Pesquisadores da Unesp sugerem insetos no cardápio

Uso de insetos na alimentação humana ainda não é regulamentado no Brasil pelo Ministério da Agricultura

da EPTV

Mesa farta do lanche servido no campus da Unesp em Jaboticabal (SP) tem chocolates, pães, salgadinhos e pizza. Aos poucos, estudantes, crianças e professores se aproximam e começam a provar os quitutes – alguns com alguma ressalva, outros com mais entusiasmo. O motivo de tanta desconfiança são os recheios dos pratos – ao invés de morangos, doce de leite ou calabresa estão larvas de Tenebrio, que é uma espécie de besouro, e grilos.

A sugestão do consumo de insetos como alimentos foi apresentada durante um curso de entomologia agrícola, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), e despertou a curiosidade dos participantes que provaram pela primeira vez.

“É meio estranho, mas a gente tem que experimentar, porque o futuro vai ser esse. Não dá para ter nojo, porque a gente saber que é higienizado, limpo”, diz a professora Ângela de Bortolli.

O pequeno Mateus Brandão, de 4 anos, não se incomodou nem um pouco em comer chocolates com insetos. “É grilo? Gosto”, disse.

Saudável

Pesquisadores afirmam que o consumo de insetos na alimentação de seres humanos não faz mal à saúde, já que os animais são ricos em proteínas. Estima-se que o corpo de um inseto pode conter até 80% de proteína. Eles também são ricos em lipídeos de qualidade, fibras, vitaminas e minerais.

A criação de insetos seria uma alternativa para reduzir o impacto ambiental causado por pastagens, pois utiliza menos espaço de cultivo e é mais barata. Os animais se reproduzem em maior velocidade, e emitem menos gás carbônico, causador do efeito estufa.

O doutor em entomologia agrícola da UNESP de Jaboticabal, Diandro Ricardo Barili, explica que diversas receitas do dia a dia podem ser feitas incluindo insetos, e que isso facilita a inserção dos bichos na alimentação da população.

“Muitas pessoas colocam insetos em mini pizza. Ao invés de colocar um bacon, ou calabresa, acabam colocando o inseto porque ele é muito mais rico em proteínas e ele tem outras propriedades que são boas para nós. A gente pode também fazer uma farinha de insetos. Desta forma fica mais fácil para comer e é um alimento muito nutritivo para nós”, afirma.

Segundo o especialista, ainda há resistência das pessoas, mas os animais destinados à alimentação são criados em laboratório, com condições rígidas de higiene. Antes de serem usados como ingredientes, os insetos precisam ficar 48 horas sem se alimentar para que qualquer tipo de resíduo seja eliminado.

Curioso

Ainda de acordo com Barili, muitas pessoas comem, atualmente, por curiosidade ou brincadeira, mas, posteriormente, a mentalidade pode mudar pelo fato de os insetos serem saudáveis.

“Aos poucos, a gente acredita que o pessoal vai começar a comer. Hoje é mais por diversão, porque vê um amigo comendo e quer tirar foto para colocar nas redes sociais. É algo legal. Mas, quem sabe, com o tempo, o pessoal vai comendo, principalmente por ter bastante proteína.”

A estudante Maria Júlia Souza, que já provou insetos em outros alimentos, optou por provar um patê de lavras com torrada. A experiência, apesar de pouco comum para a maioria dos brasileiros, não a incomoda. “É normal. A gente tem estudado que é uma alimentação muito proteica. É bom para quebrar esses paradigmas de que inseto é nojento. É bom que seja introduzido assim”, diz.

Além de incentivar, Barilli também incluiu os insetos no próprio cardápio, e dá aulas de culinária para ensinar os interessados a introduzir formigas, larvas e grilos nos pratos do dia a dia.

“A gente coloca sal, orégano, manjericão, espreme um limão e fica bem gostoso. Tem gente que consegue fazer um aperitivo pra acompanhar a cerveja em um bar. Fica bem gostoso. É só saber preparar”, afirma.

Apesar disso, o uso de insetos na alimentação humana ainda não é regulamentado no Brasil pelo Ministério da Agricultura.

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