Uma breve conversa sobre um estágio de Agroecologia em Botucatu-SP!

A agroecologia é uma área relativamente jovem na Ciência

Henrique Aguiar de Oliveira, biólogo em formação (UFU) que tem como sua principal área de interesse, a Agroecologia

Por Vinícius Nunes Alves* 

Esta postagem será mais uma com formato de mini-entrevista. Desta vez, a fonte será o jovem Henrique Aguiar de Oliveira, biólogo em formação (UFU) que tem como sua principal área de interesse, a Agroecologia. Com todo seu interesse, ele já acumula experiências de estágio com Sistemas Agroflorestais (SAFs) em áreas de Mata Atlântica. Henrique é da cidade de Pará de Minas, próxima à capital mineira Belo Horizonte. Apesar da distância, Henrique não hesitou em passar um mês inteiro (fevereiro/2019) em Botucatu para fazer um estágio em Agroecologia, especialmente para conhecer alguns SAFs daqui e aprender com visitas e trabalhos de campo, junto a pequenos proprietários rurais.

1) A agroecologia é uma área relativamente jovem na Ciência que promete integrar os interesses agronômicos, ecológicos e sócio-econômicos priorizando insumos, tecnologias e relações ecológicas dos próprios sistemas onde se vive e/ou trabalha. Vale destacar também que desde 2012 temos a Política Nacional de Agroecologia (Decreto Nº 7.794), ou seja, é uma área promissora e desafiadora que vai além do mundo acadêmico. Henrique, seu interesse em estudar e praticar a Agroecologia começou na graduação ou antes? Quais experiências originaram em você o interesse de fazer estágios com SAFs?

Conheci a Agroecologia durante a minha graduação. Todo ano, o curso de Ciências Biológicas da UFU realiza um evento chamado “Semana Biocientífica”, composto por palestras, minicursos para os alunos do curso e de quem mais se interessar no campus. No meu 1º ano, o evento teve a temática principal sobre Agroecologia. Foi daí que conheci brevemente o que era esse tema, em consonância com um grande amigo que fiz durante esse tempo de graduação, Miqueas. Miqueas foi o primeiro a me mostrar a Agroecologia, me emprestou livros e contou bastante sobre a vivência dele com a temática. 

O que me despertou o maior interesse no tema e em pôr em prática foi uma certa identificação pessoal e profissional.  Meu avô era um pequeno agricultor e ele possuía um pequeno terreno perto de Pará de Minas. A geração do meu pai e de seus irmãos mudou-se para a cidade para arrumar emprego, mas a maioria nunca cortou os laços de onde nasceram e foram criados, que foi na zona rural. Foi daí que surgiu essa ideia de me especializar na área, conhecer mais contextos de SAFs e maneiras de restauração ecológica  e, além disso, mudar a perspectiva do meu pai e irmãos da antiga propriedade dos meus avós.

2) No seu estágio em Botucatu, realizado através do Instituto Giramundo Mutuando, você colaborou com projetos já em andamento do instituto como “Semeando o Futuro”, “Arma-Zen” e “Colabore”. Pode comentar algumas atividades que realizou em cada um desses três pojetos?

Bom, eu cheguei no início do calendário anual do Instituto, então algumas atividades e projetos estavam adiadas naquele momento. Mas consegui participar de várias atividades, como no “Arma-Zen” que eu montava cestas de orgânicos vinda de produtores de Botucatu e região que o Instituto estava fazendo parceria. Também passei alguns dias ajudando a organizar a futura cozinha do “Colabore”. Posso dizer que “Semeando o Futuro” foi um dos projetos mais marcantes que participei. Conheci Luciano e Edna, coordenadores do projeto e os jovens que faziam parte do projeto. Tive oportunidade de acompanhá-los em uma ida até um paredão rochoso perto da trilha de ferro, onde minava água. Isso me despertou um lado de lecionar a qual eu não tinha tanto interesse. 

3) Além das atividades internas do Instituto, a sua principal motivação de vir até Botucatu, que também estava no planejamento do seu estágio, foi a de conhecer e trabalhar em SAFs que estão na rede de contatos do Instituto Giramundo Mutuando. Então pelo menos em uma parte da sua estadia em Botucatu, você ficou em campo conhecendo e ajudando em SAFs de Botucatu? O que você destaca de aprendizados nessa experiência rural mais intensa?

Conheci o SAF do Léo, próximo ao bairro de Anhumas. Lá tive a companhia de Gabriel, Bruno e Gustavo. Foi no sítio que passei a maior parte do tempo que estava fora do instituto. Lá, sim, desde que acordávamos, quase todo o trabalho e as conversas eram sobre Agrofloresta. Pude ver de perto como pode funcionar um SAF que já está em um estágio mais avançado e como manejá-lo. Também visitei um SAF com horta de amigos do Léo. Foi interessante ver SAFs diferentes na sua estrutura e idade. Sem dúvida, todas as discussões e laços construídos, foram os momentos mais marcantes da minha viagem. Sou muito grato por ter conhecido eles.

4) SAFs são sistemas que fazem diferentes usos do solo numa mesma área de manejo. Cada uso do solo tem a sua função, seja de conservação da biodiversidade, de economia ou de divisão social de trabalho, e essas funções são vistas como cooperativas e não antagônicas. Resumindo, se SAFs forem cada vez mais adotados es espalhados, serão uma forma da sociedade se aproximar da chamada sustentabilidade. Por exemplo, um SAF pode ser uma mesma área de manejo que divide três setores: um fragmento florestal nativo com plantas lenhosas (árvores, arbustos, palmeiras), ao lado uma horta ou plantação de culturas agrícolas normalmente orgânicas (café, milho, soja,..) e, ao lado uma pastagem com gados e galinhas caipira. Como são os SAFs que você trabalhou durante seu estágio em termos de solo e vegetação? Para você, esses SAFs estão em um estágio produtivo, ou seja, produzem alimentos e renda de forma rotativa para a família proprietária?

Léo trabalhava com um sistema de integração com a criação de gado (vacas para ordenha) e a floresta com plantas cultiváveis de sombra (agrofloresta). O pasto era dividido em piquetes, conciliado com algumas áreas de SAFs. Esse manejo dos animais reduzia bastante os danos causados pela presença do gado, como superpastejo ou pisoteamento. O estágio do SAF já era bastante avançado, mais de 10 anos, com uma complexidade maior de espécies. A quantidade de cobertura vegetal fazia toda diferença na qualidade e estrutura do solo. E isso dava oportunidade de começar a focar nas plantas de ciclo longo, por exemplo as frutíferas. Das vacas, retirava-se o leite orgânico para a produção de queijo fresco. Além disso, grande parte da alimentação suplementar das vacas, era retirada dos SAFs do Léo. Utilizava-se o napiê, feijão guandu e os frutos da macaúba como acréscimo de proteína e gordura. 

Os SAFs, além de ser uma alternativa de restauração ecológica, podem ser produtivos e garantir a segurança alimentar e nutricional das famílias. Sistemas de plantio, atualmente, são muito arriscados, principalmente devido às mudanças climáticas. Apostar em uma diversificação do plantio reduz o risco econômico de perder todo o investimento, o que gera e diversifica a renda do(a) pequeno ou médio agricultor(a) que pode vender seus produtos localmente e regionalmente.   

Atenção!

Para leitores e leitoras que quiserem saber mais sobre Agroecologia e Sistemas Agroflorestais (SAFs), vale começar pelas palestras e textos que estão disponibilizados pelo Grupo Timbó de Agroecologia da FCA/UNESP, campus do Lageado (https://www.fca.unesp.br/#!/extensao/grupo-timbo/palestras-e-textos/).

*Vinícius Nunes Alves é Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas – IBB/UNESP. Mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – UFU. Especializando em Jornalismo Científico – Labjor/UNICAMP . Professor Escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.