Caio Induscar propõe redução de jornada e salários para evitar mais demissões

Com isso, a empresa espera adequar sua situação financeira e evitar novas demissões

por Flávio Fogueral

A crise que a Caio Induscar enfrenta tem novo capítulo com a apresentação de uma proposta de acordo que prevê a redução da jornada de trabalho e de salário dos trabalhadores de suas fábricas em Botucatu e Barra Bonita. A situação atinge também outras empresas do grupo como a Fiberbus (de peças de fibra); Inbrasp (de peças de plástico); Tecglass (de vidros); CPA (Centro de Processamento de Alumínio); GR3 (Centro de Distribuição de Alumínio). A proposta ainda será apreciada por sindicatos e trabalhadores e irão a voto na próxima quarta-feira, 8 de julho.

Com isso, a empresa espera adequar sua situação financeira e evitar novas demissões. Desde o início do ano, mais de 600 pessoas foram dispensadas pelo grupo, além de três períodos de férias coletivas. Antes do agravamento da crise, o quadro funcional era superior a 4 mil pessoas.

Em comunicado enviado à imprensa na tarde desta sexta-feira, 3 de julho, a empresa informa que sua direção apresentou a sindicatos e os empregados da empresa o Acordo de Redução de Jornada. A proposta consiste em “redução em 20% da jornada de trabalho (um dia a menos por semana, sexta-feira) e de salário, para todo o grupo, todos os setores (administrativos e fabris) e todos os níveis hierárquicos.” A medida, segundo a empresa, tem o prazo de três meses, podendo ser prorrogada por mais três meses, sendo reavaliada medida que houver maior volume de vendas e de disponibilidade de chassis.

Caso o acordo seja aprovado, o primeiro dia deste novo regime será 17 de julho. A empresa garante que neste período nenhuma nova demissão será promovida. O comunicado enviado salienta que a Caio Induscar fará o adiantamento da primeira parcela do 13º salário em três parcelas, além de iniciar negociações dos prazos dos empréstimos consignados, junto aos bancos conveniados. Outros benefícios como planos de saúde e vales-alimentação, transporte e outros programas sociais também estariam garantidos.

 

 

Segundo o documento enviado, alguns esforços anteriores foram feitos, sem efeitos satisfatórios para amenizar a crise, como compensação da semana do carnaval, emenda de feriados e três períodos de férias coletivas (dezembro de 2014 ; fevereiro e junho de 2015).

 

“É mais prudente reduzir o salário em 20% do que ficar sem emprego e sem os benefícios, principalmente num momento complicado da economia, quase sem oferta de empregos”, ressalta o texto da nota enviada e assinada pelo diretor industrial da empresa, Maurício Lourenço da Cunha.

Desde o início deste ano a Caio Induscar enfrenta dificuldades financeiras com redução de investimentos e o corte de mais de 600 funcionários. As últimas demissões, de 150 pessoas, ocorreram em 18 de maio quando Cunha, diretor industrial da empresa, concedeu entrevista ao programa Bom Dia Criativa, da Rádio Criativa FM. Relembre o caso aqui.

As dificuldades enfrentadas pela Caio Induscar se agravaram em 2014, devido a queda de 15% no volume de vendas e fabricação de carrocerias de ônibus devido a incertezas na economia brasileira. Além disso, mudanças de normas para compras de ônibus pela prefeitura de São Paulo fizeram com que a empresa recolhesse 180 ônibus para adaptações de projeto. Agora os ônibus da capital paulista têm que contar com sistema de ar-condicionado, por exemplo.

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Outra preocupação foi quanto à compra de ônibus para o Programa Caminhos da Escola, do governo federal, que prevê a renovação da frota de veículos usados no transporte escolar.

Mesmo diante da crise, a Caio Induscar terminou 2014 como a líder  nacional em produção de ônibus urbanos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus). O investimento da empresa em Barra Bonita, estimado em R$ 30 milhões, não deve ser adiado, com previsão da nova unidade funcionar a partir do primeiro trimestre deste ano.

Empresa tem fábrica em Botucatu desde 1982

A Caio Induscar tem seus escritórios centrais na cidade de São Paulo e seu parque fabril, de 445 mil m² e 101 mil m² de área construída, está localizado em Botucatu. A capacidade de produção da empresa é de 40 carrocerias de ônibus urbanos ao dia. Além do Brasil, o grupo atua fornecendo ônibus para a África do Sul, Angola, Chile, Costa Rica, Equador, Jordânia, Líbano, Nigéria, Peru, República Dominicana, Taiti, Trinidad Tobago, entre outros.

Fundada em 1946, a Caio Induscar inaugurou seu parque fabril em Botucatu no ano de 1982. No final da década de 1990, dificuldades financeiras e problemas administrativos fizeram com que a empresa entrasse em processo de falência. Em 2001 um novo grupo foi formado através de investidores com a empresa Induscar, passando a gerí-la.

Recentemente a Caio Induscar passou a utilizar a estrutura fabril da antiga Staroup para seus escritórios centrais e também disponibilização de espaços para empresas prestadoras de serviços.