De acordo com a pesquisa, o Índice Nutricional de Saúde médio no Brasil foi de -5,89 minutos, variando de -39,69 minutos para bolachas recheadas a +17,22 minutos para o consumo de peixes de água doce. Entre os piores colocados também estão a carne suína (-36,09 minutos), margarina com ou sem sal (-24,76 minutos), carne bovina (-21,86 minutos) e biscoitos salgados (-19,48 minutos). Por outro lado, alimentos in natura como peixes de água doce (+17,22 minutos), banana (+8,08 minutos), feijão (+6,53 minutos); e arroz com feijão (+2,11 minutos) mostraram bom desempenho tanto para a saúde humana quanto para a sustentabilidade do planeta.
A pizza de muçarela se destacou negativamente com o uso de mais de 306 litros de água para uma porção média de 280 gramas. Além do impacto negativo para a saúde, um prato de carne bovina emite mais de 21 kg de CO₂ equivalente, enquanto a banana tem emissão de apenas 0,1 kg de CO₂ equivalente e utiliza 14,8 litros de água por porção.
“Nossas descobertas fornecem entendimentos valiosos sobre as consequências reais das escolhas alimentares individuais e institucionais, demonstrando seus impactos mensuráveis na saúde e no meio ambiente”, informam os pesquisadores no artigo.
Monotonia in natura
O levantamento avaliou o consumo dos alimentos em quatro agrupamentos regionais. Em comum entre as regiões brasileiras, está a dieta centrada em arroz, feijão, carnes bovina, suína e de frango. De forma geral, os pesquisadores também identificaram monotonia alimentar e consumo reduzido de alimentos nativos e biodiversos — essenciais para melhorar tanto a nutrição quanto a sustentabilidade.
Porém, o artigo identifica as piores médias do índice nos dois agrupamentos regionais que correspondem ao Nordeste e a parte da região Norte. Nessas regiões, a variação foi de -61,15 minutos para o consumo de carne seca até +41,43 minutos para o consumo de açaí com granola.
“Esses achados reforçam que a melhoria dos sistemas alimentares exige ações que vão além da promoção de informações sobre escolhas saudáveis e sustentáveis: é necessário garantir acesso real, contínuo e economicamente viável a esses alimentos, especialmente para populações em situação de vulnerabilidade”, afirma Marhya Júlia Silva Leite, primeira autora do estudo.
A pesquisa também chama a atenção para o contraste entre agricultura familiar e agronegócio, um desafio para a promoção de dietas saudáveis e sustentáveis.
“Em termos ambientais, o agronegócio é responsável por 70,45% do consumo de água no país, especialmente no que diz respeito à carne bovina que é o alimento mais intensivo em recursos e está associado a minutos perdidos por incapacidade. Por outro lado, a produção de alimentos como feijão, mandioca, frutas e hortaliças está intimamente ligada à agricultura familiar, que, apesar de ocupar uma parcela menor de terra em comparação ao agronegócio, desempenha papel fundamental no fornecimento de alimentos para consumo doméstico e na promoção da segurança alimentar”, alertam os cientistas.
“Políticas que incentivem a produção local e diversificada e o acesso a alimentos saudáveis podem ser orientadas por esses achados, promovendo sistemas alimentares mais resilientes, justos e sustentáveis. Também é uma oportunidade para valorizar a sociobiodiversidade brasileira, com estímulo ao cultivo e consumo de alimentos nativos que hoje são pouco explorados e consumidos em algumas regiões”, conclui a pesquisadora.
Vida saudável em números
Para calcular a carga benéfica ou prejudicial à saúde, os cientistas determinaram o índice em termos de minutos de vida saudável vinculados ao tamanho médio das porções dos alimentos mais consumidos no Brasil, considerando as características demográficas e as condições de saúde da população brasileira. A pesquisa utilizou informações do banco de dados de consumo alimentar da população brasileira derivados da Pesquisa de Orçamentos Familiares – Pesquisa Nacional de Alimentação (INA 2017-2018), da Classificação Nova de processamento de alimentos, da classificação dos sistemas alimentares regionais brasileiros identificados pelo Índice Multidimensional de Sistemas Alimentares Sustentáveis Revisado para o Brasil (MISFS-R), além de parâmetros ambientais.
Cada fator de risco alimentar foi multiplicado pela quantidade do respectivo componente de risco (em gramas) presente no tamanho médio da porção do alimento analisado – por exemplo, o teor de sódio em uma porção média de arroz. Em seguida, os riscos foram agregados e a estimativa líquida foi convertida de μDALYs (do inglês Disability-Adjusted Life Year, refere-se a um ano de vida saudável perdido) para minutos de vida saudável.
A pesquisa não abordou o consumo excessivo de açúcar como fator de risco para a saúde humana, dado ausente nas análises da Carga Global de Doenças, nem a influência de fatores como estilo de vida e predisposição genética. O artigo está disponível aqui.