Veterinário da Unesp desenvolve projeto em Portugal

Em Portugal, desenvolveu atividades extensionistas junto à Disciplina de Saúde Pública

da Assessoria da Unesp

José Rafael Modolo, professor do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, câmpus de Botucatu, retornou de um período de seis meses em Portugal, onde vivenciou uma troca de experiência profissional e intercâmbio científico com a Disciplina de Saúde Pública do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Évora, Portugal, com bolsa Capes.

JoseRafael Modolo
Pela sua atuação, o docente da FMVZ recebeu da Câmara Municipal de Évora uma carta de agradecimento público

Em Portugal, desenvolveu atividades extensionistas junto à Disciplina de Saúde Pública, da instituição portuguesa, e ao Serviço Veterinário Municipal e Clínicas Veterinárias.

O professor participou do projeto Évoracãovida – Évora em harmonia com animais de companhia, desenvolvido pelo Serviço Veterinário Municipal de Évora em parceria com a Universidade, com os objetivos de diminuir a população de cães e gatos abandonados, sensibilizar os proprietários para o recolhimento das fezes dos seus animais em espaços públicos e fortalecer o vínculo dono-animal. O projeto colabora na compreensão da interface entre animal, homem e meio ambiente, atendendo ao novo conceito mundial de atuação em saúde denominado “Uma Única Saúde”.

A motivação do projeto está  na constatção de que a relação entre homem e animal sem vínculo afetivo faz com que as pessoas acabem por abandonar ou descurem os cuidados aos seus animais de companhia, depois de perderem o interesse inicial do momento da aquisição. A posse pouco cuidadosa desses animais, irrefletida ou compulsiva, teria como principal resultado a grande quantidade de cães soltos nas vias públicas.

Para mudar este cenário torna-se imprescindível a implantação de um programa de desencorajamento ao abandono de animais, através de uma política de educação permanente em saúde e sensibilização sobre a atual situação de abandono e sobre a necessidade da posse responsável.

“A urgência de difundir o conceito de posse responsável, bem como a necessidade de medidas eficazes para solucionar problemas relacionados com o grande número de cães errantes, justifica a necessidade de trabalhos que objetivem este fim”, explica Modolo.

O docente acrescenta que, além de constituírem um fator de risco para a saúde pública pelo seu potencial na transmissão de doenças, os cães e gatos abandonados criam um quadro degradante nas cidades, pois ainda podem provocar acidentes de trânsito; agressões físicas a cidadãos; atropelamentos (com cadáveres nas ruas); dispersão do lixo das lixeiras; dejetos nas ruas, calçadas e praças; brigas entre si; intranquilidade; ninhadas indesejadas, reprodução descontrolada, animais desprotegidos expostos a maus-tratos etc.

É importante verificar que os custos para o município de Évora na captura, recolhimento, tratamento veterinário, manutenção e alojamento dos animais, eutanásia, incineração, adoção, limpeza dos espaços públicos etc. rondam mais 25 mil euros/mês. O custo direto das ações propostas pelo projeto é de 7 mil euros e tem como consequências consideráveis diminuições de gastos públicos e promoção da melhoria da qualidade de vida para os animais e para as pessoas.

“O quadro descrito tende a se agravar em proporções alarmantes se for considerado que apenas dois canídeos podem gerar até 67 mil descendentes em seis anos, aumentando consideravelmente os perigos para a saúde humana, para a cidade com consequentes acréscimos de gastos para o município”, esclarece o médico veterinário.

Como compete às Câmaras Municipais de Portugal procederem o controle das populações de animais errantes, de modo a salvaguardar a saúde pública, o meio ambiente e também na promoção da esterilização de animais, no contexto do agravamento contínuo de animais abandonados em Évora, urgia promover políticas de intervenção no âmbito da saúde pública veterinária que sejam capazes de reduzir a quantidade de cães e gatos abandonados.

Nesse contexto, o projeto desenvolvido por Modolo tem como objetivos: diminuir a população de cães e gatos abandonados; sensibilizar os proprietários dos animais para o recolhimento das fezes dos seus animais em espaços públicos; e fFortalecer o vínculo dono-animal.

Modolo acredita que é de importância capital intensificar as atividades de ensino e aprendizagem orientadas para enriquecer a construção de conhecimento dos alunos, incorporando conhecimentos capazes de induzir a mudança de hábitos e assim, poderem ser futuros agentes de transformação de práticas de saúde.

Essas atividades devem objetivar contribuir para a aprendizagem de boas práticas de saúde pública, educando educando os jovens para ações de cidadania. “Essa atitude contriibuirá ainda como fator gerador de debates de forma interdisciplinar, pois envolve questões relacionadas não só ao meio ambiente, mas à cultura, à saúde pública, à política, a problemas sociais e à economia”, esclarece o docente da FMVZ.

O projeto tem como público-alvo todos os munícipes de Évora, com exceção das campanhas de esterilização que são dirigidas exclusivamente à população comprovadamente economicamente carente.

O Plano de Ação Básico inclui Campanhas de esterilização de cães e gatos (a serem realizadas no Hospital Veterinário da Universidade de Évora com envolvimento dos alunos de Medicina Veterinária e em conjunto com a ARPA – Associação para a Redução Populacional e Abandono; Treino canino (permite a socialização e o estabelecimento de regras de convivência para que o cão possa viver em família e em harmonia com a sociedade, ao mesmo tempo que se reforça o vínculo com o seu dono, contribuindo para reduzir o abandono e promover uma posse responsável); e Campanha contra dejetos na via pública (propõe-se a sensibilização dos munícipes para o recolhimento de fezes nos espaços públicos por meio de várias ações em conjunto com Juntas de Freguesia).

Diante de um problema que deve ser do interesse do coletivo e em benefício deste, Modolo sugere que a cooperação deva abranger todos os estratos da população, independentemente do grau de escolaridade, idade, estrato social, profissão, etc.

O projeto foi aprovado pela Câmara Municipal de Évora e, posteriormente, foi assinada uma Declaração de Intenções entre a Câmara e o Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Évora para sua execução com a participação dos alunos.

Pela sua atuação, o docente da FMVZ recebeu da Câmara Municipal de Évora uma carta de agradecimento público, assinada pela médica veterinária Margarida Câmara, com os seguintes dizeres: “A sua simpatia, dedicação e envolvência demonstram como ama a Saúde Pública, e transformam nosso caminho para “Uma Única Saúde” num caminho leve e tão mais interessante. A sua energia e entusiasmo são facilitadores de aprendizagens para alunos, professores e outros colegas. Seu contributo ficará na história de Évora, com a sua colaboração no projeto Évora Cãovida e sua colaboração na construção da Soroteca, em parceria com o Laboratório de Parasitologia Professor Vitor Caeiro”.

O sucesso da implantação do Projeto Cãovida dependerá da sensibilização e aceitação da comunidade para que somente assim possa haver adesão efetiva e maciça de toda sociedade. É essencial, portanto, estarem envolvidos a Câmara municipal, as  Juntas de freguesia, a Associação de Estudantes de Medicina Veterinária (AEMVUE), a Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central, outros profissionais da área, escolas,  faculdades, empresas, associações, entidades, grupos cívicos e religiosos etc.

“Cada qual, obviamente assumindo suas responsabilidades de gestão e de sensibilização perante seus pares, para que no final tudo se some em benefício da coletividade. Os objetivos da mobilização são para que diferentes segmentos da sociedade compartilhem do mesmo propósito desta boa prática de saúde pública”, afirma o professor.

“O compartilhamento desta responsabilidade social em benefício do coletivo estrutura a atuação dos atores dos diferentes segmentos, adaptando-os às referências da comunidade na qual cada um deles está inserido”, acrescenta.

O projeto Cãovida, portanto, segundo Modolo, colabora na compreensão da interface animal/homem/meio ambiente, dando corpo ao novo conceito mundial de atuação em saúde denominado “Uma Única Saúde”.

“Évora continuará, desta forma, dando exemplos e fazendo jus da conquista ao reconhecimento pela Unesco de Patrimônio da Humanidade. Por outro lado, é importante que se diga ainda que ações de saúde pública veterinária realizadas na origem constituem procedimentos racionais e econômicos para a proteção e manutenção da saúde coletiva, com consideráveis poupanças para as autarquias”, aponta o pesquisador.

Ao avaliar o período passado em Portugal, Modolo diz que profissionalmente é uma experiência válida propor ações em que as realidades cultural e social são diferentes e poder chegar a um denominador comum de tal modo que ações sejam aplicáveis na prática, economicamente viável e aceitável pelos interessados.

Inicialmente foram realizadas reuniões preparatórias de discussão sobre o assunto, em conjunto com a professora Manuela Vilhena, responsável pela Disciplina de Saúde Pública e com a médica veterinária Margarida Câmara, responsável pelo Serviço Veterinário Municipal,

Depois ministramos uma aula aberta aos alunos, professores e profissionais intitulada “Alguns fundamentos para a elaboração de um planejamento de saúde pública veterinária”.

Na sequência, o projeto foi finalizado, apresentado e aprovado pela Câmara Municipal de Évora. Posteriormente, foi assinada uma Declaração de Intenções entre a Câmara e o Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Évora para sua execução com a participação dos alunos.

“É difícil separar o pessoal do profissional, pois, a meu ver, as experiências acabam se relacionando, se equivalendo e vão se acumulando. Mas particularmente tive duas experiências pessoas. A primeira foi uma fratura completa e fragmentar que sofri no úmero direito, precisando ser submetido a uma complexa cirurgia. A segunda, durante a minha recuperação, minha mãe veio a falecer, no Brasil. Mas tudo foi superado. Tive a sorte de conhecer e estar convivendo com bons e verdadeiros colegas e amigos que prestaram soliradiedade nesses momentos”, conta. “Algo muito importante foi ter conseguido deixar as portas abertas para futuros projetos.”

Nesse sentido, Manuela Vilhena, Professora Auxiliar do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Évora, destaca que o professor Modolo “desenvolveu um trabalho muito rico e proveitoso em praticamente todas as áreas a que se tinha proposto”. Destaca o apoio letivo às Unidades Curriculares ligadas à Saúde Pública da Universidade de Évora; o desenvolvimento de um protocolo de investigação animal e infecção por Giardia, intitulado “Zoonotic Giardiosis. Risk assessment in the “One Health” approach”, apresentada a fundos europeus dentro da Infect-ERA 4th Call 2016; e o trabalho ligado à comunidade, apoiando o estabelecimento de protocolos de colaboração com as Associações de Estudantes (AEMVUE) e com a Câmara de Évora.

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