Festival de Inverno de Botucatu recebe espetáculo de dança “Carta para não mandar ou Cantiga interrompida”

Entrada é gratuita e contará com recursos de acessibilidade

Da Redação

O espetáculo “Carta para não mandar ou Cantiga interrompida”, da Confraria da Dança, de Campinas, completa 20 anos de criação e para marcar a data, os artistas estão realizando uma turnê pelo interior do estado de São Paulo. A temporada vai passar por Botucatu, no dia 21 de julho, domingo, às 20h, no Teatro Municipal “Camillo Fernandez Dinucci”, integrando o Festival de Inverno de Botucatu. A entrada é gratuita e vale destacar que todas as apresentações da turnê contarão com recursos de acessibilidade para os públicos surdo e com deficiência auditiva.

A montagem autoral parte das lembranças da bailarina Diane Ichimaru, nos anos de convivência com sua avó, que foi tomada em seus derradeiros anos de vida pela demência e a doença de Parkinson. A sensação de descontrole e fragilidade do próprio corpo e pensamento foram alguns dos disparadores desta criação. “Essa obra aborda a incompletude, pois de fato de termos uma falta de domínio sobre o começo, meio e fim de nossos planos e ações, nossa vida poderá ser interrompida em qualquer instante”, reflete a artista.

Após 20 anos da estreia deste solo, sua temática permanece em sintonia com o momento atual. Apresenta uma linguagem poética impregnada da teia mestiça de costumes que delineiam a cultura do Brasil, recende a poeira de sótãos e porões, delicados perfumes de jardins de avós. Habita o terreno fértil da memória e do esquecimento, do diálogo interno decorrente do isolamento, do pensamento desordenado, transitório, fragmentário e lacunar.

A criação surgiu de um velho vestido herdado da avó da criadora-intérprete. O cheiro de guardado e o balanço da roda do godê despertaram memórias da avó, crocheteira de mão cheia, fazedora de pães, quitutes e compotas, que nos últimos anos foi tomada pela demência e Parkinson.

Essas lembranças do declínio físico e mental da avó inspiraram Diane quase duas décadas após sua morte, iniciando seu processo criativo. O tremor descontrolado das mãos, a fragilidade física e a confusão mental daquela mulher transformaram-se em dança e poesia personificadas na artista.

Corpo em transformação

Completando 59 anos, Diane continua protagonizando suas obras com dedicação plena. Ela busca expressividade através do movimento, modulando vigor e sutileza, e explorando a história acumulada em seu corpo. Envelhecendo, amplia as possibilidades para o futuro de sua dança.

O tempo a impulsiona a reinventar-se, sem perder a expressividade. Diane não se rende e busca novos espaços para sua arte, destacando a relevância da dança no corpo amadurecido em cena.

Concepção de cenário, figurino, iluminação e música

A concepção de todos os elementos de “Carta…” é pautada pela simplicidade. Figurinos e cenografia, ambos assinados por Diane Ichimaru, foram desenvolvidos entrelaçando-os à direção e criação coreográfica, conferindo um caráter autoral à obra. O vestido, costurado pela criadora-intérprete, ecoa o antigo crepe poá de sua avó, mas feito de malha rendada, pintado à mão em tons furtacor.

A iluminação concebida por Marcelo Rodrigues constrói espaços íntimos em recortes difusos passando da cor palha para o lavanda e o âmbar por de sol. Os movimentos de luz delicados fazem com que as transições se façam de forma quase imperceptível aos olhos da plateia.

O compositor, arranjador e pianista Rafael dos Santos compôs a trilha musical   especialmente para o solo, que incluiu a sonoridade nostálgica da seresta, a ironia do descompasso no dançante maxixe e o tom sereno e melancólico inspirado pelas composições de Erik Satie. Suas músicas estimulam a ação física da criadora-intérprete através de um jogo de oposições, provocações e cumplicidades com a narrativa poética do trabalho.

Serviço

Espetáculo Carta para não mandar ou Cantiga interrompida

Onde: Teatro Municipal “Camillo Fernandez Dinucci”

Praça Cel. Rafael de Moura Campos, 27, Centro, Botucatu-SP

Quando: 21 de julho de 2024, domingo, 20h

Entrada Gratuita – liberada meia hora antes, respeitando o limite da capacidade da plateia.

Instagram @confraria.da.danca

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