Jovens biólogos formados na Unesp Botucatu produzem livros sobre répteis e anfíbios da cuesta paulista
Obra é produto de Gabriel Jorgewich Cohen, Rafael C. B. Paredero, André Kanasiro e Vanessa Seiko
Por Vinícius Nunes Alves*
Após sete anos de labuta intensa e sistemática, quatro jovens biólogos publicaram recentemente o livro “Herpetofauna da cuesta paulista”. Para quem não sabe, herpetofauna é o nome que se dá ao grupo de animais que são répteis (jacaré, lagarto, serpente, tartaruga,…) e anfíbios (rãs, sapos,…).
O livro já tem perfil no Instagram (@herpetofauna_cuesta) com crescente número de seguidores, os quais podem participar eventualmente de sorteios dos dois volumes da obra. O primeiro volume é chamado “Princípios – Cuesta e Fauna”, no qual conceitua cuesta e fauna e traz informações sobre anfíbios e répteis em perspectiva global. O segundo – “Guia de campo” – descreve as espécies da região por meio de textos de fácil compreensão, de fotografias e ilustrações científicas de alta qualidade e chaves de identificação. Estudantes, profissionais e admiradores de herpetofauna podem adquirir o livro ainda com desconto aqui.
A obra é produto de Gabriel Jorgewich Cohen, Rafael C. B. Paredero, André Kanasiro e Vanessa Seiko. Nesta matéria para o Notícias Botucatu, entrevistei os autores Rafael Benetti e Vanessa Seiko – ambos são biólogos e egressos do Instituto de Biociências de Botucatu – Unesp. Atualmente, Rafael é mestrando em Zoologia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), consultor ambiental e técnico no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan. Depois da biologia, Vanessa se tornou ilustradora científica pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFMT) e especialista em Gestão e tecnologias ambientais pela USP.
Vamos então conhecer um pouco sobre essas duas personalidades, bem como sobre a bela e útil obra que assinam!
A Biologia é uma ciência autônoma, vasta e com inúmeros campos de atuação em diversas áreas. Quando começou o encanto destacado de vocês por herpetofauna? Foi fácil escolher esse grupo para trabalhar em meio a tantas outras possibilidades na Biologia ou mesmo na Zoologia?
Rafael – Não existe na minha vida um marco de quando decidi ser biólogo. Sempre desejei estudar biologia desde muito cedo. Todos os grupos zoológicos sempre me encantaram, porém eu sempre fui mais apaixonado pelos répteis e pelas aranhas. Durante a graduação eu trabalhei com os dois grupos e a decisão mais difícil foi para qual grupo eu me dedicaria mais. Foi nesse meio tempo de indecisão que fui convidado pelo Gabriel a ser co autor do livro e daí em diante foi onde decidi cair de cabeça nos estudos de herpetofauna.
Vanessa – Comecei a me encantar pela Herpetofauna quando fui fazer o Aprimoramento profissional no Instituto Butantan, onde cuidado de alguns terrários e fazia algumas atividades laboratoriais. No meu caso, como trabalho com ilustração científica gosto de trabalhar com diversos grupos de animais, mas gostei muito e aprofundar meus conhecimentos na área.
Vocês anunciam que o livro tem um dos guias mais completos de répteis e anfíbios… Isso seria em nível nacional? Podem comentar um pouco sobre isso?
Rafael – Entre os guias regionais que existem hoje, o nosso é um dos mais completos. Pois ele traz informações gerais sobre a diversidade da herpetologica mundial, assim como aborda questões evolutivas do grupo. O guia em si é o segundo volume que conta com fotos, descrições e chaves de identificações das espécies, sendo um guia extremamente didático e de fácil compreensão até mesmo para os entusiastas na área.
Vanessa – Esse livro é mais que um guia, ele tem informações sobre a evolução e a diversidade de anfíbios e répteis de forma global. Além disso, há informações sobre relevos e espécies que estão presentes na Cuesta.
A cuesta paulista abriga espécies endêmicas, isto é, espécies que só ocorrem em determinados locais dessa região? E espécies ameaçadas de extinção?
Rafael – Não existe nenhuma espécie endêmica da cuesta até o momento. A região tem fragmentos de Cerrado, de Mata Atlântica e de ecótono entre os dois biomas, sendo que a herpetofauna conhecida ocorre nos três tipos de ambientes. Porém, existem espécies que são endêmicas de um bioma mas que ocorrem em outras regiões, como por exemplo o sapo Proceratophrys moratoi que é endêmico do Cerrado. Botucatu é a localidade-tipo desta espécie, que foi descrita em 1981 pelo Jorge Jim, pesquisador falecido da Unesp Botucatu. Essa espécie está criticamente ameaçada de extinção devido à perda de hábitat, tanto que já é considerada extinta em Botucatu. Outra espécie ameaçada de extinção e endêmica do bioma Mata Atlântica é a Bokermannohyla izecksohni, cuja localidade-tipo também é em Botucatu.
Vanessa – Quanto às espécies ameaçadas, tem algumas que não são endêmicas da cuesta paulista, mas podem estar extintas ou ameaçadas na região, como a Proceratophrys moratoi, popularmente conhecida como sapo-da-terra.
Todos autores participaram das identificações, das descrições, das fotografias e ilustrações científicas e de outras atividades em proporções similares? A obra captou a mistura de estilo e expertise que cada autor tem?
Rafael – Cada autor contribuiu com sua especialidade para a construção dessa obra. Eu contribui com a parte dos répteis, chave de identificação e fotografias, além das expedições em buscas de algumas espécies que precisávamos fotografar.
Vanessa – Nós participamos das decisões gerais, mas cada autor aprofundou em temas que tinha maior conhecimento e trabalhava. Quando tínhamos dúvidas ou precisávamos de mais informações, nós conversávamos e estudávamos para poder colocar as informações corretamente.
Vocês deram uma demonstração da importância e da sensibilidade que tem a profissão do(a) biólogo(a), uma vez que disponibilizaram uma obra que pode ser aproveitada para pesquisa, educação e contemplação. Apesar de todas as dificuldades desta profissão no Brasil, podem deixar uma mensagem positiva para todos estudantes, profissionais e admiradores da Biologia?
Rafael – Olhem a Biologia para além da profissão, como um estilo de vida que fará vocês quererem acordar todos os dias. Ser biólogo é muito mais do que ser apenas alguém que estuda os bichinhos, ser biólogo é ser curioso, questionador, procurar entender tudo o que acontece no meio e o porquê. Eu costumo dizer que biólogo(a)s não escolhem a profissão, já nascem assim. E por essas e outras que eu aconselho a todos que amam a Biologia a nunca desistirem, a lutarem, a resistirem e questionarem… nestes tempos tempos sombrios que vivemos. Afinal, o mundo precisa de nós.
Vanessa – Biologia é uma área fantástica! Sejam curiosos, permitam conhecer novas áreas e diferentes opiniões. É necessário também que aprendam a compartilhar conhecimentos tanto para quem é da área, mas principalmente para quem não sabe sobre o assunto. Vejo que muitas pessoas não gostam de Ciência por não entenderem, já que a linguagem é muito complexa e nós temos como um dos objetivos fazer com que todos entendam o que está escrito.
*Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – IBB/UNESP. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – UFU. Especializando em Jornalismo Científico – Labjor/UNICAMP.