O artigo analisou padrões de introdução de espécies de vertebrados não nativos
Por Vinícius Nunes Alves*
Pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) desenvolveram a primeira síntese ecológica baseada em evidências que quantifica os padrões ecológicos da introdução de espécies exóticas e invasoras no Brasil. Em geral, o estudo indica que o país está vulnerável a eventos de introdução de espécies não nativas pela região litorânea, pois essas regiões apresentam uma maior equivalência ambiental com as regiões de distribuição nativa para as 32 espécies de vertebrados introduzidos estudadas.
Os resultados do artigo científico publicado em 29 de julho de 2023 no periódico internacional Biological Invasions trazem o importante apelo para que o desenvolvimento de estratégias de prevenção e manejo de espécies exóticas e invasoras levem em consideração aspectos ecológicos fundamentais para a sobrevivência da espécie em ambientes não nativos.
Atualmente, o número de espécies exóticas e invasoras no país é incerto,e estima-se que existem pelo menos 1214 espécies exóticas estabelecidas no Brasil. Essas espécies foram introduzidas de forma acidental ou deliberada em um ambiente que não é o seu de origem, o qual frequentemente é inacessível para as espécies devido à existência de barreiras geográficas e ambientais.
Mas essas espécies só conseguem estabelecer populações sustentáveis no novo ambiente, se superarem as diferenças ambientais (ex.: clima e relevo) e ecológicas (ex.: predadores e outros inimigos naturais) que não existem na área de distribuição nativa dessas espécies. Ao superar essas barreiras, é possível que as espécies consigam persistir e estabelecer populações viáveis nos ambientes introduzidos, levando, em última instância, a impactos econômicos (ver reportagem sobre custos econômicos das espécies invasoras ao Brasil).
Um dos pontos importantes levantados pelo estudo recém-publicado, é o destaque de como as condições abióticas (ambientais) dos locais de introdução são importantes para o sucesso inicial da permanência das espécies. Para José Ricardo Pires Adelino – doutor em Biologia Animal e Vegetal e primeiro autor do estudo – “A proximidade climática entre os ambientes nativos e introduzidos é um fator fundamental para a sobrevivência da espécie em novos ambientes e, mesmo quando não há uma semelhança tão grande, é possível que as espécies consigam persistir nessas regiões a partir de um mecanismo ecológico denominado expansão de nicho ecológico”.
“Entretanto, isso requer tempo de ajuste da espécie no ambiente, e a colonização de ambientes mais divergentes em relação a sua distribuição de origem tende a ocorrer após longo tempo de introdução”, pondera o pesquisador. Outra ressalva dos autores é que este estudo foi direcionado para animais vertebrados terrestres introduzidos, sendo que os padrões gerais encontrados podem não ser representativos para outros grupos taxonômicos. Contudo, “a abordagem pode contribuir para orientar estratégias de tomada de decisão na prevenção e manejo de espécies exóticas e invasoras”, finaliza Ricardo.
Áreas de maior vulnerabilidade de introdução de vertebrados não nativos para o Brasil. Cores frias indicam menor probabilidade e cores quentes indicam maior probabilidade. Os círculos brancos e suas proporções indicam as localidade das principais Unidades Federais Portuárias e o volume de cargas movimentadas por navios respectivamente. Quadrados vermelhos mostram as localidade em que os primeiros registros documentados de ocorrências das espécies introduzidas foram obtidos [explicação dos autores no artigo].
*Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – UNESP/IBB. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – UFU/Inbio. Especialista em Jornalismo Científico – UNICAMP/Labjor. É membro colaborador do Blog Natureza Crítica – divulgação científica em meio ambiente e já foi Professor Substituto na subárea Filosofia da Ciência da UNESP/IBB. Atua como Professor de Ciências da Prefeitura de Botucatu.