Por Flávio Fogueral
Até que ponto um presidente pode usar a inteligência para desestruturar e destruir seus adversários? Qual o papel da imprensa em levar ao público uma situação que possivelmente mudará os rumos da maior potência militar e econômica do mundo?
São estes os dois principais questionamentos apresentados nos mais de 138 minutos de “Todos os Homens do Presidente” (All The President’s Men), filme rodado em 1976 e que retrata o trabalho de dois repórteres do Washington Post que dia após dia descobrem uma complexa rede de espionagem que desencadeia diretamente no ex-presidente norte-americano Richard Nixon, que governou os Estados Unidos de 1969 a 1974.
Após a constatação de um caso de arrombamento à sede nacional do Partido Democrata, os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein- interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman- percebem que a história apresentada pelas autoridades apresenta distorções. Por meio de seus contatos, Woodward começa a encontrar evidências de que o arrombamento não possuía nenhuma característica de roubo comum. Antes relegada às páginas internas do jornal, o assunto começa a apresentar detalhes que aos poucos forçam os repórteres a aprofundarem a pesquisa.
O arrombamento à sede do Partido Democrata fora apenas o fio inicial desta rede de espionagem. Uma complexa estruturação que envolvia desde agentes aposentados dos serviços de inteligência como a Agência Central de Inteligência (CIA), o Escritório Federal de Investigação (FBI), ex-militares e assessores ligados à Casa Branca, foram sendo apresentados no decorrer da narrativa.
Meses sem fatos concretos, desencontros e as famosas ‘portas na cara’. Ninguém queria se tornar testemunha de um assunto que passou a ter proporções maiores conforme a investigação avançava. É neste ponto que surge a figura do “Garganta Profunda”, o informante de Woodward que integrava o alto escalão governamental (em 2005 W.Mark Felt se revelava como o contato do jornalista e era o segundo na hierarquia do FBI). Fora por meio deste personagem que os repórteres passam a seguir o caminho certo: o do dinheiro.
Entre ameaças tanto aos jornalistas quanto ao Washington Post; conflitos de interesses e informantes dentro da própria publicação, os editores dão a chancela para que a dupla Woodward/Bernstein sigam as evidências, entrem em contato com as fontes adequadas para a reportagem. Era evidente e escancarada a existência de um esquema de lavagem de dinheiro. Ao publicar a matéria em que relaciona esta atividade ao assessor pessoal de Nixon o jornal comete um erro estratégico ao não ir cercando os responsáveis pelos crimes. Paralelo a isso, Nixo se reelegeria.
Antes obscuro, o caso começa a incomodar a Casa Branca. A Justiça norte-americana, que em outras ocasiões omitira-se, não vê outra saída senão investigar com maior ênfase as denúncias apresentadas. Em seus momentos finais, o filme apresenta o resumo das consequências. Desde prisões aos envolvidos até a saída de Nixon do poder, único presidente dos EUA a renunciar.
Todos os Homens do Presidente ilustra como a corrupção está enraizada em todos os gabinetes e pessoas que estão no poder. Nem mesmo o presidente da tida maior nação democrática do mundo escapara. Mostra como a imprensa participa ativamente deste momento ao levar as informações a um público alheio aos acontecimentos dos bastidores do poder. A película, em seus quase cinquenta anos de filmagem, é um retrato da forma como o jornalismo pode atuar não como força de investigação, mas como um olhar da sociedade que anseia respeito e competência dos governantes.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JORNALISMO INVESTIGATIVO, Marcelo Soares. Ex-diretor do FBI era o Garganta Profunda, confirmam Woodward e Bernstein. Disponível em: < http://www.abraji.org.br/?id=90&id_noticia=200>. Acesso em 5 maio 2013.
TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE (ALL THE PRESIDENT’S MEN). Direção : Alan J . Pakula, Produção : Walter Coblenz. Estados Unidos, 1976, 1 DVD.