Eliminação vexatória na Copa do Mundo coloca futebol brasileiro em xeque

Outro ponto de interrogação paira sobre o cargo de treinador da Seleção para os próximos quatro anos

da Agência Brasil  

Atuações fracas e futebol pouco inspirado marcou o Brasil na Copa

Atuações fracas e futebol pouco inspirado marcou o Brasil na Copa

O quarto lugar na Copa do Mundo do Brasil encerrou o vigésimo ciclo de Copa do Mundo para a Seleção Brasileira, que já começa a mirar o Mundial da Rússia. Mas, diferentemente de anos anteriores, a forma vexatória – com as piores derrotas do time canarinho em sua história –  com a qual o único pentacampeão do mundo foi derrotado acabou colocando desde a escola brasileira à estrutura que sustenta o esporte no país em xeque. “O futebol brasileiro está parado no tempo. Temos que reconhecer que o Brasil não tem mais o melhor futebol do mundo”, conclui o ex-lateral-esquerdo Gilberto, que defendeu a Seleção nas Copas de 2006 e 2010.

“A maneira com que o Brasil caiu nestes dois jogos finais não deve ser esquecida. O que aconteceu deve servir de lição para tocar uma reformulação da CBF e dos clubes”, avalia Antônio Lopes, que foi coordenador técnico da comissão técnica em 2002. “Temos que lançar um olhar sobre todos os setores e ângulos, porque o futebol brasileiro precisa ser chacoalhado. Até para dar uma satisfação para o torcedor”, aponta Batista, ex-volante da Seleção, que esteve nas Copas de 1978 e 1982.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade que controla o futebol no país é apontada como uma das principais responsáveis pelo fracasso dos comandados de Felipão. “Os que dirigem o futebol nacional não deram as caras, se esconderam em ambas oportunidades. Como de costume, evitaram e evitarão ao máximo falar sobre as propostas para o futuro”, criticou o zagueiro Paulo André, um dos líderes do movimento Bom Senso Futebol Clube, em seu perfil no Facebook.

Para Antônio Lopes, a CBF precisa ser mais atuante: “É preciso trazer mais profissionais do futebol e atuar mais em cima dos clubes, para que eles possam fazer o trabalho de formação de talentos de uma maneira mais eficiente”. Gilberto conta que a entidade não costuma dialogar e trocar experiência com veteranos: “Você liga na CBF para conversar e expor sua opinião e nunca consegue ser ouvido. Esta é a hora de chamar mais gente para participar. Ex-jogadores, jogadores, árbitros, sindicatos de jogadores, a imprensa, todos precisam ser chamados para propor soluções”.

Ex-técnico da Seleção na Copa de 2010, Dunga endossa esta opinião: “Eles (os jogadores) precisam entender que vai haver a crítica e que é preciso que isso seja superado. As gerações se criam durante os momentos de dificuldades. Como uma Copa é uma competição curta, sem tempo de recuperação, estes jogadores precisam ser maduros, assimilar o golpe e reagir. Se isso acontecer, acredito que muitos deles tenham tudo para permanecer”, disse o capitão do tetra ao site oficial da Fifa.

Em seu texto, Paulo André defendeu uma democratização da CBF. Atualmente, apenas presidentes de federações e dos 20 clubes que estão na Série A têm direito a voto na eleição para presidente da entidade. Haverá troca de comando em abril de 2015, quando José Maria Marin será substituto por Marco Polo Del Nero, candidato único eleito nas eleições de abril deste ano.

“Sobrevivente” da tragédia do Sarriá, quando a brilhante Seleção de 1982 caiu diante da Itália, Batista atenta para o despreparo psicológico dos jogadores, que, com um time muito jovem, sucumbiu diante da pressão de buscar o título em casa: “Faltou experiência e estrutura psicológica. Estes jogadores valem milhões, são reconhecidos aqui e lá fora por ter talento, jogam bem em seus clubes e foram praticamente unanimidade quando foram convocados. Alguns deles são a base do time que teremos daqui a quatro anos. A questão é o amadurecimento, que só virá com o tempo”.

Felipão: de comandante do penta a responsável pelo fiasco de 2014?

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Treinador e comando 

Outro ponto de interrogação paira sobre o cargo de treinador da Seleção para os próximos quatro anos. Luiz Felipe Scolari pediu demissão do cargo por conta das goleadas para a Alemanha e Holanda: “É evidente que precisa de uma mudança na comissão técnica, até para reconquistar o apoio da torcida e da imprensa. Mas o perfil de treinador da Seleção é diferente. Ele chega para fazer um trabalho mais demorado, pensando em 2018. E a paciência está pouca”, alerta Batista.

Antônio Lopes prega uma transição mais cautelosa: “Não devemos agir prematuramente. Por exemplo, a comissão técnica não precisa ser toda trocada. O Alexandre Gallo, técnico das seleções de base, poderia assumir interinamente enquanto pensamos em novos nomes”. A ideia de trazer um técnico estrangeiro é descartada por Lopes: “Não sou favorável. Vários clubes do país já tentaram e não deu certo”. A retenção de jogadores formados nas categorias de base é um problema que chamou a atenção até da presidenta Dilma Rousseff, que, em seu perfil no twitter, afirmou que o Brasil “quer, sim, acabar com a Futebrax e deixar de ser um mero exportador de talentos”.

“Antigamente uma Seleção Brasileira tinha vários jogadores talentosos. Em 2002, contávamos com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. Agora, nós só tínhamos o Neymar. Regredimos bastante e os talentos não têm aparecido. É preciso formar e segurar esses jogadores aqui”, diagnostica Antônio Lopes, que defende uma legislação que impeça jogadores menores de 18 anos de se transferirem para clubes estrangeiros.

Batista lembra que a questão financeira justifica a ida precoce para o exterior: “As pessoas falam que devemos evitar que o jogador saia cedo demais. Mas como vamos segurar, para que ele seja visto aqui, se o time europeu chega com propostas altíssimas e valores com os quais não conseguimos competir? Como a gente vai pagar se ele tem a chance de cuidar do futuro dele lá fora?”, questiona.

Até 2018, o Brasil terá pela frente a Copa América de 2015, as eliminatórias e jogos amistosos – se vencer a competição continental, está classificado para a Copa das Confederações, em 2017. Já em setembro, a equipe verde e amarela vai se reunir para jogar contra a Colômbia e o Equador. As partidas acontecerão nos Estados Unidos. Em outubro, a Seleção faz o Superclássico das Américas contra a vice-campeã mundial Argentina, em Pequim, e fecha o ano em novembro, em duelo contra a Turquia.

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