Mas afinal, o que é essa tal Cuesta?
A arquitetura do relevo Cuesta é formada por: reverso, front, sopé e seus morros testemunhos
por Patrícia Shimabuku*
A “Cuesta” é o símbolo do turismo regional, que encanta os mais diferenciados públicos com seu portfólio de recursos e atrativos turísticos. Mas afinal, o que é essa tal “Cuesta”?
Cuesta (palavra de origem espanhola = encosta) é uma forma de relevo assimétrico (altitude entre 550 a 950 metros), com desnível abrupto, apresentando frente escarpada (front) e o reverso com fraca declividade.
A arquitetura do relevo Cuesta é formada por: reverso, front, sopé e seus morros testemunhos. Os mirantes tão vislumbrados por nós, como por exemplo, a “Base da Nuvem”, “Pedra do Índio”, “Tirolesa do Gigante” estão localizados no “reverso”; já o “Morro de Rubião Júnior”, “Morro do Peru”, “Três Pedras” e o “Gigante Adormecido” são exemplos de “morros testemunhos”.
O relevo cuestiforme paulista se estende quase que continuamente na direção nordeste – sudeste do Estado, sendo atravessado pelos principais rios: o Tietê, o Paranapanema, o rio Grande, o rio Pardo e o Mogi-Guaçu. Os detalhes da formação dessa forma de relevo foram cuidadosamente descritos no “Atlas da Cuesta” do Instituto Itapoty. Vale a pena conferir o Atlas, é uma verdadeira aula de geologia, geografia e história natural.
Ao trafegar pela Rodovia Marechal Rondon notará placas marrons com ilustrações e dizeres em branco – são placas turísticas indicando que você está na região do Consórcio Turístico Polo Cuesta.
Em outro trecho da Rondon, encontramos a placa turística “Cuesta Basáltica – ajude a preservar esse patrimônio natural”. Tal placa é um indicativo de que a Cuesta não é somente um imponente atributo turístico, mas sim, um alerta sobre a sua vasta importância geológica, ambiental e social. Para isso, foi criado em 1983 a Área de Proteção Ambiental Corumbataí, Botucatu Tejupá/ APA Botucatu, um tipo de Unidade de Conservação, que abrange nove municípios da região – Avaré, Angatuba, Botucatu, Bofete, Itatinga, Guareí, Pardinho, São Manuel, Torre de Pedra. Essa APA visa proteger as Cuestas Basálticas, e os atributos ambientais e paisagísticos, como os morros testemunhos, os recursos hídricos superficiais, o Sistema Aquífero Guarani (mais especificamente, suas áreas de recarga), o patrimônio arqueológico, a vegetação e fauna típica de Mata Atlântica e Cerrado.
Para saber mais sobre a importância ecológica da Cuesta, além da leitura do Atlas, recomendamos a leitura do artigo Viagem virtual ao Aquífero Guarani em Botucatu (SP): Formações Pirambóia e Botucatu, Bacia do Paraná e uma visita ao MuMA Museu de Mineralogia da Aitiara – dicas que irão enriquecer seus passeios pela região.
Outras curiosidades
(1) O termo Serra não pode ser empregado como sinônimo de Cuesta. O relevo serra é um conjunto de montanhas e terrenos acidentados com fortes desníveis e muitos picos.
(2) Cuestas Basálticas ou Cuestas Arenítico – basálticas: são compostas por remanescentes de rochas vulcânicas (basalto) em áreas de rochas sedimentares (arenito).
(3) O Morro de Rubião Júnior e o Morro do Peru (Botucatu) não são vulcões adormecidos.
(4) As “pedras pretas” comumente presentes em cachoeiras e córregos de nossa região são exemplos de rocha vulcânica, o basalto, resultado do maior derrame de lava do mundo, ocorrido na Era Mesozoica, durante a separação da Gondwana. Para agricultura, o basalto é uma rocha importantíssima, pois o produto de sua decomposição é um solo de coloração avermelhada que origina os solos férteis – conhecido como terra roxa. Os imigrantes italianos pronunciaram “Terra rossa” que em português significa, terra vermelha.
(5) As “pedras de vários tons de vermelho e algumas recobertas por líquens” comumente presentes na “Pedra do Índio, Três Pedras e na Base da Nuvem” são exemplos de rocha sedimentar, o arenito, uma rocha formada pela compactação de sedimentos de areia (grãos) a milhares de anos.
*Patricia Shimabuku é farmacêutica industrial, professora e ativista socioambiental. Para ler todos os artigos da colunista, acesse aqui.