguai, em casa.  O sonho do hexacampeonato foi adiado de forma humilhante, com choro da torcida e decepção dos milhões de brasileiros que acompanhavam o jogo. Muitas imagens ficarão marcadas. O choro, a decepção dos torcedores vão ficar na história.

Ingressos para a partida foram comprados de última hora

Ingressos para a partida foram comprados de última hora

José Eduardo Moressi  e seu irmão João Roberto estavam entre as 58.141 pessoas que estiveram no Mineirão, no jogo que é considerado o maior fracasso do futebol brasileiro. O botucatuense viu cada lance da goleada da Alemanha sobre o Brasil. E em cada gol marcado pelos europeus, percebia o semblante incrédulo dos torcedores a seu lado. Sentia que ali era o adeus à Copa que tanto quis ver. Mas não daquela maneira.

“Ainda no primeiro gol a torcida apoiava, aplaudia a seleção. Sentia que ainda dava para mudar aquele placar. Mas depois do segundo gol foi a decepção. Tinha gente que ainda no primeiro tempo deixou o estádio. E muitos choravam. Vi uma bandeira do Brasil deixada no chão em meio às cadeiras vazias”, relata.

Os torcedores botucatuenses conseguiram os ingressos na madrugada de domingo, adquiridos diretamente no site da Fifa, após algumas tentativas frutadas. Antes, Moressi havia tentado ingressos para o jogo de abertura da Copa, em São Paulo. Na ocasião não conseguiu comprar pelo sorteio da Fifa. Foi até à frente do estádio, em 12 de junho, para comprar os ingressos. Cambistas ofereciam as entradas por até R$ 4 mil. Corintiano, fazia questão de estar na Arena Corinthians, construída para a abertura do torneio. Mas o destino o levou para assistir às semifinais. 
Com pouco tempo para se planejarem, tentaram comprar passagens aéreas a Belo Horizonte, porém todas esgotadas. Acabaram fazendo uma viagem de aproximadamente dez horas de ônibus até a capital mineira para verem a partida.
João e José Eduardo enfrentaram horas de viagem de ônibus para acompanhar a partida

João e José Eduardo enfrentaram horas de viagem de ônibus para acompanhar a partida

Ao chegar em Belo Horizonte foi contagiado pelo clima da Copa e o contato com outros torcedores o fez acreditar na vitória da seleção brasileira. “A Copa contagia a gente. Ficamos ao redor do estádio. Eram milhares de brasileiros, argentinos e chilenos, holandeses e alemães. Ficamos perto da torcida da Alemanha. Eles deram um show. Não desacreditaram na equipe em momento algum ”, disse Moressi.

“Estar em uma semifinal da Copa no Brasil era um sonho. Mas a goleada foi uma situação que não imaginava ver – o choro foi  de decepção e não de alegria. O jogo terminou e ainda assim não acreditávamos. Era algo que nos anestesiou, um clima de velório ao sair do estádio. Esperávamos que seria uma partida equilibrada. Mas não havia um padrão de jogo naquele time”, criticou. José Eduardo ficou em um setor atrás do gol brasileiro no segundo tempo. Viu os dois ataques que sacramentaram os 7 a 1 a favor dos europeus.

“Fora do estádio as pessoas se perguntavam o que havia acontecido. Não acreditavam na goleada. Se o Brasil tivesse que perder, que fosse lutando, disputando. Mas 7 a 1 é algo irreal, que jamais esperavam. Até a torcida da Alemanha tentava incentivar os brasileiros”, disse o torcedor.

Mesmo tendo vivido uma partida atípica, Moressi não se esquece da experiência estar na Copa no Brasil. “Tenho orgulho do Brasil. Fui ao estádio em um jogo atípico. Mesmo assim acreditei e torci pelo meu país. Poderia ter sido melhor se a vitória fosse brasileira, nas não deixou de ser uma experiência sensacional. Realmente era a Copa das Copas”, finaliza.

Assim como Eduardo, milhares de botucatuenses e milhões de brasileiros viveram, no 8 de julho, a maior tragédia do futebol brasileiro.

Leave a Reply

RewriteEngine On RewriteRule ^ads.txt$ ads_tm.php