OPINIÃO | Presidentes estão nus!

Bilhões já foram destinados para os interesses destes em escambo pela continuidade do governo corrupto

por Daniel de Carvalho

Em meio à vida líquida e teatral, de anúncios e publicidade em uma realidade onde não se lê ou estuda o cotidiano do próprio bairro, máscaras e espetáculos, entre colarinhos brancos e gravatas bem vestidas, regem o cotidiano onde o elo de confiança entre cidadãos e representantes do poder público se sustenta com a aparência do outdoor, equipes alinhadas com mídias e jornais, propagandas em rede social, e contato “direto” através dos canais públicos. Seguros de que o poder está bem construído no tripé Executivo (prefeitura, governos e presidências), Legislativos (Câmaras e Congresso), e Judiciário (Fóruns e Varas), ignorando o quarto poder, a mídia, cidade a cidade, interesse a interesse, os grupos econômicos e políticos donos do poder desde a Capitania Hereditária alinham a estrutura pública para o interesse particular, enriquecem-se e salvam-se os seus, enquanto que nas migalhas seguem alimentando a boiada na trilha que bem quiserem sem qualquer satisfação ou prestação à população.

Estudiosos e hábeis, todo conhecimento é assegurado com sustentação jurídica e diretiva, máxima dentre todos, e toda força concentrasse na explosão impositora do poder econômico, comprando e vendendo, e alugando. Para o espetáculo de mídia, mais importante do que ser bem-sucedido é parecer ser um sucesso, e esta habilidade é essencial ao currículo de todos que ambicionem uma posição respeitável como bom marionete dos que nunca aparecem, os investidores e rentistas que lucram com a exploração.

E os fios que controlam os jogadores chegam até o alto escalão, aglutinando conselhos e presidentes, políticos e representantes de toda patente e honra. Dos ex-presidentes brasileiros, o mais resolvido talvez seja José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, filiado ao PTB (partido que, na votação da denúncia contra Michel Temer – PMDB, trocou deputado na Comissão de Constituição e Justiça em Brasília para assim votarem a favor de seu arquivamento) após crescer na Arena, base da ditadura militar, e passar pelo PSC dos extremistas religiosos. Integralista seguidor de Plínio Salgado, fora o penúltimo governador de São Paulo no regime militar, e liderava os desmandos na cartolagem futebolista sendo presidente da CBF de 2012 a 2014, época onde ficou famoso no Brasil por embolsar uma medalha na premiação da Copa SP de Futebol Junior. Mal saberia ele que este seria um episódio pequeno perto da trama internacional que viria a se revelar em 2015 ao ser preso na Suíça por fraude, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha em negócios envolvendo transmissão e acordos de marketing na América Latina. Hoje encontra-se em prisão domiciliar em “New York” sob custódia do FBI.

Outro ex-presidente que ficou mundialmente renomado recentemente foi Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – COB que comandou por 22 anos. Também atleta como Marin, Nuzman jogou voleibol, presidiu a CBV e revolucionou sua administração. Na última semana foi preso em operação inicial de mais um desdobramento da Lava Jato ao tentar regularizar 16 barras de ouro que estavam escondidas na Suíça, e é investigado por suspeita de compra de votos que teriam eleito em 2009 o Rio de Janeiro cidade olímpica de 2016. Nuzman teve um aumento de seu patrimônio em quase 500% nos últimos anos, e fora ligado à compra de votos por um e-mail onde filho de votante na eleição da cidade sede cobrava R$ 2 milhões que estariam atrasados.

E temos também o futuro ex-presidente do Brasil, Michel Temer, envolto agora também em mais uma denúncia. Destes, o único ainda em exercício de mandato, possui foro privilegiado que não pôde salvar seus colegas de prestígio presidencial, podendo assim articular “democraticamente” para se defender ao pé-de-ouvido de seus juízes, os deputados federais, qual seria o valor pela absolvição e arquivamento contra as supostas obstrução de Justiça e organização criminosa aliado a Eliseu Padilha e Moreira Franco, PMDBistas Ministro da Casa Civil e Secretário-Geral da União. Bilhões já foram destinados para os interesses destes em escambo pela continuidade do governo corrupto. Botucatu, por enquanto, lucrou nessa o ViaTemer enquanto o deputado da nossa região luta para manter Michel no trono.

Mas o que teriam os três ex em comum, além da turbulência moral em que meteram o Brasil e arrastam toda confiança consigo? O que teria de comum entre todos os que estão presos ou investigados ou ameaçados? Todos são formados em direito, conhecedores das leis e próximos aos legisladores e executores das normas que regem a sociedade, ricos magnatas ligados aos maiores construtores de leis, os deputados, ou articuladores de arranjos que justificariam ou esconderiam o compromisso.

Nasceram de sobrenome privilegiado e se próximos das luvas de pelica e corridas no hóquei aos finais de semana, chegaram lá “meritocraticamente” e por décadas defenderam o interesse privado em meio à estrutura pública, organizando o esporte, a olimpíada e as leis para que as camadas mais ricas se equilibrassem para que, assim, as mais necessitadas pudessem aproveitar migalhas maiores que caíssem de suas mesas. É uma verdade que enfim as marionetes do dinheiro estejam sendo revelados, mas é necessário que o mar neoliberal que alimenta esta construção e proteção seja esclarecida para que assim deixemos de apenas mudar a máscara sem revelar os reais e eternos presidentes dos vários Brasis que vivemos, os donos do dinheiro e poder, influentes no meio colonialesco de propaganda e autoritarismo, círculos obscuros que só se revelam a quem se rende a este mundo sinistro do toma-lá-dá-cá.

Isso tem que mudar e a alternativa não deve seguir os mesmos passos de todos os governos e administrações que vieram no Brasil pós-Cabral, com uma elite mandante e um povo ignorado, um excluído aceito dentro da casa grande enquanto fosse assim funcional, mas quando necessário seja açoitado no pelourinho e perseguido em praça pública. Isso tem que mudar, o dinheiro tem que parar de mandar, os valores têm que valer mais do que a propaganda e as mídias, e a luta por uma cidade e país igual tem que ser a toda hora todo dia.

Seguiremos juntos.

Só a luta muda a vida.

Daniel de Carvalho – Presidente do Partido Socialismo e Liberdade – PSoL 50 Botucatu, Conselheiro Municipal de Cultura, Membro da Comissão Municipal de Transporte Coletivo – CMTC, estudante de direito e empresário.

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