A roda brasileira da economia está enferrujada

Importante ressaltar que agora o Brasil conta com uma vibrante classe média, cada vez mais numerosa girando a roda da produção e dos serviços

Marcos Alegre*

Marcos Alegre é professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT)/Unesp e ex-diretor dessa mesma instituição

Marcos Alegre é professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT)/Unesp e ex-diretor dessa mesma instituição

Neste texto pretendo mostrar as contradições constantes na mídia dos grandes centros sobre aspectos da política econômica deste país. Ocorrem aqui dois momentos bem distintos: O primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), e o segundo mandato após a reeleição. Por esconder dados importantes, mas contrários ao que o seu governo dava a entender que, sobretudo a economia, caminhava muito bem e, por isso ela foi acusada de promover estelionato eleitoral e atraiu, para si, a ira das multidões e os ataques dos grandes especialistas que atuam nessa mídia. Entretanto, alguns desses tais especialistas, em edições dos impressos publicados no período do primeiro mandato enalteciam os feitos do governo e escreviam algumas coisas que vou resumir para mostrar ao fiel leitor.

O melhor exemplo do ufanismo de aliados da senhora presidente que vou citar é o empresário Michael Klein na Folha de S. Paulo em 3 de janeiro de 2012: O Brasil parece estar trilhando o caminho certo em direção a uma sociedade mais justa. Considerando as nações mais industrializadas do mundo, a distribuição de renda no Brasil vem apresentando melhoras significativas, ano após ano. E uma tendência dessa envergadura social, não poderia estar acontecendo por acaso mas sim graças às políticas públicas dirigidas à baixa renda, como o Bolsa Família, mas também pela emergência de um extraordinário mercado interno do consumidor brasileiro.  É ele o grande motor gerador de nossa riqueza que já incorporou 32 milhões de consumidores das classes C, D e E agregando novos contingentes da população antes excluídos do mercado. Importante ressaltar que agora o Brasil conta com uma vibrante classe média, cada vez mais numerosa girando a roda da produção e dos serviços. Para atender a demanda de consumo em massa, nosso mercado interno cresce e assim cria mais trabalho, renda e dignidade. É bonito este quadro criado pelo empresário M. Klein que se esquece de alguns detalhes. A tão festejada ascensão da classe média causou euforia embora haja dúvida sobre quem são, realmente as pessoas que formam essa classe. A FGV (Fundação Getúlio Vargas) coloca os valores de R$ 1.064 a R$ 4.591 como renda mensal das famílias dessa nova classe média e que seriam cerca de 52% da população. Detalhe: Supondo que esses valores sejam mais ou menos corretos significa que nenhum jovem dessa classe poderia realizar um bom curso superior em uma universidade particular a menos que conseguisse financiamento. Terrível não?

Além disso, o senhor Klein esqueceu-se que os principais bancos brasileiros, confiantes nas promessas do governo, reduziram as taxas de juros que, por sua vez, deu mais fôlego ao crédito, um dos pilares do processo de desenvolvimento econômico que poderia levar ao regime de quase pleno emprego e sustentar certo endividamento e foi assim  que  parcela significativa dessa população, empolgada com sua nova condição, partiu para a oferta de crédito e acabou perdendo o controle e cerca de 22 milhões de  pessoas entraram na  base de inadimplentes. Estima-se que na, época, 60% deles tiveram dívidas superiores as suas rendas o que indica situação de insolvência. Tudo isto significa que uma a uma as promessas de campanha de Dilma Rousseff foram esquecidas. Dois milhões de moradias, 6 000 creches e pré-escolas, 10 mil quadras esportivas. Pouco disso foi feito. Entretanto a senhora presidente garantiu que tudo era factível.

No segundo momento, a convicção da então candidata sumiu na Presidência. Seu governo não aprendeu nem a explicar por que fez tão pouco do que jurou fazer. É bom lembrar que, a senhora presidente surpreendeu o país quando, em agosto do ano passado, declarou em uma entrevista que ficou surpresa e demorou a perceber que a situação estava muito ruim. Ela ficou sabendo que as famílias brasileiras perdem 16 bilhões de reais por mês de seu poder de compra. Com a inflação em alta, desemprego crescente, crédito restrito. É bom saber que o poder de compra das famílias é o grande propulsor da economia e está em queda pela primeira vez desde 2003. Será que a senhora presidente não percebeu que o rombo nas contas do governo ocorre por que a economia está no fundo do poço? Ela deveria ler o que Margaret Thatcher, uma das pessoas mais influentes do mundo escreveu: “Não existem recursos públicos, existem apenas os recursos dos contribuintes”. O que Thatcher diz é de fácil compreensão. Se a economia funciona bem há produção, há consumo, porque as famílias ganham poder de compra e, com isso a arrecadação de impostos cresce e evita rombo e o governo pode honrar seus compromissos. Entretanto, nada disso foi percebido e a situação, sobretudo da economia, continuou em rápida queda o que levou o país a ter, em maio deste ano, quase 12 milhões de desempregados.

Tudo levava a crer que não haveria outra solução para o país além do impeachment da senhora presidente cujo processo foi acolhido no Senado e a votação amplamente favorável ao impedimento (55×22) significa mais um passo que se dá na liquidação do governo Dilma Rousseff e não há tempo a perder, porque vivemos uma das piores crises da nossa história e o povo brasileiro não merece isso. E daí a urgência em desenferrujar a roda da economia. Vou fazer muitas orações para que o novo presidente consiga mudar esse trágico cenário, tão rapidamente, quanto possível.

*Marcos Alegre é professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT)/Unesp e ex-diretor dessa mesma instituição. Contato: maralegre@ig.com.br

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